O Natal de quem trabalha

Dolce Contos do Chef

Chef Eduardo de Castro

Todos de alguma forma merecem que no dia 24, quando levantar os olhos para o céu, pensem naqueles que ajudam a sua paz e ao conforto que todos desejamos

Imagem por Elnur em Canva Fotos

Quando eu era garoto, esperava ansiosamente a chegada do Natal para visitar os meus avôs paternos e maternos em Trás-dos-Montes. Como minha mãe era professora, vivíamos desde os princípios de dezembro com a ansiedade natural da chegada das férias e da viagem montanha acima a caminho do gelo, da neve e de uma lareira bem quentinha que nos recebia. Morávamos em Santo Tirso, cidade encantadora ao lado do Porto. O bolo Rei e os jesuítas (doces tradicionais beneditinos da pastelaria Moura) eram as compras finais antes de embarcar no carocha (fusca) familiar rumo aos meus mais profundos sonhos natalícios.

Com o passar dos anos, e ainda antes de eu trabalhar, fui dando conta da quantidade de gente que trabalha no Natal – época habitual de férias e reuniões familiares. Já adulto, me lembro da tristeza de uma aeromoça da Swiss Air Lines que após o voo me transportou de Genève até o Porto, descobriu por questões meteorológicas não voltaria para a Suíça a tempo da ceia familiar. Tomei um café com ela – enquanto esperava meu pai me buscar no aeroporto – e talvez a partir deste dia me dei conta de que eu próprio teria pela frente muitos dias de Natal trabalhando, alimentando e doando o carinho possível para quem entra num restaurante ou num hotel em dias tão especiais como este.

Imagem por Vasyl Domatov em Canva Fotos

Aí a nossa imaginação, a cabeça e o coração nos transportam para a simbologia desta data. Quantos e quantos, longe de suas casas, por razões profissionais ou outras, fecham os olhos no dia 24 sozinhos em qualquer parte do planeta, mas cientes de que a paz pode ser criada e praticada a solo com a vontade firme que estar espalhada por pessoas que amamos em todo o universo. Este ano, por aqui no restaurante, vamos trabalhar dois meios períodos nos dias 24 e 25. Guardei a maioria dos dias para que a minha equipe possa festejar o momento com as suas famílias e amigos. Mas fica aqui a reflexão: hospitais, transportes, garçons, postos de gasolina, motoristas, cozinheiros, jornalistas, bombeiros, policiais – todos de alguma forma merecem que no dia 24, quando levantar os olhos para o céu, pensem naqueles que ajudam a sua paz e ao conforto que todos desejamos.

Feliz Natal, um beijo.

E até a próxima!

Imagem por Andrew Poplavsky em Canva Fotos

Chef Eduardo de Castro é jornalista de formação, mas foi na gastronomia que ele percebeu que o seu amor pelas panelas era maior do que pela escrita, mas mesmo assim trará seus contos quinzenalmente na Dolce Morumbi 

Acompanhe o Che Eduardo de Castro em seu perfil no Instagram

@casadochefeduardodecastro

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