Quando as crianças sentem medo

Dolce Criança

Cynthia Wood Passianotto

Escuro, solidão, abandono e pessoas estranhas são alguns dos medos mais comuns apresentados pelas crianças, e devem ser encarados como algo natural e até certo ponto saudável, uma vez que pode protegê-los de riscos reais como escadas, pessoas e animais estranhos, lugares altos, água, fogo.

Alguns medos podem até ser estimulados, com informação, para que eles desenvolvam cautela sem exageros. Assim, terão a percepção do risco e a atitude de autoproteção. Agora, quando o medo começa a interferir no comportamento da criança, é hora de tomarmos algumas medidas, pois, se não for tratado adequadamente, pode se agravar e virar fobias. Identificar a origem do medo infantil é um processo que exige alguma dedicação, pois boa parte desses temores tem origem na imaginação (fértil) das crianças, mas mesmo o risco sendo imaginário, o sentimento da criança é real, então vamos respeitá-lo. É preciso estar atento aos sinais demonstrados por nossos filhos.

Medos reais podem surgir de situações que a criança vivenciou e de alguma forma não foram positivas. Veja os mais comuns:

Médico – Ficar sem roupa diante de uma pessoa estranha com objetos ameaçadores, que são postos na garganta, no ouvido, no peito, pode ser uma experiência bem desagradável para algumas crianças. Uma boa ideia é distraí-la com brinquedos durante o exame.

Creche e escola – Separar-se dos pais por períodos prolongados é difícil para qualquer criança. Os pequenos se sentem muito desprotegidos na fase de adaptação. Seja fiel aos horários, e esteja esperando por ele na saída da creche ou da escola.

Violência – Negligência afetiva (pai e mãe que deixam os filhos emocionalmente desamparados porque estão sempre cansados do trabalho, por exemplo), agressões físicas, ameaças, humilhações, todo tipo de sofrimento físico e psíquico pode gerar medo e marcar a criança por toda a vida.

Já os medos imaginários aparecem sem justificativa e são causados pela imaginação fértil das crianças. Veja os mais comuns:

Escuridão – O escuro favorece a imaginação das crianças. Alguns segundos no escuro antes de dormir, conversando com o pai ou a mãe, são uma forma de estimular a criança a vencer a inquietação. Deixar uma luz indireta próxima à cama também ajuda muito.

Ficar sozinho – Na imaginação da criança, a ausência de uma pessoa da família por perto pode significar que ela está à mercê de todos os perigos. Esclareça que você não vai desaparecer da vida dela! Fale sempre a verdade, de preferência olhando-a nos olhos.

Fantasia – Monstros, fantasmas, bichos-papões e homens do saco sempre farão parte do imaginário infantil. São elementos presentes nas historinhas que as crianças ouvem e assistem e nas brincadeiras que fazem. Esse universo lúdico é fundamental para o desenvolvimento dos pequenos ao estimular sua capacidade inventiva, função importante do pensamento.

5 dicas para ajudar seu filho a enfrentar o medo:

  1. Dê atenção, questione e estimule-o a enfrentar o medo irreal.
  2. Fale a verdade sobre os medos reais para que ele construa noções de perigo. Mas faça isso sem aterrorizá-lo.
  3. Brinque com seu filho e entre na fantasia dele. Experiências lúdicas ajudam os pequenos a lidar com seus anseios.
  4. É importante que ele tenha algo familiar à mão para enfrentar os temores na hora de dormir. Pode ser um boneco preferido, um travesseiro ou um paninho de estimação.
  5. Policie-se para que seus próprios medos não os influenciem (as crianças aprendem por imitação e repetição). Caso isso aconteça, procure esclarecer que o medo é só seu e que não deve ser imitado.

Lembre-se:

Jamais use o medo da criança como meio de poder: além de extremamente cruéis, ameaças de deixar o filho sozinho ou no escuro só aumentam o medo e a sensação de insegurança.

Jamais repreenda, ridicularize ou obrigue seu filho a enfrentar a situação que lhe dá medo sem que ele esteja preparado. Essas atitudes podem causar desequilíbrios psicológicos e emocionais na criança.

Não superproteja seu filho. Quando ele estiver com medo, procure ensiná-lo a se defender do que o amedronta.

Não transfira para o bicho papão a sua responsabilidade em colocar os limites necessários para que seu filho lhe obedeça. Portanto, nunca o ameace ou crie temores de origem fantasiosa para convencê-lo a obedecer. Essas ameaças não educam e podem criar uma ansiedade desnecessária.

Apesar dos medos infantis serem comuns, os pais devem fazer o possível para que seus filhos não os desenvolvam. Isso é possível evitando críticas, humilhações, castigos em excesso e desvalorização da personalidade da criança. Avalie a intensidade do medo e fique atento para o limite da normalidade, que é a rotina saudável de vida. O amor e o apoio dos adultos são fundamentais para a criança superar ansiedade, insegurança e medos. Caso o medo do seu filho interfira na rotina ou que lhe cause pesadelos recorrentes, o melhor é buscar ajuda profissional.

Cynthia Wood Passianotto  é psicóloga e escreve quinzenalmente na Dolce Morumbi.
Acompanhe a Cynthia também em suas Redes Sociais:
@cynthia_wood_passianotto e @crescendoeacontecendo

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