Antirracismo: Black Money e certificações em diversidade e inclusão

Diversidade Dolce

Caroline Vargas Barbosa

Black Money é um movimento que incentiva e favorece negócios e o empreendedorismo de pessoas negras, assim como o consumo consciente e politizado, exercendo o antirracismo nas marcas, produtos e serviços. É uma forma efetiva de participação na circulação de recursos financeiros, mas apesar de muito avanço, a inclusão ainda é latente

O Black Money é uma prática decorrente da filosofia panafricanista. O panafricanismo reconhece a identidade originária que enraizou práticas de discriminação dos povos africanos em busca de uma unidade de prática com consciência política e resgate de direitos antirracistas.

A ideia norteadora é o resgate dos diversos silenciamentos sofridos pela comunidade negra ao conhecimento, ao acesso à educação e à saúde, ao trabalho digno. O capital intelectual – social e financeiro – se mantém nas relações sociais (valorização e pertencimento social) de pessoas negras como rompimento, como resistência para existência. É um processo inclusivo, colaborativo, cíclico e emancipador.

Em 2021, o Brasil alcançou o título de segundo país na concentração de renda. A riqueza concentrada em mais de 28% está em 1% da população brasileira. Sendo que esse 1% recebe mais de 30 vezes o valor recebido por 50% dos mais pobres (Exame, 2021). Segundo a Small Business Administration (2021), os negros no país são cerca de 56% da população brasileira e, entre 10% da população mais pobre do país, compõem 75% dessas pessoas. São constantemente líderes em pesquisas que escancaram problemas estruturais: violência institucional, judicial e de gênero; racismo ambiental; encarceramento; desigualdade salarial (mulheres negras ganham 40% da renda de um homem branco e homens negros cerca de 55%) desemprego (67% por exemplo), três vezes mais de créditos bancários negados que pessoas brancas…

São ainda 53% dos micros e pequenos empreendedores brasileiros. Movimentam uma renda própria de cerca de 1,9 trilhão de reais por ano. Segundo dados do Instituto Locomotiva (2022), as mulheres negras movimentam quase 16% do consumo interno (mais de 700 bilhões de reais). Em projeções do Movimento Black Money, se reconhecidos em equidade de renda, seria possível o aumento, considerando gênero e raça (mulheres e homens negros) de cerca de mais de um trilhão de reais.

Imagem de Freepik

O Movimento Black Money existe desde 2017 e tem como uma das expoentes (e criadoras), Nina Silva. Em 2021, foi eleita pela Women in Tech, a Mulher Mais Disruptiva do Mundo. Segundo ela, a ideia é uma movimentação das estruturas a partir da movimentação da sociedade civil, rompendo exclusões. O movimento conecta pessoas negras, marketplace e consumidores (afro consumo), promovendo oportunidades de educação, profissionais negros e suas prestações de serviços (esteticistas, médicos, advogados etc.), desenvolve planos de inclusão racial para empresas parceiras e crédito, investimento em afro empreendedorismo (os dois últimos pela fintech D’Black Bank).

No entanto, pessoas negras, segundo o site Vagas (2020), ainda ocupavam menos de 1% dos cargos de diretoria. É por isso que o Black Money entra na prática e capacitação em Diversidade e Inclusão. As políticas de diversidade e inclusão correspondem a uma responsabilidade social das empresas, a fim de garantir métricas valoradas, no quesito social, em certificações como o ESG (ou ADG em português).

Como a empresa e as pessoas podem promover diversidade e inclusão antirracista?

Sempre informamos as diversas pesquisas científicas e de estatísticas que comprovam que a diversidade de vivências corrobora para olhares diferentes e soluções inovadoras. O que alcança diversas formas de lucratividade para a empresa. O capital humano formado entre os trabalhadores que gera estabilidade e reconhecimento na e com a empresa, como também com ampliação de mercado e, consequente, market share (a relevância da empresa no mercado frente às concorrentes). Segundo o Delivering through Diversity (2021), a diversidade cultural e étnica pode obter resultado de aumento de lucro próximo aos 33%.

Lembre-se: a empresa deve atuar para transformar realidades. Não somente do trabalhador, mas das relações interpessoais com colegas e lideranças, podendo atingir um público de consumo maior, aumentando a representatividade antirracista da empresa junto ao mercado consumidor, o que consolida um consumo com consciência do exercício político individual. Um exemplo reverso é a violenta morte de João Alberto Silveira Freitas, em 2020, em uma grande rede de supermercados nacional. A comoção nacional trouxe um primeiro impacto junto aos investidores e perda de cerca de R$ 2 bilhões de reais no valor de mercado. Além disso, diversos acordos judiciais passam de R$110 milhões de reais para serem revertidos em causas antirracistas (principalmente educacional).

A empresa deve transformar realidades, não agravar as disparidades. Por isso, os padrões estabelecidos pela GRI – Global Reporting Initiative, preveem a inclusão pela diversidade antirracista, tais como grupos e consultorias de recrutamento com foco em diversidade, como o Movimento Black Money no Brasil ou faculdades, associações e empresas que desenvolvem capacitações e recrutamento.

Os recursos humanos e os líderes devem ser capacitados para evitar vieses (ainda que inconscientes) de interpretações baseadas em culturas e crenças preconceituosas. A informação e o conhecimento são sempre a solução para reconhecimento de identidades diversidades. Ações discriminatórias, muitas vezes, ocorrem desses vieses. Nada adianta contratar se o empregado sofre discriminação na equipe ou pelos líderes – por uma pessoa ou por várias. Discriminar existências e negar pluralidades, ou é falta de conhecimento e informação, ou negação às diferentes realidades por opção (não é uma opinião!). Injúria racial, como “cabelo ruim”, é crime e não pode ser admitida dentro da empresa em nenhuma prática, nem verticais e nem horizontais.

Outra prática analisada pela GRI, não somente a inclusão de pessoas negras, mas o cuidado com a escolha de fornecedores e associações com empresas que também promovam políticas de diversidade e inclusão em antirracismo, também são possíveis de serem desenvolvidas por meio de publicidades antirracista como ferramenta de mobilização pela informação e representatividade que traz. É um exercício, de comunicação regenerativa, que posiciona a empresa de dentro para fora em questões sociais antirracistas.

Caroline Vargas Barbosa é advogada, docente universitária e pesquisadora. Doutorando em Direito pela UnB, Mestra em Direito Agrário pela UFG e especialista em Processo Civil pela UFSC. Atua em pesquisas e assessoramentos de diversidade, inclusão e ESG.

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