por Paulo Maia
O historiador israelense Yuval Noah Harari enfatiza em sua obra “Sapiens – Uma breve história da humanidade” que “a maior diferença entre os seres humanos e todos os outros animais não está a nível individual, mas a nível coletivo. Os seres humanos dominam o planeta porque são os únicos animais que cooperam com flexibilidade e em grande número”. E a cooperação ocorre quando esse coletivo se identifica com uma história, uma ideia que nasce de uma determinada necessidade que, na maioria das vezes, é da própria sobrevivência. Mas há algo também no ser humano que desperta ações colaborativas e está relacionado ao histórico evolutivo da espécie. A capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente cria a empatia. E assim surge a solidariedade entre indivíduos que realizam ações concretas para demais outros, como se fosse para eles próprios. E, em certa medida, o resultado é compartilhado mutuamente com satisfação e alegria.
Um grupo de cinco pessoas lotou um caminhão com doações e seguiram para ajudar os sobreviventes da tragédia em Mariana (MG) que ocorreu em 5 de novembro de 2015 com o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco. Ali, entre essas pessoas, estavam Elis Pedroso e Luciana Novelli que, após um pouco mais de 3 anos depois se reencontraram para, infelizmente, atender na tragédia de mais um rompimento de barragem, agora em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. E nesta ação, com a experiência que tiveram em Mariana, somada a abertura de feridas que ainda cicatrizavam por conta daquela tragédia, elas entenderam que ajudar era o mínimo que podiam fazer, pois testemunharam o total despreparo e inoperância das autoridades para lidar com calamidades, além de disputas de líderes políticos e religiosos para proveitos puramente vergonhosos de pseudo protagonismo. Então, algo um pouco mais concreto viria a nascer disso. E de forma espontânea nasce o Feito Formiguinhas.
Simples e pragmático, o Feito Formiguinhas não é uma ONG ou sequer uma entidade jurídica. Trata-se de pessoas com um objetivo em comum: ajudar quem precisa de ajuda. São profissionais que vem de diversas áreas: comunicação, publicidade, psicologia, fotografia, veterinária e demais empreendedores que organizam tempo em suas agendas para o trabalho voluntário. O que os unem não é ideologia nem religião, mas uma atitude colaborativa e, claro, solidariedade.
Recolhem doações de todos os lados e toda a ajuda é bem-vinda. Pode ocorrer de diversas maneiras. Através de doação por depósito bancário ou mesmo comprando as cestas básicas direto de um distribuidor credenciado. Influenciadores, artistas e empresas são encorajadas a participarem das doações ou apresentarem sugestões de como podem ajudar. Líderes comunitários indicam onde é seguro receber e garantir a devida distribuição tudo dentro de normas de higiene e, especialmente nos dias de hoje, de forma a não haver aglomerações.
Esses voluntários levam essas doações a lugares onde autoridades e políticos não tem coragem ou decência em ir e suas ações são transparentes ao prestarem contas do que recebem indicando o que foi doado, para quem, onde e quando. Números são constantemente atualizados no site do Feito Formiguinhas (ver link abaixo) e, no momento em que escrevo esse texto, já haviam sido entregues 7.178 cestas básicas, tendo mais 1.287 prontas para serem levadas às pessoas e mais 460 a caminho, chegando a 98,17 toneladas! 4.760 Marmitex já alimentaram 49.385 pessoas; foram distribuídos 1.555 cobertores e 5.500 máscaras para esta época de Coronavírus!
O grupo é bastante concentrado em suas ações para que tenham certeza de que as doações cheguem para as pessoas e não fiquem perdidas em algum lugar por aí. No site descrevem como são bastante didáticos e específicos em como fazem as coisas no sentido de esclarecer o processo, para que não se perca de vista o mais importante: uma pessoa ao final dele sendo beneficiada com a ação.
A prestação de contas apresenta algo a mais no cenário do que o mero gesto decente de deixar público o que faz com o dinheiro ou a doação de outras pessoas. Indica sobretudo um gesto cívico, de cidadania, de respeito e dignidade especialmente para quem recebe. Pois não devemos nos enganar em achar que quem recebe não se importa de onde vem ou como vem a ajuda. Claro que há o sentimento de gratidão, mas ser considerado como um cidadão, para além da questão humana, sem a troca necessária por um voto ou para pertencer a uma congregação religiosa, eleva a autoestima e pode produzir, sim, mudanças de comportamento. Não é algo imediato, sem dúvida. Acontece a longo prazo. Mas tudo começa com o trabalho de uma formiguinha.
Conheça o projeto visitando o site e considere participar.
Além de alimentar ou agasalhar alguém,
de uma forma ou de outra, você também é impactado.
Visite o site: https://readymag.com/u2333842707/feitoformiguinhas/
Imagem destacada da Publicação:
Imagem por Feito Formiguinhas
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