É frequente ver pessoas se deleitando e achando maravilhoso a velocidade com que atividades são substituídas por tecnologias. Quando vemos que podemos fazer coisas apenas com um clique no aplicativo do celular ou simplesmente usando vozes ou movimentos do corpo, nos sentimos donos da vida e do mundo, vivendo o futuro no topo da nossa genialidade. Coisas sendo feitas para nosso conforto e desejo sem precisar de nossa intervenção é sem dúvida a vida que apenas deuses possuem. Chegamos, enfim, ao nosso grande momento?
Talvez esse seja a nossa grande soberba e inconfessável vaidade ao acharmos que nos bastamos por si próprios. Mas o que pode estar debaixo de nossos pés é um abismo que nossa simples condição humana não poderá jamais atravessar.
A tecnologia começa a substituir não apenas coisas e atividades, mas principalmente seres humanos. Um dos grandes desafios para todos é nos mantermos relevantes num mundo em que fazemos coisas para não precisarmos fazer mais nada. Sem dúvida estaremos muito longe de sermos explorados por pessoas, mas logo estaremos numa condição de irrelevância frente à tecnologia. Nosso trabalho e nossa capacidade de realizar coisas será substituída por tecnologia e algoritmos dos mais diversos. Eu nem vou perder seu tempo, leitor, em dar-lhe exemplos. Basta você dar uma olhada à sua volta e verá que muitas profissões já foram trocadas por computadores e máquinas que funcionam muito melhor do que humanos. E muitas outras estão na lista de substituições. Busque saber em que lugar está a sua.
Não é possível frear a inclinação humana para o desenvolvimento e invencionice. O gatilho fora feito bem lá atrás nas primeiras ferramentas pré-histórica e desde então, a velocidade com que criamos coisas para “melhorar a vida” não para. O que talvez possamos fazer é buscar estarmos sempre relevantes num mundo cada vez mais próximo da irrelevância. Mudar o tempo todo, mesmo que a mudança seja um processo lento e doloroso e que ninguém gosta de passar, principalmente na medida em que envelhecemos. Se reinventar, manter-se curioso, aprender sempre algo novo e buscar incessantemente ser útil para se manter vivo. Essa é a nova selva, o novo meio ambiente que criamos para o teatro da vida.
Nosso inconfessável desejo pelo moderno e sofisticado conforto precisa levar em conta nossa insubstituível condição biológica e humana pela vontade de viver. Conciliar as duas coisas é o grande desafio da humanidade no momento.
Lembre-se: sua vida (além de você mesmo) ainda é muito mais interessante do que uma máquina ou um algoritmo, mesmo que estes sejam mais eficazes.
Paulo Maia é publicitário, filósofo, morador do Morumbi e mantém sua curiosidade sempre aguçada.
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