A Dolce Morumbi conversou com o guitarrista Rafael Bittencourt, da Banda Angra e morador aqui do nosso Morumbi, sobre o trabalho que fez com diversos artistas: o vídeo-canção “Dar As Mãos”, lançado no último dia 28, que traz uma mensagem de incentivo e esperança enquanto passamos pela quarentena
Rafael comenta com carinho as lembranças das reuniões de família na casa de sua avó. Recorda que chegava um determinado momento em que alguém decidia pegar um violão e começar a tocar uma música. E de forma quase hipnótica, as pessoas se dirigiam a um só lugar e passavam a interagir cantando juntos ou simplesmente escutando ou mesmo dançando. O violão passava de mão em mão e as canções desfilavam estilos que iam desde sambas de Ary Barroso até sertanejos de sucesso, passando por MPB e, às vezes, claro, Rock’n’Roll. Aqueles momentos eram particularmente mágicos para Rafael pois ele via a música unindo pessoas que até então debatiam assuntos com opiniões totalmente diferentes. Nos primeiros acordes de qualquer música, os que até então discutiam em posições opostas, começavam a cantar juntos e de forma entusiasta. E o que mais o encantava, era enxergar que aquela mensagem pela letra das canções, vivia na voz das pessoas mesmo muito tempo depois de seus compositores já terem partido. Ele dizia a si mesmo que, um dia, quem sabe, iria escrever o que ele entendia ser uma espécie de “carta” com sua mensagem para que as pessoas pudessem cantar juntas, sempre que quisessem. Ou precisassem.
No último dia 28 de maio, o menino agora adulto e bem-sucedido artista da música, Rafael Bittencourt que há 30 anos tem enviado suas mensagens pelo mundo todo com a Banda Angra, da qual ajudou a fundar e permanece sendo o único da formação original, lançou uma “carta” para todos nós neste período difícil pelo qual estamos passando e sofrendo vendo a população do planeta ser acometida de uma pandemia que já dura mais de um ano e ceifou mais 3,7 milhões de vida, 470 mil só no Brasil.
O vídeo-canção “Dar As Mãos”, reúne 22 artistas dos mais diversos gêneros, trazendo uma mensagem de esperança para o que, certamente, todos estamos sentindo por estarmos vivendo a experiência de buscar se proteger e, principalmente, de proteger o outro, contra o coronavírus. “E pensar que o melhor que eu posso fazer é ficar longe de você”, é o que diz um trecho da música, nesta altura cantada por Toni Garrido. Esta parte da letra nos dá a exata medida do que um verdadeiro gesto de amor deve significar neste momento em que “dar as mãos foi adiado e abraçar foi proibido”, também um trecho da canção.
O projeto batizado de “Exército da Esperança” nos agracia com um trabalho no qual podemos encontrar diversos significados que apontam para o que estamos vivendo. Por exemplo, a diversidade musical pode estar muito bem indicando que o vírus ataca a todos sem exceção, não importa a cultura ou sua origem social. Em termos artísticos, a fusão de gêneros musicais não é estranha a Rafael, que já experimentara experiências semelhantes com diversos outros músicos com o Angra.
O primeiro a ser convidado foi Carlinhos Brown, grande amigo e do qual Rafael tem grande admiração do seu trabalho e principalmente de sua generosidade com as pessoas. Cada integrante foi chegando aos poucos e mostrando muita satisfação e dedicação em participar. Muitos vieram de sugestões de outros convidados, como foi o caso do MC Guimê. Rafael já tinha feito a composição, mas achou que sua contribuição poderia ser interessante. E foi mais do que isso. Quando o rapper apresentou sua letra, ao telefone mesmo, Rafael ficou muito emocionado vendo que sua contribuição tinha, ao estilo Hip Hop, exatamente a essência e a emoção que se esperava expressar pela canção. A característica do improviso se encaixou perfeitamente com o todo, a ponto de nós ouvintes, acharmos que havia sido planejado desde o início.
Talvez disso possamos tirar outro significado, ao ver que, muitas vezes, expressões diferentes da mesma realidade podem nos levar a um mesmo entendimento da situação. Afinal, estamos todos vivendo o mesmo período e as mesmas consequências.
“Como músico, entendo ter uma responsabilidade social maior, pois meu trabalho, minha música, impacta pessoas e pode influenciar opiniões”, diz Rafael. Para ele, a música deve sempre estar a serviço da convergência e jamais desagregar. Esta é a verdadeira lição que a música o ensinou desde cedo, ali, nos encontros familiares na casa de sua avó!
“Dar As Mãos” pode muito bem ter um viés bem mais significativo quando posta ao lado de projetos semelhantes. Músicos cantando juntos em pró de uma causa não é uma coisa nova. Mas talvez desde o clássico “We Are The World”, o Exército da Esperança não está querendo chamar a atenção sobre um determinado grupo de pessoas excluídas e sofrendo por diferenças socioeconômicas ou para uma tragédia localizada que destruiu vidas. Os músicos expressam o sentimento que todos nós, indistintamente, estamos vivendo. Saudades de estar com pessoas e apreensão pelos perigos de infecção pelo vírus. Talvez, por isso nos identificamos muito com a música e suas expressões no vídeo, pois eles artistas como qualquer um, também estão passando, de uma forma ou de outra, o mesmo que todos.
Questionado sobre o que este projeto pode ainda fazer futuramente, Rafael diz que gostaria de poder realizar uma live com todos eles. Poderia também fazer coisas novas com novos nomes, mas ressalta que qualquer iniciativa dependeria de um propósito. Não poderia ser feito apenas para reunir músicos e se apresentarem. Este é o seu lado social falando mais alto. Neste campo, a entrega do artista não pode ser gratuita ou por motivos puramente promocionais. Precisa ser genuíno e com um sentido que abarque o máximo de pessoas possível.
Participam do vídeo: Carlinhos Brown; Luana Camarah; Toni Garrido; MC Guimê; Livia Soares; Yisrael Fernando; Livia Dabarian; Alírio Netto; Thiago Bianchi; Andria Busic; Marcello Pompeu; Fernando Nunes; Amon Lima, Lucas Lima e Moisés Lima; Nei Medeiros; Marcell Cardoso; Wellington Sancho; Julia Ferreira; Neno Fernando; Carol de Paula; Claudia Bossle
E onde há música, há esperança! Sim! Rafael nos garante que tem muito ainda a nos agraciar com seu trabalho. Dedica-se ao projeto de comemoração de 30 anos do Angra e tem trabalhado novas músicas para um álbum no ano que vem.
E que enfim, possamos ao final, como diz a letra da música, “darmos as mãos revigorados e com abraços fortalecidos”.
Texto por Paulo Maia
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