Por muitos anos, eu tinha o hábito de correr às compras em busca de um novo vestido, um novo sapato, um novo look para cada evento ou festa que surgia, mesmo com várias opções no armário. Gostava de variar e me expressar com um estilo muito particular. Um dia percebi que esse hábito era contraditório à minha narrativa de vida. Vi que estava na direção contrária do termo practice what you preach – seja coerente com o seu discurso. Tomei consciência de que o prazer em comprar algo novo é efêmero, dissolve-se como espuma.
Enquanto o espaço que meu marido ocupa é imensamente menor, acomodando somente peças essenciais, meus armários e gavetas foram sempre abarrotados. Falo no plural porque, além dos armários do meu quarto, invadi os do quarto que era do meu filho, quando morava conosco.
E aí, em 2020, assim que entramos em isolamento social, peguei meu livro da Mari Kondo (1) e fiz uma faxina radical em todos os armários e gavetas, o que resultou em 7 imensos sacos de roupas para doar. Após a dura tarefa de 3 dias, senti-me leve e plena. O espaço ficou arejado, funcional e mais sustentável. Ainda assim preciso perseguir a meta recomendada pela jornalista mineira Alexandra Farah: “construa um guarda-roupa de apenas 50 peças, adote o movimento tiny wardrobe. Isso chama-se desapego, um sentimento muito importante a ser cultivado.
Você já se questionou sobre o impacto que as roupas geram? Já parou para pensar o quanto a indústria têxtil polui a atmosfera, a água, os solos? É uma das quatro indústrias que mais consomem recursos naturais: milhares de litros de água e um volume significativo de energia, sem contar nos inúmeros elementos químicos que utilizam na confecção das peças e que poluem a natureza.
Consumir roupas de forma consciente pode transformar a sua relação com a moda e o meio ambiente. A onda agora é vestir-se nos princípios do slow fashion, do upcycling, dos brechós, numa lógica de reaproveitamento e transformação. O slow fashion é um movimento que surgiu baseado nos conceitos de sustentabilidade e consumo consciente e, cada vez mais, estão surgindo marcas nessa linha. Sua produção valoriza as pessoas, os processos, o tempo real de produção e a cultura local, isto é, todos os envolvidos têm a mesma relevância. Na contramão, temos o fast fashion, cujo foco é vender em maior quantidade num curto período e em grande escala, sem valorizar processos, costumes locais, desrespeitando o meio ambiente e, muitas vezes, até envolvendo trabalho análogo a escravo.
Anualmente, o Brasil descarta cerca de 175 mil toneladas de sobras de tecido, das quais somente 15% são reprocessadas para se transformarem em novos produtos. Como solução inteligente, surgiu o upcycling, que reaproveita resíduos têxteis para criação de novas roupas. Este movimento vem muito ao encontro dos adeptos da moda sustentável, pois evita o desperdício de materiais em condições de uso e reduz o consumo de novas matérias-primas, a poluição do ar e da água e a emissão de gases de efeito estufa. Grandes marcas internacionais, como Louis Vuitton, NK Store, Christopher Raeburn e Dolce&Gabbana abraçaram de vez este movimento. Temos também várias marcas brasileiras que estão nessa linha, vale conferir.
Recentemente, a jornalista inglesa Lucy Siegle, colunista de comportamento ético do jornal inglês “The Guardian”, avisou que o consumidor pós-pandemia terá de conjugar outros verbos além de “comprar”. As palavras de ordem agora são “reformar, alugar, emprestar, compartilhar, trocar…”.
Os brechós representam uma alternativa sustentável e há lojas para os todos os estilos: retrô, clássico, moderno, básico ou de luxo. Outra opção são os brechós beneficentes que, além de oferecer peças bacanas, te dá a oportunidade de ajudar o próximo. Há também as plataformas para compartilhamento de guarda-roupas e marcas que promovem a compra de roupas usadas, às vezes até de celebridades.
Ao ler a declaração do ícone da moda Vivienne Westwood – “compre menos; escolha bem; faça durar” -, lembrei do que uma amiga querida sempre fala “engordar não é sustentável, pois você perde suas roupas e tem que comprar novas”. E isso é tão verdadeiro! Por isso estou em dieta para voltar a vestir minhas boas e antigas roupas (risos).
Quando sair para comprar uma peça nova, recomendo algumas reflexões:
- Prefira o clássico à moda
- Invista em peças de qualidade
- Mantenha-se em forma para não perder roupas
- Pense em comprar de brechós
- Organize seus guarda-roupas regularmente
- Valorize a produção local
- Priorize peças duráveis
- Dê preferência a marcas de produção sustentável
- Conheça a origem das roupas que consome
- Descarte corretamente
- Adote o tiny wardrobe
- Antes de comprar uma peça nova, reflita se realmente precisa dela
- A cada novo item que comprar, considere doar pelo menos um
(1) Mari Kondo – A mágica da arrumação, Sextante, 2015
Inspirações: Portal eCycle, Good House Keeping, Who What Wear e The Good Trade
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