Uma mãe cuida de todos, mas quem cuida dela?

Dar prioridade às necessidades dos filhos não significa negligenciar as suas

Por Gisele Ribeiro

Neste mês de conscientização do Outubro Rosa, que destaca a importância do autocuidado, quero propor uma reflexão que vai além da prevenção do câncer de mama. Vamos pensar no autocuidado integral, enxergando-se como um todo: físico, emocional, mental, espiritual e social.

Como mãe há 13 anos, já vivi diversas fases da maternidade, e uma das mais desafiadoras foi a falta de cuidado comigo mesma. Quando a Sara nasceu, aquela mulher vaidosa, com o amor-próprio em alta, foi colocada de lado. Eu acreditava que meus filhos precisavam de mim acima de tudo, e que eu era a única responsável.

O Rafael com apenas 3 anos e a Sara com 4 meses de vida, prestes a passar por uma cirurgia no coração, minha vida era entre exames, hospitais, médicos, atividades escolares e domésticas. Minha cabeça era uma bomba-relógio. Frequentemente saía de casa de chinelo e moletom, ou até esquecendo de pentear o cabelo, sempre com olheiras.

O que eu não percebia era que dar prioridade às necessidades deles não significava negligenciar as minhas. Eu costumava não me alimentar direito, tomar banhos rápidos e dormir mal. Infelizmente, muitas mulheres permanecem nesse ciclo por anos, esquecendo-se de si mesmas até verem seus filhos adultos. E ao olharem para trás, sentem que não há mais tempo. Mas eu tenho uma mensagem para você: nunca é tarde para começar ou recomeçar!

Ser mãe não significa abrir mão da sua vida, dos seus sonhos ou do seu bem-estar. É possível ser uma mãe dedicada e ainda cuidar de si mesma. Quando descobri isso, foi como uma libertação. Percebi que, se eu não estivesse bem, meus filhos também não estariam. Eles sentem tudo!

Passei então a cuidar do meu corpo, da minha mente, das minhas emoções e do meu espírito. E por que não dedicar um tempo à vida social também?

Se você está pensando que não tem tempo ou recursos financeiros, saiba que sou mãe solo de dois filhos sendo uma com síndrome de Down, com rotinas, escolas e atividades diferentes. Preciso trabalhar para manter a família e ainda assim, eu encontro tempo para mim. Tudo é uma questão de organização e disciplina. Assim como você organiza as tarefas da casa e da família, faça o mesmo por você.

Eu, por exemplo, faço caminhada enquanto espero o Rafael jogar futebol ou leio um livro. Levo meu computador para a clínica onde a Sara faz terapias e trabalho de lá, faço minha unha depois que eles dormem ou assisto um curso online.

Aprendi a dizer “não” quando preciso de um tempo para mim, sem culpa. Às vezes saio para jantar com uma amiga ou faço meditação e peço que eles respeitem esses meus momentos. Se seus filhos forem muito pequenos, peça ajuda a amigos ou familiares para ter um momento seu (eu sei que “rede de apoio” é um tema polêmico e vou deixar esse assunto para uma matéria exclusiva mais para frente).

Então reveja sua vida hoje. Pense no quanto você está se deixando de lado pelos outros. Lembre-se: mesmo que sejam seus filhos, você deve estar em primeiro lugar. Eles observam e sentem tudo, sabem quando você não está bem e cuidar de si mesma estará sendo exemplo para eles no futuro. Deseje que eles te vejam com orgulho da mulher incrível que você é, por se amar, se olhar e se cuidar.

Permita-se ser mulher! Afaste-se do que não faz bem. Sinta-se viva e busque o que te traz prazer e realização. Fazer isso foi uma das melhores decisões que tomei por mim nos últimos anos.

Gisele Ribeiro é profissional de marketing, terapeuta holística e autora do livroDiário de uma mãe nada especial – Desmistificando a mãe idealizadaonde compartilha detalhes íntimos da sua trajetória na maternidade e como isso mudou sua vida, principalmente a profissional

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