Especialista em Reprodução esclarece as dúvidas de milhares de mulheres que ainda sonham em ser mãe
A atriz Claudia Raia agitou as Redes Sociais ao revelar que ainda pensa engravidar aos 59 anos. A declaração chamou a atenção das mulheres e trouxe curiosidade sobre os limites do corpo para uma gravidez nessa altura da vida, as chances reais de maternidade e as consequências em caso de uma gravidez tardia.
A Dra. Maria do Carmo Borges de Souza, especialista em reprodução humana e presidente da Rede Latinoamericana de Reprodução Assistida (REDLARA) responde as principais perguntas que surgiram nos últimos dias sobre a gravidez tardia.
É possível que a atriz tenha engravidado naturalmente na menopausa?
Iniciamos por uma importante explicação numérica: meninas ainda no ventre, na metade da gestação de suas mães, já têm em torno de 6 a 7 milhões de protótipos de óvulos (chamados de oogonias). No nascimento, são cerca de 1 a 2 milhões de dessas células que vão sendo “gastas” no processo natural da evolução ovariana. Esta evolução segue durante a infância e, ao chegar na puberdade o número está estimado em cerca de 300 a 400 mil óvulos, embora os ovários de menina pareçam estar bem quietinhos nesta fase da vida. Desta forma, durante os anos reprodutivos da mulher, estima-se que de 400 a 500 deles poderão iniciar o processo de maturação, que vai culminar em um óvulo que, exposto e penetrado por um espermatozoide propicia a formação de um embrião.
Esta conta numa espécie de poupança ovariana ao longo dos anos desde o início determina que o tempo de existência destes óvulos será muito importante para definir as sinalizações e os processos de junção dos núcleos do óvulo com o do espermatozoide. Então, quando uma nova conta começa, ou seja, 23 cromossomos do óvulo + 23 cromossomos contidos no espermatozoide se somam, temos finalmente os 46 cromossomos no embrião. Cada vez que esta conta não fecha em 46 cromossomos, temos embriões fadados ao insucesso, chamados de aneuploides. De maneira mais simples é como se faltassem informações importantes no manualzinho de instrução contido nos cromossomos, que são os genes. Podemos comparar bem a uma linha de produção em que faltam ou falham instruções precisas.
Portanto, em uma mulher jovem a oferta potencial dos óvulos é grande e com um funcionamento bem entrosado, mas essa potencialidade é reduzida com o passar do tempo, assim como o número de óvulos disponíveis e a qualidade deles. Desta forma, a partir de 35 anos as condições dos óvulos começam a apresentar dificuldades.
Por volta dos 45 a 46 anos, idade em que o número de óvulos disponível está bastante crítico, as irregularidades da duração do ciclo menstrual iniciam e sinalizam uma queda importante da capacidade reprodutiva. A menopausa, que é a parada definitiva da menstruação define este fim. Há, portanto, uma queda acentuada na possibilidade de gravidez, com aumento progressivo das perdas gestacionais espontâneas (abortamentos) pelas alterações cromossomiais, desde <14% quando a mulher tem menos de 35 anos, 19% aos 38 anos, 28% aos 40 e 60% após os 44 anos.
Quais são os riscos da gestação numa idade avançada, como no caso da Claudia Raia?
O primeiro risco é para os bebês, desde a formação completa até a manutenção de uma gestação a termo saudável sem partos precoces, riscos de abortamentos e complicações gestacionais. Para a mulher, a gravidez acima de 40 anos agrega riscos como diabetes gestacional, hipertensão na gravidez ou a prematuridade, que pode ser consequência desses e de outros implicadores. É claro que esses problemas de saúde observados geralmente no acompanhamento do pré-natal também aparecem nas faixas mais jovens, inclusive entre grávidas adolescentes, mas a mulher que planeja e tenta uma gestação tardia, deve seguramente buscar um acompanhamento médico mais precoce, de maneira consciente e demandará acompanhamento ainda mais criterioso.
Quais são os procedimentos disponíveis para mulheres na faixa dos 50 anos de idade, que desejam engravidar de maneira natural, mas não conseguem?
Seguramente uma gestação natural, aos 50 anos, quando a mulher já está na menopausa tem chances raras. Para não usarmos os termos absolutistas sempre ou nunca podemos afirmar que as possibilidades são praticamente nulas. E, mesmo com a utilização das técnicas de reprodução assistida, o sucesso dos procedimentos pode estar altamente comprometido quando já não existem mais óvulos. Mulheres que desejam engravidar numa fase mais madura devem se antecipar com o congelamento dos óvulos ainda na fase reprodutiva, só então estaremos diante de uma expectativa mais concreta.
Existe um período para que o congelamento de óvulos seja feito?
O ideal é que o congelamento dos óvulos seja feito antes dos 35 anos. Até essa idade é possível assegurar que eles estejam mais saudáveis e ainda dentro da melhor fase reprodutiva. Caso isso não tenha ocorrido, a recomendação é uma esclarecedora conversa realista com um médico especialista em Reprodução Humana para a avaliação do caso específico.
Atualmente, é notório o adiamento da gravidez? As mulheres esperam mais para engravidar?
Sim, é notório que cada vez mais as mulheres adiam os planos da maternidade em virtude de diversas razões. Em muitos casos pela prioridade dos projetos profissionais, em outros, na busca pelo parceiro ideal para a constituição de uma família e até em razão de uma decisão que só aparece numa fase mais madura da vida. Por isso, essa é uma informação que deve ser bem difundida entre as mulheres. Costumo dizer que é como ter “uma cartinha na manga”, uma guarda preventiva, um seguro de sonho.
Dra. Maria do Carmo Borges de Souza é graduada em Medicina com Mestrado e Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora da UFRJ e Livre – Docente pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Presidente da REDLARA – Rede Latino Americana de Reprodução Assistida. É membro da American Society for Reproductive Medicine (ASRM) e da European Society of Human Reproduction and Embriology (ESHRE). Membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida – SBRA; Diretora da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro e Diretora Médica da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana.
A Clínica FERTIPRAXIS é certificada pela Rede Latino-americana de Reprodução Assistida por cumprir com eficiência as normas de controle de qualidade requeridas para todos os procedimentos. As instalações modernas são equipadas com recursos de alta tecnologia para manipulação e criopreservação de gametas e embriões, garantindo segurança no manuseio das amostras biológicas. Junto à tecnologia, o acolhimento aos pacientes é objetivo primordial. Os profissionais que atuam na clínica: médicos especialistas, embriologistas, enfermeiros e psicólogos, utilizam as mais avançadas técnicas de reprodução assistida para atender, orientar e tratar da forma mais adequada as pessoas que querem engravidar.
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Colaboração da pauta:
Ageimagem – Comunicação Corporativa
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Patrícia Limeira
Diretora Geral de Jornalismo
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