Divulgar despedida de pessoas que morreram por suicídio é gatilho a quem está vulnerável

A psicóloga e fundadora do Instituto Vita Alere ensina o porquê não devemos compartilhar mensagens de despedidas

Design Dolce sob imagem por Roger Alan Lee em Canva

Há poucos dias foi comunicada a morte do poeta e acadêmico Antonio Cícero por suicídio assistido na Suíça. Cícero deixou uma carta aos amigos; carta esta que foi divulgada massivamente. Embora seja natural que as pessoas busquem entender o contexto da situação, especialmente por se tratar de suicídio assistido, a divulgação dessas mensagens, por mais que pareça inofensiva, pode intensificar o sofrimento das famílias e atuar como um gatilho para pessoas em situação de vulnerabilidade emocional.

Dra Karen Scavacini, psicóloga, fundadora do Instituto Vita Alere e palestrante TEDx, destaca que o compartilhamento de cartas de despedida de pessoas que morreram por suicídio representa uma prática preocupante e fala sobre o assunto: “A exposição a essas mensagens de despedida pode servir de gatilho para quem enfrenta a dor e o desespero. Em vez de promover compreensão, o compartilhamento dessas cartas pode inadvertidamente sugerir que o suicídio seja uma saída, reforçando o sofrimento daqueles que lutam com pensamentos suicidas”.

Design Dolce sob imagem por Robert Kneschke em Canva

Esse impacto negativo estende-se também à divulgação de métodos, que a OMS desaconselha expressamente, pois pode atuar como uma espécie de “manual” para quem está em sofrimento intenso.

É essencial falar sobre o suicídio de forma responsável. A abertura para o diálogo sobre esse tema salva vidas, mas é preciso fazê-lo de maneira ética e cuidadosa. “O suicídio cresce no silêncio, mas falar sobre ele não significa expor o adeus ou detalhar métodos. Falar sobre suicídio é, antes de tudo, construir espaços seguros possamos falar abertamente, entender o que houve, onde o sofrimento possa ser acolhido e a busca por ajuda incentivada”, explica a psicóloga.

Dra Karen conclui reforçando que é possível e necessário abordar o suicídio sem sensacionalismo, de modo a promover a escuta ativa e o incentivo à busca de ajuda profissional.

Respeitar a memória de quem partiu é, também, cuidar daqueles que ficaram”, finaliza a especialista.

Imagem de NoName_13 por Pixabay

Dra. Karen Scavacini é idealizadora, cofundadora, coordenadora e responsável técnica do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio. Formada em psicologia, Karen é doutora em “Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano” pela USP e mestre em “Saúde Pública na área de Promoção de Saúde Mental e Prevenção ao Suicídio” pelo Karolinska Institutet, localizado na Suécia. 

É representante do Brasil no IASP (International Association for Suicide Prevention), membro da American Association for Suicide Prevention, nos Estados Unidos; do LIFE (Living is for Everyone), na Austrália; do Global Mental health Action Network (GMHAN),   e do Global Psychology Network, além de autora de um livro que auxilia pais e educadores a conversarem sobre suicídio, “E agora? – Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio”. Além disso, é membro do “SSI Advisory Commitee” do Facebook e grupo Meta.

Palestrante – inclusive TEDx Speaker, Dra Karen participou de eventos nacional e internacionais falando sobre a importância de se falar sobre saúde mental, prevenção e posvenção do suicídio. Entre os eventos participantes estão o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sirio Libanês, o IPQ USP – Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a Faculdade Getúlio Vargas (FGV).

@karensca

 

O Instituto Vita Alere tem por visão uma sociedade mais aberta e atenta à saúde mental dos indivíduos, organizações e da própria sociedade, onde a promoção da saúde mental seja um objetivo contínuo, reduzindo preconceitos, criando consciência pública, falando abertamente, valorizando a vida, promovendo formas mais saudáveis de se relacionar e enfrentar os sofrimentos existenciais, facilitando a recuperação e tratamento. Pioneiro no Brasil em sua área, foi fundado em 2013 com a missão de promover a saúde mental do indivíduo, organizações, instituições e sociedade, com o foco na promoção de saúde mental, prevenção e posvenção do suicídio e autolesão, sendo referência na área através do desenvolvimento de projetos, tratamento especializado, pesquisa e atividades de educação, suporte e apoio, com inovação, dedicação, respeito e cuidado. 

@vitaalere

 

Colaboração da pauta:

Prima Donna – Comunicação e Empreendedorismo

@primadonnacomvc

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