As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.
Friedrich Nietzsche
Dia a dia, procuro identificar o que são essas imagens que desfilam diante de mim. Também me esforço para compreender o que estão dizendo. Não são tão estranhas assim. Entendo partes, mas não consigo ver sentido no todo. Começo a desconfiar de que não há intenção em explicar nada, apenas causar uma distração no entendimento.
Suspeito de que o que chega até a mim por tais fontes de informação não são mais do que sombras de um mundo que se expressa em linguagem e imagens que sugerem apenas conjecturas. Pouco se sabe de verdade desse mundo.
Sensações permitem, sim, emitir opiniões. Mas uma opinião não é boa conselheira. A ânsia em entender as coisas no agora impede que se ilumine os cantos onde uma verdade pode estar escondida.
Uma sobrevivência razoável deve se antecipar a potenciais perigos que a vida pode trazer e, portanto, é necessário saber sobre as coisas mais do que imaginar ou intuir. É fundamental o contato com um mundo mais inteligível e menos sensível.
Posso me apoiar na pessoa ao meu lado buscando conhecer o que ela sabe e assim ampliar meu conhecimento. Mas, neste mesmo instante, reconheço que ela pode saber menos que eu ou pior: pensar que sabe e, por isso mesmo, emitir opiniões e outras alheias e me descrever um real que não é! Como sei disso? Porque eu mesmo posso dar-lhes as minhas opiniões como certas sobre um mundo que não existe e ficamos, os dois, desorientados, na melhor das hipóteses. O pior é julgarmos que temos conhecimento suficiente e darmos o próximo passo. Rumo a um abismo.
O que fazer? Sigo um instinto inquisidor e vou atrás do saber, de conhecer o mundo. Conceitos levam ao conhecimento e para se ter acesso a estes, é preciso caminhar na direção daquela luz que incide sobre o que se apresenta nas sombras.
Com coragem ouso olhar dos lados e procuro saber de onde vem essa luz. Sua luminosidade aumenta na medida em que movimento minha cabeça e amplio meu horizonte. Compartilho meus planos com outras pessoas, mas vejo reagirem com olhares amedrontados. Começo não ser mais de confiança. Não deveria questionar visões e crenças da maioria.
Insatisfeito com a situação e inconformado com o que se têm acreditado até então, me contorciono até o ponto de quebrar correntes que me mantinham presos sem que eu tivesse consciência disso. Sinto a liberdade invadir minha alma, mas com ela vem junto um certo desconforto por ter saído do estupor de onde me encontrava. Ao me levantar me espanto ao ver que me encontro numa espécie de caverna. E quase que, instintivamente, me dirijo para uma luz que pode me indicar uma saída.
O caminho é sinuoso e vou meio trôpego, pois a luz que chega cega minha visão nos primeiros instantes até que eu me acostume à sua intensidade. Consigo enfim, achar a saída, e lá fora o que venho a experimentar inunda meu ser, pois vou aos poucos me acostumando e gostando da luz. Descubro sua fonte. É uma energia constante e que desvela a verdade tirando-a da escuridão e fazendo me ver todo o seu significado!
O mundo, enfim, pode ser inteligível! E viver nele se mostra mais prazeroso e mais seguro. É quando o conhecimento e a busca pelo saber fazem todo o sentido. É preciso levar isso a todos!
Mas minha volta é tortuosa e minha história desacreditada. Viro objeto de galhofa e escuto que este passeio é infrutífero e que luzes estragam a vista. É um momento no qual corro risco de vida quando insisto que vejam também com seus próprios olhos!
Cancelam minha vida e sou banido do convívio até mesmo da minha gente. Ainda não há espaço para a redenção, mas sento e escrevo meu manifesto.
Uma arqueologia no futuro identifica ossos numa caverna no meio do deserto. Eles não emitirão qualquer som, mas uma escrita perene indica que alguém em algum momento, viu uma luz que o cegou por um instante para depois dar-lhe o vislumbre de uma realidade para aqueles que, um dia quem sabe, poderão também presenciar.
Paulo Maia é publicitário, um pensador livre e morador do Morumbi que mantém sua curiosidade sempre aguçada
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Comentários
Querido amigo Paulo! Seu texto é lindo, amei. Porém não sei se sua luz é a minha luz e, tomara que seja. Esta luz q não consegue iluminar os cegos.
Me sinto de mãos amarrafas pir não poder espalhar o fato de que a escuridão está entorpecendo o ser.
Parabéns pelo seu texto. 😘
Muito obrigado Deborá! Beijos