Alain Delon, a beleza entre luz e escuridão

Dolce Selfcare

Cecília Trigueiros

Delon muitas vezes se via interpretando personagens complexos, que lutavam com suas próprias sombras internas, refletindo, talvez, suas próprias batalhas pessoais

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O ator francês Alain Delon ficando entediado no jantar oferecido para o Cinema Gala no restaurante Vecchia America di Corsetti. Roma, 1961
Foto por Reporters Associati & Archivi\Mondadori, Domínio Público, via Wikimedia Commons

Há pouco mais de uma semana foi-se o homem mais bonito do mundo, levando consigo mais de 90 filmes, personagens memoráveis, paixões tumultuadas e um emaranhado de sentimentos mal resolvidos.

Sua vida daria um filme emocionante; o ator cresceu em uma família desestruturada, sendo que aos quatro anos seus pais se divorciaram. A ausência do pai, que o abandonou, aliado à uma mãe que parecia frequentemente distante, foram os principais fatores que moldaram a psique de Delon.

Ele passou um período sendo criado por um casal que morava perto de uma prisão, onde o menino brincava com os guardas. Os pais adotivos foram misteriosamente assassinados e ele voltou a conviver com sua mãe, então casada com outro homem.

Teve uma infância problemática, sendo expulso de várias escolas. Aos 15 anos parou de estudar e, aos 17, alistou-se na marinha, tornando-se paraquedista na Guerra da Indochina. Em 1956, morando em Paris e sem dinheiro, trabalhou como porteiro, garçom, secretário e açougueiro.

“Filet Mignon para hoje, Dona Bonita?” kkkk, não resisti…

Alain Delon (como Tom Ripley) e Marie Laforêt (como Marge Duval) no terraço de um café na Itália, durante as filmagens do filme Purple Noon, de René Clément, em agosto de 1959.
Foto por Getty Images.fr, Domínio Público, via Wikimedia Commons

Voltando ao protagonista do “Pássaro do sol”, o sentimento de abandono e a necessidade de validação tornaram-se temas recorrentes em sua vida, influenciando tanto suas relações pessoais, quanto suas escolhas profissionais.

Em diversas entrevistas, falou abertamente sobre os fantasmas que o assombravam. Ele desabafou sobre como o medo de ser rejeitado o impulsionava a buscar a perfeição em sua arte, ao mesmo tempo que o impedia de se abrir completamente nas relações. Esse dilema parecia ser uma constante em sua vida: a dualidade entre o desejo de ser amado e o receio de perder novamente aqueles que lhe eram queridos.

A beleza do ícone francês é comparável ao personagem que ele interpretou em “O Samurai”, Jef Costello. Assim como o ator, Jef é a personificação do charme enigmático e elegância. Com seu olhar atento e impassível, Costello nos encanta de maneira quase hipnótica, lembrando a expressão serena e ao mesmo tempo intensa de Delon. O personagem, um assassino frio e calculista, é envolto numa atmosfera de solidão que espelha a complexidade da própria personalidade de Delon.

Alain Delon e sua filha Anouchka no Festival de Cinema de Cannes
Fotor por Georges Biard, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

Essa profundidade nas expressões e nas histórias lhes concede um encanto que vai além do físico; envolve mistério, dor e um apelo quase poético.

Complicado, não bonitas? Não temos tudo na vida, nem mesmo aqueles que acreditamos possuir.

A influência desse passado pode ser vista em suas atuações intensas e em sua capacidade de transmitir emoções profundas. Delon muitas vezes se via interpretando personagens complexos, que lutavam com suas próprias sombras internas, refletindo, talvez, suas próprias batalhas pessoais.

A vida do ícone francês é um testemunho do poder da vulnerabilidade e da capacidade da arte de transformar dor em beleza.

O homem mais bonito do mundo morreu em 18 de agosto, aos 88 anos, na França.

“Ele era mais do que uma estrela, era um monumento francês”, resumiu o presidente Emmanuel Macron.

Alain Delon durante as filmagens de Clã dos Sicilianos no aeroporto de Roma-Fiumicino, em 1969
Archives Photos, Public domain, via Wikimedia Commons

Cecília Trigueiros é maquiadora profissional, especialista em autocuidado, beleza e promove cursos de automake e ginástica facial.
“Ajudo a fazer as pazes com o espelho” 

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