Mitos que atrapalham a escrita

Por Vivian Rio Stella

Uma das ferramentas mais poderosas e utilizadas na comunicação é a escrita e saber escrever, na realidade, passa por alguns fundamentos importantes. Em primeiro lugar, é preciso ter clareza quanto à abordagem que deve ser usada em cada canal: e-mail, mensagens por aplicativo, relatórios, artigos, textos jornalísticos e cartas, por exemplo, precisam ser escritos de maneiras diferentes para transmitirem a mensagem desejada.

Para além disso, existem três mitos que fundamentalmente rondam a competência de escrever e que mais atrapalham que ajudam. O primeiro é achar que a gramática correta, por si só, garante um bom texto. É claro que conhecer as regras gramaticais é importante, mas isso não é suficiente para que a escrita seja clara e concisa. Há textos que são gramaticalmente corretos, mas que não têm clareza e, portanto, não atingem o seu objetivo.

Outro mito é em relação ao domínio do conteúdo. Muitas pessoas pensam que saber muito sobre o assunto garante uma boa escrita e isso é algo que herdamos dos tempos de escola, em que as aulas de redação são focadas, muitas vezes, no desenvolvimento de temas. Argumentação, fundamentação, dados e informações relevantes são o ponto de partida, mas só dominar o conteúdo não necessariamente garante um texto de qualidade.

O terceiro é pensar que o texto é um produto acabado, que quem escreve bem o faz de primeira e não precisa mexer mais no material. Na verdade, é o contrário: quem domina a escrita faz, reformula, apaga, edita, altera a ordem das palavras e dos parágrafos. Escrever bem, às vezes, é sobre escrever páginas e depois apagar para fazer reformulações com o objetivo de atender às necessidades daquela mensagem. 

O texto é um processo, uma atividade verbal. Edições e reformulações são essenciais para que ele fique a contento. Além disso, é importante pensar no que o leitor espera e o que ele não espera ver no texto. Um e-mail, por exemplo, não deve ser prolixo e conter muitas informações, porque é um canal de comunicação rápida. O mesmo acontece com os aplicativos de mensagens, que são mais interativos e, portanto, não devem ser usados para textos longos.

Na linguística, o gênero é muito importante. Trata-se, basicamente, de um termo técnico para falar sobre o que cada texto deve contemplar. Além disso, textos têm movimentos e, para isso, o uso de algumas técnicas é fundamental, como a inserção de pronomes, expressões e conectivos para encadear as informações de forma que elas façam sentido.

De maneira geral, portanto, devemos encarar a comunicação escrita de uma forma mais processual, como uma atividade interativa, que tem uma expectativa em relação a quem vai receber a informação, além de levar em conta as técnicas que têm a ver com os movimentos do texto. É importante encarar dessa maneira e deixar de lado os mitos do texto muito gramatical, muito conteudista ou como produto.

Vivian Rio Stella é Doutora em linguística pela Unicamp, com pós-doutorado pela PUC-SP, especialista em comunicação e coordenadora do comitê de Comunicação Digital da Aberje. Idealizadora da VRS Academy. Professora da Casa do Saber, da Aberje e da Cásper Líbero. Começou a realizar textos e produzir materiais didáticos e a dar curso sobre redação e e-mails. Por anos corrigiu redações da Unicamp. Do mundo acadêmico queria migrar para o mundo corporativo e depois de anos como consultora montou a VRS, que completa em 2021 oito anos, para ministrar seus próprios cursos e empreender com liberdade.

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