Filhos com autonomia

Cynthia Passianotto

Algumas dúvidas mais frequentes de pais nos consultórios de psicoterapia são: Como não superproteger meu filho? Como posso dar liberdade ao meu filho se o mundo está tão violento? Como posso estabelecer limites? Como desenvolver a autonomia do meu filho? Como posso desenvolver a responsabilidade com ele?

Na maioria das vezes emergem questões sobre liberdade (versus independência), responsabilidade (que é a capacidade de comprometer-se), limites e autonomia.

Bom, primeiramente todas essas questões estão ligadas e se complementam. Porém, acredito que responsabilidade, limite e liberdade estão inseridos no conceito de autonomia. Não há autonomia sem liberdade e responsabilidade! Por isso vou começar por aí.

O conceito de autonomia é extremamente abrangente, porém, filosoficamente consiste na qualidade de um indivíduo de tomar suas próprias decisões ou na capacidade de estabelecer relações numa via de mão dupla, implicando iniciativa, responsabilidade e decisão. Sendo assim, podemos dizer que autonomia é a capacidade do indivíduo de caminhar com as próprias pernas, pensar por si, decidir, escolher conscientemente, superar seus obstáculos, enfrentar as consequências dos próprios atos – os famosos erros e acertos.

Hoje nós – pais – sabemos que desenvolver a autonomia é extremamente importante para os nossos filhos. Virou o assunto da moda, foco da mídia! Mas realmente sabemos o que significa autonomia? Refletimos sobre o assunto? Estamos realmente educando nossos filhos para que sejam autônomos? Sabemos qual a importância da autonomia na vida dos nossos filhos?

Vejo que o que acontece com os pais hoje é que o desenvolvimento da autonomia fica somente na teoria e, na hora da prática, muitos não sabem como agir. Acredito que a maioria dos pais de adolescentes tem muita dificuldade em deixar os filhos crescerem. Os pais cuidadosos de hoje tem muito medo de “soltar os filhos nesse mundão aí afora”, mesmo sabendo que por fim tem que fazê-lo. Nós pais, infelizmente, não podemos assumir a responsabilidade escolar, ou a escolha de amigos e muito menos os planos futuros dos nossos filhos. Não podemos vigiar ou seguir nossos filhos por toda parte ou em todas as horas do dia! Essa é a mais pura verdade! Por isso, a única coisa que podemos fazer é (re)afirmar nossas posições, ações e opiniões sobre os assuntos relacionados à vida e arte do viver e lhes oferecer amor, carinho, apoio e limites.

Lembre-se que desenvolver a autonomia nos filhos é trabalhar a capacidade – dele e sua – de estabelecer relações numa via de mão dupla, implicando delegação de iniciativa, de responsabilidade, de decisão e de possibilidade de falar por si, bancando acertos e erros.

Será que estamos dando espaço e orientações adequadas para que nossos filhos se desenvolvam enquanto seres autônomos?

Se sua resposta for não, ou se for talvez, pode ter certeza que seu filho corre o risco de se tornar um adulto dependente, inseguro, ansioso, nervoso, com baixa autoestima, etc.

Aí vai um clichê que não tenho como deixar de mencionar: você pode estar superprotegendo seu filho e, a consequência pode trazer mais malefícios do que benefícios!

Bom, e o que fazer para não superproteger? Ainda dá tempo de reverter a situação?

Quanto antes melhor! Primeiramente ressalto: não faça por seu filho o que ele já tem capacidade de fazer! E isso vale para todas as idades e em todas situações!

Quando você faz algo que seu filho tem capacidade de fazer a mensagem que você está enviando para ele é: Você não é capaz de agir sozinho! E isso é muito sério, pois a mensagem vem de alguém muito importante para sua vida!

Não tire o direito do seu filho de cometer seus próprios erros. Nos intrometer quando “achamos” que nossos filhos não dão conta ou que vão falhar é simplesmente roubar delas uma oportunidade única de grande importância: os erros são experiências com as quais aprendemos! São laboratórios na nossa vida!

Se ficarmos tentando poupá-los dos fracassos estamos afirmando a eles que não acreditamos que sejam fortes o bastante para lidar com os obstáculos.

Quando nossas crianças e adolescentes conseguem encarar os erros como parte do aprendizado, a autoestima, autoconfiança, amor-próprio, segurança aumentam e suas potencialidades se expandem!

Por isso, a cada nova etapa da vida do seu filho, a cada nova empreitada que seu filho ousa fazer, ou questionar, a cada passo de liberdade que seu filho quer dar, você deve se perguntar: Será que é meu filho ou eu que não estou preparada para lidar com esse passo?

Seja bastante sincera com você mesma ao refletir sobre essa questão!

Mas como oferecer liberdade sem exagero? Quais os limites que devemos colocar nesta tão falada liberdade?

Introduzindo as noções de responsabilidade e respeito. Quando falamos em liberdade, falamos em respeito ao outro e em respeito a si mesmo.

Uma estratégia interessante e eficaz de se fazer é a cada liberdade dada ao seu filho exigir uma responsabilidade, e, estar sempre por perto para orientar no início de cada passo.

A liberdade deve ser gradual, dada em passos pequenos.

Cabe a você – pai e mãe – gerenciar esses passos, tentando não ser autoritário ou ser permissivo. Pois tanto o autoritarismo quanto o permissível sufoca, um por escassez outro por excesso!

Isso nós até compreendemos, e sei que você deve estar pensando que é muito fácil falar sobre o assunto! Tudo isso fica extremante bonito e fácil na teoria. Mas por que é tão difícil na hora da prática? Porque essa questão no dia-a-dia se torna tão complexa?

Na verdade, desenvolver autonomia em nossos filhos é um processo puramente emocional e, portanto, falar de teoria neste momento não ajuda muito, pois muitos pais inevitavelmente estarão tendo que lidar com suas próprias questões inacabadas e problemas relacionados a essa questão.

Por isso educar é uma tarefa tão difícil: para educar temos que nos reeducar! Temos que recriar nossa própria educação. Temos que lidar com questões mal resolvidas da nossa própria educação!

Educar é extrair o que há de melhor no seu filho em corpo, mente e espírito! Educar é preparar para a vida, para o mundo lá fora!

Vamos desde já começar a soltar um pouco mais nossas crianças e adolescentes e enxergar nossos filhos como um ser humano separado de nós, independente e que possui os próprios direitos!

Cynthia Wood Passianotto  é psicóloga e escreve quinzenalmente na Dolce Morumbi. Acompanhe a Cynthia também em suas Redes Sociais: @cynthia_wood_passianotto @crescendoeacontecendo

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