Cainã Cavalcante toca Garoto

Por Cainã Cavalcante

Tocar o repertório do Garoto (Anibbal Augusto Sardinha, 1915-1955) é a verdadeira realização de um sonho! Desde que iniciei a minha caminhada com o violão, sempre ouvi falar da obra do “gênio das cordas”, quase como uma figura mitológica, na minha imaginação de criança.

Crescendo, e intuitivamente, segui caminhando sob a luz que o Garoto emana. Com tamanha modernidade em suas harmonias, inteligência nas composições, fluência na execução e um monte de outras coisas tão bonitas de se ver e ouvir.

Impossível, para mim, que admiro tanto essas qualidades, não me apaixonar pelo universo “Garoteano”.

Fruto natural desse encontro, gravamos o álbum “Sinal dos Tempos – Cainã toca Garoto”. E para esse mergulho, tenho o privilégio de ter Guto Wirtti, no contrabaixo acústico, e o mestre absoluto da bateria brasileira para o mundo, Paulo Braga. Optamos por tocar esse lindo repertório de forma espontânea, alegre, profunda…fluindo ao vivo, em estúdio.

Atenção e máximo respeito à matriz, trazendo para o meu coração e para o meu violão toda a poesia das composições do Garoto.

Cainã Cavalcante | Foto: Tainá Cavalcante

Cainã e Garoto

Por Lucas Nobile

Dos milhares e milhares de compositores e compositoras surgidos na história da música brasileira, poucos são tão afortunados quanto Annibal Augusto Sardinha (1915-1955), o popular Garoto. Para sustentar tal afirmação, basta um argumento. A exemplo de outros grandes inventores — como Pixinguinha, Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga, Ary Barroso, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Villa-Lobos e Jacob do Bandolim –, Garoto continua a ter sua obra estudada e interpretada gerações após gerações.

Quase sete décadas depois da morte do compositor paulistano, como explicar tamanha longevidade artística? Simples. Em apenas 39 anos de vida, Garoto deixou para a posteridade uma obra de extensão e de profundidade oceânicas. Assim, a cada incursão, a cada mergulho, o público vê emergir novos tesouros.

Foi assim com o pioneiro pesquisador e contemporâneo de Garoto, Ronoel Simões; com Geraldo Ribeiro e com o fundamental Paulo Bellinati. O mesmo fascínio se deu com o amigo e discípulo do multi-instrumentista, Zé Menezes. Mais tarde, vieram os discos de Henrique Cazes e Marcello Gonçalves, do Caixa Cubo Trio, de Paulo Serau; as biografias escritas por Jorge Mello (baseada nos riquíssimos diários deixados pelo próprio Annibal) e por Irati Antônio e por Regina Pereira, livro de partituras e as iniciativas capitaneadas por Myriam Taubkin (no álbum “Viva Garoto”) e, mais recentemente, por Rafael Veríssimo (no documentário “Vivo Sonhando”).

Agora, pelas mãos e pelo coração de Cainã Cavalcante desponta mais um tributo ao “Gênio das Cordas”, digno de figurar na primeira prateleira dentre as já citadas homenagens.

Primeiro, pela original formação instrumental do álbum “Sinal dos Tempos – Cainã toca Garoto”. Mais importante do que isso, pelas pessoas escolhidas pelo violonista para ladeá-lo neste mergulho no universo “garoteano”: Guto Wirtti, no contrabaixo, e Paulinho Braga, na bateria. Com um time formado por exímios criadores em seus instrumentos — muito mais do que meros reprodutores de notas impressas nas partituras –, optou-se por não girar muito a lâmpada previamente no que diz respeito aos arranjos. Ainda que se conheça a capacidade inventiva destes três instrumentistas, não deixa de ser absolutamente surpreendente a beleza deste olhar espontâneo, quase que de bate-pronto, do trio sobre a obra de Garoto.

Segundo, pelo equilíbrio no bordado do repertório, que combina temas mais conhecidos, como “Desvairada”, “Duas Contas”, “Jorge do Fusa”, “Lamentos do Morro” e “Gente Humilde” (única faixa do disco em que Cainã se apresenta sozinho), com outras composições menos abordadas, como “Voltarei” e “Esperanza”.

Ao propor novas levadas e conduções rítmicas, sutis e diferentes variações de divisões dos fraseados melódicos, improvisos sem desconstruir por demais os originais e, também, renovadas harmonias o trio demonstra total compreensão da essência do que foi Garoto: o luminar artista que absorveu as influências do jazzistas (em sua notável passagem pelos Estados Unidos ao lado de Carmen Miranda e do Bando da Lua) e dos impressionistas franceses, sem jamais deixar de soar esplendorosamente brasileiro.

Por fim, que não se ignorem a sabedoria e, principalmente, a maturidade de Cainã. Diante de um extenso rol de fenomenais violonistas que já se curvaram à obra de Garoto — como Baden Powell, Raphael Rabello, Laurindo Almeida, Poly, Bola Sete, Turíbio Santos, Quarteto Maogani, Guinga, João Gilberto, Yamandu e tantos outros –, Cainã Cavalcante não imita ninguém. Sem virtuosismos gratuitos ou parnasianos, ele se atém ao que importa e, assim, dribla toda a sorte de atalhos, armadilhas, clichês e obviedades. Do mais alto olimpo, onde descansa folgadamente no posto de maior compositor da história do violão popular brasileiro, Annibal Augusto Sardinha vê nascer como um clássico mais um disco à altura de sua genialidade.

“SINAL DOS TEMPOS – CAINÃ TOCA GAROTO”

REPERTÓRIO

1 – Desvairada (Garoto)

2 – Jorge do fusa (Garoto)

3 – Sinal dos tempos (Garoto)

4 – Esperanza (Garoto)

5 – Gente humilde (Garoto/ Vinicius de Moraes/ Chico Buarque de Hollanda)

6 – Lamentos do morro (Garoto)

7 – Gracioso (Garoto)

8 – Nosso choro (Garoto)

9 – Nosso choro (Garoto)

10 – Voltarei (Garoto)

Todas as faixas foram gravadas em trio por Cainã Cavalcante (violão), Guto Wirtti (contrabaixo acústico) e Paulinho Braga (bateria), com exceção de “Gente humilde”, interpretada apenas por Cainã solo.

Cainã Cavalcante | Foto: Tainá Cavalcante

Disco: “Sinal dos tempos – Cainã toca Garoto”
Artista:
Cainã Cavalcante
Produzido por Cainã Cavalcante e Guto Wirtti
Produção executiva: Wilson Souto Jr. (Atração)
Gravado por Guido Pera, no estúdio VISOM DIGITAL – RJ, nos dias 01, 02 e 03 de março de 2021
Mixado no BRC estúdios – SP, por Luis Paulo Serafim
Masterizado por Gian Correa
Assistente de produção: Carla Braga
Logística: Marcelo Cabanas
Fotos: Tainá Cavalcante
Arte final: Rhudá Cavalcante (Cajueiro Comunicação)
Realização: Gravadora Atração.
Arranjos: Cainã Cavalcante.
Músicos: Cainã Cavalcante (violão), Paulo Braga (bateria) e Guto Wirtti (contrabaixo acústico)

Redes sociais: Instagram: @cainacavalcante
Facebook: facebook/CainaCavalcante
Site: https://www.cainacavalcante.com.br
Spotify: https://bityli.com/IsKRU

DISCOGRAFIA DE CAINÃ CAVALCANTE
“Morador do mato” (2002)
“Samburá” (2005)
“Parceria – Cainã Cavalcante e Zé Paulo Becker” (2015)
“Corrente” (2018)
“Nessa praia – Adelson Viana e Cainã Cavalcante” (2019)
“Sinal dos tempos – Cainã toca Garoto” (2021)

Cainã Cavalcante | Foto: Tainá Cavalcante

Com um pouco mais de 20 anos de carreira, Cainã nutre parcerias nos palcos e em gravações com grandes nomes da música do mundo. Logo no início de sua caminhada, no ano 2000, aos 10 anos de idade, Cainã Cavalcante foi o vencedor do concurso de violão erudito “Musicallis”, realizado em São Paulo.

Destaque também para a parceria e o contato com seu padrinho de batismo Patativa do Assaré, lhe rendeu o poema “Ao meu afilhado Cainã”, registrado em seu primeiro disco “Morador do Mato” (2002), na regravação instrumental da canção “Vaca Estrela e Boi Fubá”, de autoria do poeta cearense.

Durante esse mesmo período, o encontro e início da amizade de Cainã com Yamandu Costa, que logo tratou de convidar o menino cearense para participar de seus shows em Fortaleza. É possível ver o registro dessa época na faixa “Sons de Carrilhões” (João Pernambuco), no disco de estreia de Cainã.

Em 2005, é lançado “Samburá”, segundo disco da carreira do violonista, que tem no repertório regravações de clássicos como “A Marcha dos Marinheiros” (Américo Jacomino), “Trem de Ferro” (Lauro Maia), além da primeira composição gravada de Cainã, “Mariah”.

No mesmo ano, o cearense viaja à França, para participar do 19º Festival Internacional de Musique Universitaire de Ville, em Belfort. Na mesma viagem, ao retornar a Paris para concertos solo, Cainã encontra Ronaldo do Bandolim (integrante do Época de Ouro e Trio Madeira Brasil), sendo convidado para realizar concertos junto do bandolinista carioca na capital francesa.

De volta ao Brasil, a fluência do menino que já chamava a atenção de grandes nomes da música cearense e produtores culturais, desencadeou em vários convites para estar nos palcos e estúdios com Belchior, Fagner (produtor e diretor artístico do segundo álbum de Cainã), Amelinha, Manassés de Sousa, Adelson Viana, Rodger Rogério, Teti e tantos outros ilustres cearenses.

Após o segundo disco, já atuando com os músicos veteranos, aos 15 anos Cainã se destaca e começa a acompanhar e a participar de shows de artistas nacionais e internacionais no Ceará, dentre eles: Leny Andrade, Leila Pinheiro, Simone Guimarães, Leandro Braga, Vander Lee, Dominguinhos, Paulinho Pedra Azul, Chico César, Renato Borghetti, Danilo Caymmi, Omar Puente (Cuba), María Toro (Espanha), até Plácido Domingos, com o honroso convite para participar do concerto do tenor espanhol na inauguração do Centro de Eventos do Ceará, em 2012.

Para além, das colaborações com outros artistas e ainda morando em Fortaleza, Cainã participou por diversas vezes com concertos e ministrando oficinas nos principais festivais de música do estado, como o consolidado Festival de Jazz & Blues de Guaramiranga, o Festival Férias no Ceará e o Festival de Música da Ibiapaba, marcando o seu encontro com o violonista carioca Zé Paulo Becker, que na sequência convidou Cainã para um série de concertos na cidade do Rio Janeiro.

Com total afinidade entre os dois violões e receptividade do público, nasce o disco “Parceria”, composto por composições autorais dos violonistas, promovendo um encontro de gerações e estilos violonísticos. Com as idas ao Rio ficando mais frequentes, Cainã toca em alguns dos principais festivais, salas de concerto e espaços culturais da capital fluminense. Podemos citar o Copa Fest, realizado no Copacabana Palace, o Festival Choro na Gamboa, Concerto na Sala Baden Powell, além dos inesquecíveis concertos no saudoso Bar Semente, duo com Zé Paulo Becker, duo com Michael Pipoquinha e duo com Arismar do Espírito Santo.

Os movimentos de expansão de carreira se deram com concertos pelo Brasil, América Latina, com destaque para a turnê na Argentina, com o disco “Parceria”, e idas frequentes à Europa (Alemanha, Áustria, Holanda, França, Letônia e Suécia). Atualmente, Cainã mora em São Paulo, tendo firmado parcerias com nomes como Hamilton de Holanda, Ney Matogrosso, Fabiana Cozza, Mestrinho, Elba Ramalho, Maria Gadú, Gian Corrêa, Rogério Caetano, Dani Black, entre outros.

Atento e sensível às questões sociais, Cainã Cavalcante, que ainda na infância teve passagem por importantes projetos sociais no Ceará. Como as ONGs Taperas das Artes e a Fundação Beto Studart, além de ter estudado no Conservatório de música Alberto Nepomuceno, como bolsista, tendo em vista o talento do jovem violonista. Há alguns anos, por ter tido essa vivência e acreditar na arte como ferramenta de desenvolvimento social humano, Cainã ministra oficinas, palestras e workshops no Brasil e no exterior. Atualmente foi convidado a ser embaixador da ONG cearense Casa de Vovó Dedé. (https://www.cvdd.com.br/)

Colaboração da pauta

Graciela Binaghi
gracielabinaghi@gmail.com
+55 11 2659 6496
+55 11 3289 6734
+55 11 99174 4484

Imagem destacada da Publicação

Cainã Cavalcante | Foto: Tainá Cavalcante

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