Debates entre candidatos à Prefeitura de São Paulo, marcados por agressões físicas e verbais, podem provocar sérias consequências na formação de crianças expostas a esse tipo de conteúdo
A corrida eleitoral para a Prefeitura de São Paulo tem sido marcada por hostilidades intensas entre os candidatos, especialmente durante os debates, que têm exibido agressões verbais e físicas, chamando a atenção do público e aumentando a audiência das emissoras. Segundo dados do Kantar Ibope, os canais que transmitiram os últimos debates – um deles culminou em uma agressão física entre José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) – alcançaram picos de 2,5 pontos, registrando a quarta melhor audiência no horário. Nas redes sociais, as cenas de troca de ofensas entre os postulantes, disponíveis no YouTube, atingiram 752 mil visualizações, um número significativamente maior do que os 135 mil registrados há quatro anos.
Ainda de acordo com o Ibope, em São Paulo, o aumento na audiência dos debates indica que 73 mil domicílios assistiram às cenas de violência verbal e agressões. Diante dessa realidade, Stella Azulay, educadora parental especialista em relacionamento pais e filhos e fundadora do Juntos Educação Parental, expressa preocupação sobre como essa mensagem está sendo recebida, especialmente pelas crianças que são expostas a diferentes conteúdos.
“Se o meu pai fosse qualquer um dos quatro candidatos homens à Prefeitura de São Paulo, e eu os visse nesses debates, eu morreria de vergonha. Como podemos falar de política, se a gente não pensar nas crianças e adolescentes que veem isso como referência e exemplo de cidadãos líderes, que precisam cuidar de uma cidade inteira?”, questiona.
Ela ressalta que as cenas de agressão têm ofuscado a apresentação e o debate de ideias entre os candidatos, o que pode influenciar comportamentos e gerar consequências para a sociedade. “Imagine uma criança ou adolescente adotando essas atitudes. Dificilmente seriam aceitos em qualquer mercado de trabalho”, afirma. “É crucial entender que estamos educando os futuros líderes, que acabam se espelhando em nós, adultos”, completa.
Comunicação e agressão
Stella enfatiza que a violência abrange não apenas o aspecto físico, mas também a verbal, que tem se tornado cada vez mais evidente nos debates. Essa dinâmica tem levado, inclusive, os mediadores dos debates a intervir para controlar o comportamento dos candidatos. Além disso, essas cenas chegam a muitos lares sem considerar a faixa etária dos espectadores, expondo crianças a mudanças bruscas de comportamento, como a intensificação do tom de voz durante a troca de ofensas entre os postulantes.
Nesse contexto, um estudo da Ruhr University Bochum, na Alemanha, revela que o comportamento dos adultos, especialmente dos pais, influencia diretamente as ações das crianças. A pesquisa, que analisou crianças de dois anos, demonstrou que elas imitam as reações emocionais dos adultos em situações desafiadoras. Por exemplo, ao observar seus cuidadores mudando o tom de voz durante uma discussão, elas tendem a replicar esse comportamento quando se sentem nervosas.
A educadora parental destaca que, em meio à avalanche de informações agressivas, as emoções e mensagens são transmitidas de forma significativa por meio das expressões, como a facial e o tom de voz. “Essa é uma maneira de comunicação extremamente poderosa, e devemos prestar atenção especial ao tom de voz, pois ele impacta as emoções da criança”, comenta.
Ela orienta, ainda, que os pais fiquem atentos ao apoio a manifestações ou pessoas que incitam a violência, especialmente na presença dos filhos, já que isso pode influenciar a formação da criança como cidadão e um futuro líder.
Stella Azulay é Educadora Parental pela Discipline Positive Association e Certificada em Psicologia Positiva pela Universidade de Harvard. Especialista em relacionamento pais e filhos, com foco em comunicação e ansiedade parental.TEDx Speaker, Escritora Best Seller do livro ‘Como educar se não sei me comunicar’, mãe de 4 e madrasta de 2. Formada em Jornalismo pela Cásper Líbero, Neurociência Comportamental pela Faculdade Belas Artes.
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