Decifrando as entrelinhas da comunicação
Na comunicação humana, as palavras que escolhemos são apenas a ponta do iceberg. Abaixo da superfície, uma corrente poderosa de sinais não verbais flui, transmitindo emoções, intenções e mensagens muitas vezes mais eloquentes do que a fala ou a escrita. “Como fonoaudióloga especializada em comunicação, tenho testemunhado e estudado a riqueza e a profundidade da comunicação não verbal. Esta linguagem silenciosa, abrangendo desde expressões faciais e postura até o tom de voz e o uso do espaço, constitui uma peça central na maneira como nos conectamos, entendemos e nos relacionamos uns com os outros”. Destaca Mirna Abou Rafée.
A força da expressão não verbal
Estudos atribuídos a Albert Mehrabian, psicólogo de renome, mais conhecido por seus estudos pioneiros sobre a importância relativa da comunicação verbal e não verbal, estimam que até 93% da comunicação entre as pessoas é não verbal. Isso significa que, em cada interação, o que não dizemos pode ter um impacto maior do que as palavras pronunciadas. A capacidade de ler e interpretar corretamente esses sinais não verbais pode melhorar significativamente nossas interações sociais e profissionais, criando uma compreensão mais profunda e conexões mais autênticas.
A comunicação não verbal não serve apenas para transmitir informações por si só; ela também complementa, enfatiza ou, às vezes, contradiz a mensagem verbal. Um tom de voz caloroso acompanhado de um sorriso genuíno pode reforçar uma saudação verbal, transmitindo sinceridade e abertura. Da mesma forma, um franzir de testa ou um olhar desviado pode contradizer palavras de acordo, revelando dúvidas ou desacordo não expressos verbalmente.
Além de complementar a comunicação verbal, os sinais não verbais são cruciais na regulação das interações sociais. Eles nos ajudam a decidir quando é nossa vez de falar ou ouvir e podem indicar interesse, tédio ou o desejo de encerrar a conversa. Em alguns contextos, a comunicação não verbal pode até substituir completamente a verbal, como em um aceno de cabeça que dispensa a necessidade de uma resposta verbal.
Desafios em ambientes virtuais
No ambiente digital, onde as pistas visuais e auditivas são limitadas ou distorcidas, a importância da comunicação não verbal é ampliada. A falta de sinais não verbais completos pode levar a mal-entendidos ou a uma sensação de desconexão. Isso nos desafia a sermos ainda mais conscientes e intencionais no uso da linguagem corporal, expressões faciais e até na escolha do cenário virtual, para transmitir nossas mensagens de maneira clara e efetiva.
É fundamental reconhecer que a comunicação não verbal é profundamente influenciada pela cultura. Gestos, posturas e expressões que são considerados apropriados ou positivos em uma cultura podem ter conotações completamente diferentes em outra. Essa diversidade requer uma compreensão sensível e um respeito pelas normas culturais, evitando mal-entendidos e promovendo uma comunicação intercultural eficaz.
Neste contexto digital e globalizado, a habilidade de se adaptar e interpretar corretamente a comunicação não verbal é mais do que uma competência; é uma necessidade. À medida que avançamos, torna-se crucial para profissionais da comunicação, educadores, líderes e praticamente qualquer indivíduo, desenvolver uma percepção aguçada desses sinais não ditos. Eles são a chave para decifrar subtextos em conversas, entender plenamente o que está sendo comunicado e responder de maneira mais informada e sensível.
“Podemos levar em consideração, que desenvolver a habilidade de interpretar e usar a comunicação não verbal é tão importante quanto aprimorar as habilidades verbais e de linguagem. Em nossa prática, enfatizamos a importância de uma abordagem completa da comunicação, reconhecendo que os sinais não verbais desempenham um papel crucial na expressão e interpretação das intenções e emoções humanas”. Conclui Mirna Abou Rafée.
Idealizadora da Yutter, Mirna Abou Rafée é tagarela por vocação e apaixonada por comunicação. Acredita que tão importante quanto o que se diz é como se diz. Defende que uma comunicação autêntica e bem desenvolvida faz você sair na frente e garantir um lugar de destaque, seja onde for. Afinal, uma boa fala tem o poder de valorizar qualquer discurso.
Fonoaudióloga formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Especialista em voz pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia com duas pós-graduações; Mentora de comunicação de líderes e executivos de empresas de diversos segmentos; Participação no programa de neurociências na Universidade de Yale em Connecticut/USA
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