Tecnologia como ferramenta para modelo de uma sociedade mais sustentável

Ponto de Vista

Os textos, artigos e opiniões publicados nesta seção não traduzem ou representam a opinião ou posição do Portal. Sua publicação é no sentido de  estimular o debate de problemas e questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

Por Emanuel Queiroz

A humanidade tem uma rara oportunidade que se apresenta ao longo de sua história de unir uma necessidade latente de uma espécie e a capacidade intelectual/tecnológica para superar o desafio imposto pelas condições naturais do planeta. Após mais de um século de degradação acelerada do meio ambiente causado pelo homem, relatórios climáticos globais apontam a urgência de se tomar medidas para conter o avanço do aquecimento do planeta que pode inviabilizar a vida como conhecemos.

A cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as questões climáticas, a COP26, que ocorreu em 2021, em Glasgow, na Escócia, reuniu os principais líderes mundiais, cientistas e ativistas do meio ambiente para definirem metas de curto, médio e longo prazos para governos e empresas se comprometerem com a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE), apontados como os principais responsáveis por provocarem o aumento da temperatura do planeta.

Enquanto as organizações se esforçam para definir suas metas de Net Zero e preparar um inventário de todo seu atual impacto ambiental, a chamada pegada de carbono, a tecnologia assume um papel essencial, que vai desde a aferição por meio através de sistemas que interpretam os sinais captados por sensores, por exemplo, em sensores que medem a saída de auto fornos em indústrias de siderurgia para identificar a concentração de gases danosos ao meio ambiente, até simulações para um balanço energético otimizado, identificando qual melhor fonte de energia usar, como em uma casa que possui painéis fotovoltaicos, aquecimento a gás e aquecimento solar da água. Dependendo das condições climáticas, temperatura e demanda, um sistema deve ser acionado ou uma combinação otimizada (algo parecido com o que ocorre com os carros híbridos ao fazerem a combinação ideal das fontes de energia segundo a medição da pegada de carbono determinada pelo sistema). O consumo final é sempre convertido em Ton de Co2, ou na pegada de carbono daquele processo.

Para esse levantamento são incorporadas tecnologias como sensores, Inteligência Artificial sustentável, geolocalização e sistemas de cálculo para LCI (Life Cycle Invetory), que é a medição da pegada de carbono de um produto desde sua concepção até seu descarte final ou reciclagem. Esses equipamentos somados as rotinas de captura e tratativa de dados, permitem a criação de modelo que irá cruzar todas as informações para obter o resultado real. No entanto, quanto mais dados forem cruzados, mais complexos cenários poderão ser analisados em profundidade, e mais complexo também se tornará o sistema usado para converter dados em informação para tomadas de decisão.

Hoje, por meio desde tipo de sistema de análise, sabemos que os oceanos são responsáveis pela captura de até 25% do Co2 do planeta, e de 90% do calor excedente gerado, além de nos prover 50% do O2 da Terra. Foi preciso desenvolver um grande aparato da chamada Inteligência Artificial Sustentável, que faz análise de padrões e correlações, para chegar a essas informações.

Assim o papel da tecnologia é trazer eficiência, transparência e confiabilidade aos processos energéticos e de medição e divulgação da pegada de carbono. Além de prover análises, simulações e propostas de tecnologias mais limpas, sua viabilidade e aplicabilidade.

Além da função de comunicar os impactos, por meio dos dados coletados e modelos, que simulam diferentes condições, que dão um panorama real de como as ações da vida cotidiana, consumo e processos produtivos são sentidos pelo meio ambiente, a tecnologia exerce a função de provedora de soluções, as chamadas tecnologias limpas, ou mais limpas, que buscam gerar o menor impacto possível. Esse é o caso dos sistemas que avaliam o ciclo de vida de determinado material, ou que são usados para cruzar dados em busca de interações em diferentes organizações, a chamada simbiose industrial, que ocorre quando uma companhia tem potencial para reaproveitar o resíduo produzido por outra como matéria-prima.

Um case clássico é o de Kalundborg, na Dinamarca, onde as empresas parceiras nesta cidade portuária conseguiram reduzir as emissões de CO2 em 275 mil toneladas, poupando cerca de 80 milhões de euros por ano. Pois, a pureza da água necessária para uma empresa de plásticos é muito menor que a usada para produção de dispositivos eletrônicos, então o que sai de uma indústria será reutilizada pela outra localizada na mesma região, que por sua vez envia a água, depois de utilizada, para outra que faz uso desta para limpeza de cisternas. Essas trocas são antes simuladas e tem sua viabilidade, considerando diferentes fatores, além das emissões, como custos, distância, pureza e eficiência, por um sistema que processa dados e faz análises de tendências.

Esses modelos de aplicações podem e devem ser replicados a exaustão, principalmente com o advento do 5G e das Smart Cities, onde os temas de mobilidade, compartilhamento de dados, serviços sociais, segurança e engajamento da comunidade são otimizados pela troca de informações, dispositivos de IoT (sigla em inglês para Internet das Coisas) e a IA sustentável. Porém, para acompanhar essa revolução verde e alcançar as metas de redução de emissão, é necessário que as organizações tenham investimento em uma profunda transformação digital que leve a transição de uma cultura Data Driven.

Porém, de acordo com o relatório “Sustainable IT: Why it’s time for a Green Revolution for your organization’s IT”, desenvolvido em 2021 pelo Capgemini Research Institute, 50% das empresas têm metas claras para redução de suas emissões, mas somente 18% têm uma estratégia de TI sustentável, que passa também pela adoção de cloud, por repensar o ciclo de vida dos equipamentos eletrônicos, consumo de energia dos Data Centers privilegiando o Ecodesign e utilização do conceito de computação de borda.

A tecnologia está aí para prover ganho de eficiência, para que possamos fazer mais e melhor, com uso otimizado de recursos, garantindo o desenvolvimento atual sem impactar o desenvolvimento das futuras gerações.

Emanuel Queiroz é diretor de desenvolvimento na nuvem da Capgemini Brasil

A Capgemini é líder global em construir parcerias com empresas para transformar e gerenciar seus negócios, aproveitando o poder da tecnologia. O Grupo é guiado dia após dia pelo propósito de liberar a energia humana por meio da tecnologia por um futuro inclusivo e sustentável. É uma organização responsável e diversa com um time de 340.000 pessoas em mais de 50 países. Com sua forte herança de 55 anos e profunda experiência no setor, a Capgemini conquistou a confiança de seus clientes para atender a toda a amplitude de suas necessidades de negócios, desde a estratégia e concepção de projetos até a operação, impulsionada por um mundo de nuvem, dados, IA, conectividade, software, engenharia digital e plataformas em rápida evolução e repleto de inovação. O Grupo reportou em 2021 receitas globais de € 18 bilhões.

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