O Transtorno Afetivo Bipolar em crianças é um exemplo de doença psiquiátrica que exige seriedade no encaminhamento, pois, nessa faixa etária, a sua sintomatologia pode se apresentar de forma atípica.
Assim, ao invés da euforia seguida da depressão dos adultos, nas crianças surge a agressividade gratuita seguida de períodos de depressão. Nestas, o curso do transtorno é também mais crônico do que episódico e sintomas mistos com depressão seguida de “tempestades afetivas”, são comuns. Além disso, a mudança é rápida e poderá acontecer várias vezes dentro de um mesmo dia, como por exemplo: alterações bruscas de humor (de muito contente a muito irritado ou agressivo); notável troca dos seus padrões usuais de sono ou apetite; excesso de energia seguida de grande fadiga e falta de concentração. Esses são alguns sintomas que devem ser observados.
Se desde que nasceu, a criança apresenta um temperamento mais eufórico, é cheia de energia e criatividade, mas não perturba ninguém nem a si mesma, isso faz parte de sua personalidade, é normal e não deve ser coibido.
Agora, se ela é instável demais e repentinamente oscila entre a euforia e a depressão, a apatia e a hiperatividade, se nada justifica seu estado de excitação e euforia, a falta de sono, a empolgação e há casos de transtorno afetivo bipolar ou mesmo de depressões decorrentes na família, os pais devem procurar ajuda.
O problema, porém, é o risco de encontrar apenas quem dê explicações lógicas para o comportamento da criança. A lógica pode explicar muita coisa, mas nem tudo o que é lógico é normal. As professoras e orientadoras explicam o que acontece na escola e a própria dinâmica familiar serve de explicação para o comportamento infantil. Por isso, é sempre recomendado consultar um pediatra e ou psicólogo, embora infelizmente muitos ainda não estejam preparados para reconhecer os sintomas do transtorno. Na verdade, entre a manifestação dos primeiros sinais e o diagnóstico, às vezes, transcorrem mais de 10 anos.
Na adolescência, o quadro clínico costuma surgir a partir dos 15 anos e tem características muito diferentes das que se observam na infância. O pico de incidência, porém, ocorre entre 18 e 25 anos.
É nesse período que, em geral, eles estão sob maior estresse, mais inseguros e indefinidos, violentamente bombardeados pelos hormônios. É também nesse período da vida que se expõem mais a comportamentos de risco, a sexualidade explode e as drogas o seduzem. É nesse período, portanto, que fatores ambientais, constitucionais e genéticos interagem favorecendo a eclosão do transtorno bipolar.
Nessa fase, o diagnóstico é mais fácil, porque se trata de um quadro mais clássico e evidente.
É na infância que a dificuldade se acentua. A tendência é reprimir a criança, tentar educá-la à força ou atribuir a responsabilidade por seu comportamento inadequado aos pais, aos irmãos, à escola ou aos amigos. O caso se complica ainda mais porque não se tem certeza de que tais quadros de transtorno sejam biologicamente equivalentes, isto é, se o aparecimento na infância é simplesmente a manifestação precoce de uma patologia que iria acontecer mais tarde no adolescente ou no adulto, ou se é algo mais intrincado do ponto de vista neurofisiológico.
É importante observar que o transtorno afetivo bipolar pode aparecer pela primeira vez em qualquer idade: na criança, no adolescente, no adulto ou no idoso. Independentemente da idade, quanto mais rápido o TAB for diagnosticada, menos irá interferir na estruturação da personalidade das crianças, no caráter do adolescente, nas relações profissionais e familiares do adulto e na imagem do indivíduo com mais idade
Antes de tudo é preciso combater o medo, porque é ele que aparece primeiro. Depois, é tentar não agir agressivamente contra a pessoa na fase de euforia.
Cynthia Wood Passianotto é psicóloga e escreve quinzenalmente na Dolce Morumbi.
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