Mães falam sobre maternidade atípica e voluntariado

A ONG Friendship Circle promove o convívio social entre crianças e jovens com e sem deficiência há 10 anos

Imagem por Helgy em Canva Fotos

A empresária Mariana Gorski, de 43 anos, tem dois filhos, Eduardo, de 15, e Luiza, de 13. O primogênito foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista. Para a empresária, a maternidade é o real significado de alegria. “Sentir o amor incondicional é a melhor sensação do mundo!”, conta Mariana. Sobre a maternidade atípica, ela acrescenta: “Ser mãe do Eduardo me apresentou um mundo novo e me transformou em uma pessoa com mais empatia e compaixão. Vou lutar sempre com todas as minhas forças para que ele viva de forma independente e realizado”. A empresária revela que a principal dificuldade do filho é a socialização. Ela conta que o Eduardo tem dificuldade em manter seu discurso e possui um repertório diferente dos adolescentes de sua idade. Por conta disso, ela relata que, a cada ano, vai aumentando ainda mais a dificuldade de inclusão. Mariana conheceu a ONG Friendship Circle, que promove o convívio social entre crianças e jovens com e sem deficiência, em um evento da organização e ficou encantada. Desde o segundo semestre de 2022, Eduardo recebe visitas semanais de uma dupla de adolescentes voluntários da mesma idade dele. O grupo brinca, compartilha o momento junto e o Eduardo fica orgulhoso de ter visitas em casa que não sejam para a irmã. “Ele se sente parte desta tribo e a nossa vitória é diária. A cada dia superamos juntos e nos fortalecemos ainda mais enquanto família”, comemora a empresária. 

Já a advogada Vanessa Mascarós, de 48 anos, tem duas filhas, a Giovanna, de 17, e a Ana Clara, de 13. A estudante Giovanna é voluntária no Friendship Circle. Segundo a mãe, Giovanna é a bondade em pessoa, justa, meiga, sensível, mas “só muito bagunceira com o quarto”, se diverte Vanessa.

Ela conta que conheceu a ONG também em uma palestra, se apaixonou pelo projeto e a filha se inscreveu no mesmo dia. A advogada explica que a filha começou o trabalho como voluntária na casa da Julia e, apesar das dificuldades no início, nunca pensou em desistir. Giovanna nunca trocou a visita por outro compromisso, nem mesmo nos dias de prova na escola. Quando ela entrou na faculdade eu imaginei que ela pararia com as visitas, mas ela se organizou com os horários e deu prioridade para o Friendship Circle, principalmente para Julia, que ela ama”, diz Vanessa. E acrescenta: “O trabalho, como todos sabem, faz bem para as duas partes, e ela foi conquistando o espaço na vida da Julia e vice-versa com uma amizade muito gostosa com respeito e amor”. 

Imagem por Huseyin Bostanci em Canva Fotos

A advogada acredita que a geração da filha é mais empática e inclusiva, e afirma que a Giovanna não aceita nenhum tipo comentário pejorativo e defende muito as pessoas que são vítimas de algum tipo de preconceito ou julgamento. “Precisamos de mais jovens conscientes sim, precisamos de mais jovens olhando para o outro, dando exemplos positivos, encorajando a inclusão, empatia, solidariedade e amor. Maternidade para mim é uma dádiva, um presente, plenitude, finaliza ela. 

A administradora de empresas Renata Seripierri Chaves, de 46 anos, tem um casal de filhos, o Rafael, de 17, e a Olívia, de 13. Rafael tem autismo. Segundo a Renata, o cérebro dele não funciona como o da maioria das pessoas nascidas, fato que pode trazer déficits em áreas já conhecidas, como social e comunicação, por exemplo, como também vir acompanhado de superávits em outras áreas como música e memória, afiadíssima, no caso do filho. “A principal dificuldade que enfrentamos vem de natureza atitudinal e não dá deficiência em si. As barreiras impostas pela sociedade são enormes de forma que pertencer não é uma opção a exclusão é uma imposição”, esclarece a administradora de empresas. E acrescenta: “O dia a dia da família portanto gira em torno de construir habilidades diárias para que ele possa navegar nesta mesma sociedade que impõem essas barreiras, por vezes exaurindo a pessoa a mais de 44 horas semanais de terapias sem a garantia que ela será aceita como ela é”.

Imagem por Robert Kneschke em Canva Fotos

Para a Renata, a maternidade atípica atirou do lugar comum, da bolha, do quadrado, do auto centrismo e trouxe desafios com certeza, mas trouxe muita coisa boa também, para ela, para a família dela, e com certeza para a sociedade, que ganhou uma pessoa muito mais participativa e com senso de coletivo. Ela conheceu o Friendship Circle através de uma amiga, em seguida inscreveu o Rafael. “Logo que começaram as visitas senti na pele a potência da proposta e me voluntariei para ajudar a expandir a ONG, queria que todas as pessoas com dificuldades de convivência saíssem do isolamento social e que todos pudessem conviver com pessoas neurodiversas”, conta Renata. Depois de um tempo, ela foi convidada para participar da área de conteúdo e marketing da ONG. “É muito gratificante trabalhar com propósito, me considero uma pessoa de muita sorte”, comemora a administradora de empresas. 

Neste Dia das Mães, Renata diz que é muito grata ao Friendship Circle pela ONG proporcionar momentos de convivência que se tornam lindos laços de amizade. “O Friendship Circle chegou na vida do Rafael em um momento que ele estava consciente das suas dificuldades e os jovens voluntários passaram a ajudar muito na questão do amadurecimento e a criar esse ambiente de pertencimento. É lindo ver como eles criam interesses em comum, trocam mensagens e compartilham momentos. Um entende o jeito do outro, sentem falta um do outro e o Rafael teve a oportunidade de viver uma experiência que não estava ao alcance dele”, conta carinhosamente Renata.  

Friendship Circle é uma ONG que promove o convívio social entre crianças e adolescentes com quaisquer deficiências e jovens voluntários. A convivência é uma necessidade de todo ser humano, e todos devem ter a mesma oportunidade de participarem ativamente de uma coletividade. 

Para o Friendship Circle, qualquer indivíduo pode ser um membro ativo da comunidade e se beneficiar do apoio social oferecido por seus pares. Amizade, aceitação e a geração de vínculos socioafetivos são fundamentais para conquistar a tão sonhada sociedade inclusiva. “A gente percebe que a criança com deficiência sofre um processo de exclusão social na sua formação, na própria convivência. Ela geralmente nunca é chamada para ir à casa de um amigo, festinha de aniversário não participa, nenhum amigo vem para casa depois da aula, e a convivência é sempre com outros adultos, na terapia ou em outros eventos”, conta Beila Shapiro, presidente da ONG. 

O Friendship Circle São Paulo funciona com diversos projetos e o mais procurado é o Amigos em Casa, que possibilita a convivência entre jovens e crianças e adolescentes com deficiência, criando inclusão social, laços de afeto e amizade. Tem ainda o Dia da Alegria, o Círculo da Inclusão, o Clube do Aniversário, a formação dos voluntários e o apoio às famílias.

 Os jovens voluntários vão à casa das crianças e criam vínculos permanentes. Os voluntários são jovens entre 13 e 23 anos e as crianças e os adolescentes com deficiência participantes têm de 3 a 19 anos de idade. “Essa convivência muitas vezes não acontece pela questão do preconceito. É muito bacana como é transformadora essa experiência”, diz Beila.

Colaboração da pauta:

Roberta M | roberta@manrezacom.com.br

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