Sorrir não é elegante

Dolce Selfcare

Cecília Trigueiros

A escolha de não exibir sorrisos em campanhas publicitárias, é proposital

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Imagem de Murat Esibatir em Pexels

A tela é envolvida por uma penumbra suave enquanto a música clássica começa a tocar. A câmera se aproxima lentamente, revelando uma sala luxuosa.

No centro há uma poltrona de veludo marfim, onde está sentada uma modelo esguia e deslumbrante. Ela está usando um vestido de seda pura, que desenha seu corpo com linhas precisas e fluidas.

A modelo não sorri, mas seu olhar sereno e profundo conta uma história enigmática e sofisticada.

Ao lado dela, em uma mesa de mármore, repousa a embalagem de um perfume. Desenhada com linhas artísticas, a garrafa é uma obra-prima por si só. A câmera faz um close na embalagem, revelando os detalhes primorosos.

A música cresce em intensidade e a câmera volta a focar na modelo. Um sutil movimento de mão a faz pegar o vidrinho.

A cena se transforma e flashes de momentos efêmeros aparecem: o perfume sendo borrifado no ar, as gotículas refletindo a luz, além da tapeçaria rica que balança suavemente ao fundo, contribuindo para a atmosfera de serenidade e opulência.

As lentes vão se fechando e em momento algum a moça esboça alegria. O comercial de perfume francês é finalizado com a beldade saindo lentamente da sala, deixando à vista o longo decote nas costas nuas.

Imagem de Cottombro Studio em Pexels

Mas por que ela não dá uma risadinha sequer se é bonita e magra, mora num palacete e tem o aroma de um dos perfumes mais caros do mundo no corpo?

Mulherzinha chata!

Não, bonitas, é tática de marketing para marcas luxuosas.

No restrito universo do luxo, cada centímetro de sorriso diminui o valor do que está sendo vendido. Ou seja, a comunicação visual para esse setor diz mais do que mil palavras.

A escolha de não exibir sorrisos em campanhas publicitárias, é proposital.

Em primeiro lugar, é preciso compreender que essas marcas cultivam uma aura de exclusividade e sofisticação. A tática é não se comunicar com os clientes com o objetivo de vender, mas sim, seduzir.

E a pompa atrai com uma certa distância e mistério. Ao contrário das brands comuns que abusam de risadas como uma maneira de se aproximarem do consumidor, as suntuosas se valem do afastamento para atrair o público-alvo: milionários.

Pensem comigo, vocês normalmente passam o fim de semana em Capri, num hotel 5 estrelas, passeando numa Lamborghini e trajando um Versace na praia? Adoraríamos, não? Notem que essa cena envia a mensagem de momentos especiais, únicos e inatingíveis para a maioria de nós. Ou seja, momentos para poucos privilegiados.

O recado é entregue de maneira blasé, indiferente em sua totalidade, justamente por conta das expressões neutras e sérias que os protagonistas das fotos ou comercias apresentam.

A ausência de sorrisos também pode ser interpretada como um sinônimo da sutileza emocional. A comunicação não verbal carrega um peso significativo; expressões faciais podem evocar uma variedade de emoções e a escolha de um semblante sério pode ser vista como um modo de transmitir serenidade, confiança e controle. Portanto, ao se adquirir um item de extremo valor, no imaginário do consumidor, ele sentirá que elevou mais ainda o seu status.

Resumindo, bonitezas, sorrir parece ser sinal de pobreza…kkk

Xí, acabei de dar uma gargalhada! Foi constatada a minha penúria?

Na branding de luxo, a falta de sorrisos se revela, portanto, não como uma ausência, mas como uma presença rica em significados e intenções.

Pronto, agora que está devidamente explicado, vamos soltar um largo sorriso de comercial da Coca-Cola porque amanhã é sexta-feira e a Sephora está em promoção!

Design Dolce sob imagem de Anna Subbotina em Canva

Cecília Trigueiros é maquiadora profissional, especialista em autocuidado, beleza e promove cursos de automake e ginástica facial.
“Ajudo a fazer as pazes com o espelho” 

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