A importância da relação entre escola e família para o desenvolvimento das crianças

Na relação cotidiana com as famílias, escolas precisam transitar entre estímulo à participação ativa e delimitação de papeis na educação

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Por Ana Paula Yazbek

Quando falamos sobre a importância da relação entre escola e família, devemos, primeiramente, especificar as diferenças de responsabilidades entre cada uma das partes na educação das crianças. Educar os filhos é um projeto a longo prazo, carregado de afetos, dúvidas, desejos, projeções e expectativas. Já educar alunos é um projeto circunscrito, com metas e objetivos definidos, com papeis e limites estabelecidos.

Dito isso, precisamos considerar os pontos de intersecção. Tanto no ambiente familiar como no escolar, devemos considerar as subjetividades de cada indivíduo. Numa escola em que a educação integral compõe seu projeto pedagógico, além do compromisso didático, ela deve assumir compromisso com o bem-estar físico e emocional das crianças, criar um ambiente seguro que promova autonomia e estabelecer parceria com as famílias para que a crianças percebam que existe uma continuidade de existência entre “casa-escola-casa”.

Quando pensamos no trabalho da Educação Infantil, a presença dos familiares é essencial para o acolhimento das crianças. No início da vida escolar, é importante que as crianças vejam que seus pais e mães conhecem e sentem-se seguros em deixá-las na escola com os professores e professoras. Quando pensamos no Ensino Fundamental, a parceria e contato cotidiano é extremamente necessário. As famílias ficam mais seguras e se predispõem a cooperar quando percebem que seus filhos são reconhecidos como indivíduos.

Design Dolce sob imagem por Sky Nescher em Canva

Uma pesquisa sobre motivação desenvolvida pelo Instituto Ayrton Senna, em 2021, apontou que o envolvimento dos pais e mães nas atividades escolares dos filhos traz resultados positivos, independentemente do contexto socioeconômico em que estão inseridos. Entre eles, maiores indicadores de engajamento estudantil, tornando crianças e jovens mais autoconfiantes, auto eficazes e motivados para aprender.

O mesmo estudo sugere que, quando os cuidadores participam de reuniões com professores, apresentações e de outras atividades da escola, mostram para seus filhos o quanto são importantes para eles. Além disso, quando estudantes percebem que seus pais e mães valorizam a importância do esforço e do sucesso acadêmico, eles passam a acreditar mais na sua competência como aluno. Isso é especialmente benéfico na adolescência, período em que ocorre maior risco de distanciamento da escola e adoção de comportamentos de risco para a saúde mental.

Diálogos e limites

Diante disso, fica evidente o quanto é importante que as escolas abram espaço de interlocução com as famílias. Tanto nas situações corriqueiras, do cotidiano, quando pais e mães levam e buscam seus filhos e filhas nas escolas e são bem recebidos por toda a equipe, – desde a portaria até a sala da direção, se for o caso -, como em momentos formais, como as reuniões de famílias ou a organização de comitês.

Vejo a prática cotidiana de acolher as famílias como a melhor estratégia para o estabelecimento das parcerias. A escola deve criar instâncias de participação claras: encontros temáticos com especialistas, fóruns de discussão, conversas cotidianas, reuniões individuais e reuniões de famílias periódicas.

Há, entretanto, alguns limites nessa participação.

Design Dolce sob imagem por Fat Camera em Canva

É preciso considerar que, na escola, a criança explora seu papel como sujeito e não como “filho”. Isso é essencial para o desenvolvimento das crianças. Nessa experimentação, os conflitos, parcerias e desafios, em certa medida, precisam ser mediados sobretudo pelos educadores e educadoras. Quando uma dificuldade ou conflito se torna recorrente ou está causando algum tipo de sofrimento nas crianças, aí a presença e parceria com as famílias se torna fundamental.

Além disso, quando a criança apresenta algum tipo dificuldade de aprendizagem, cabe a escola assumir boa parte da responsabilidade para ajudá-la a superar. A escola pode compartilhar com as famílias algumas estratégias e, eventualmente, indicar especialistas (terapeutas/psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, entre outros) para auxiliar e acompanhar a criança e construir uma triangulação efetiva entre escola-família-especialistas.

É por isso que professores e professoras têm papel fundamental e devem investir na construção de um vínculo de confiança com os pais e mães. Devem cuidar da troca de informações sobre como estão as crianças, partilhando conquistas, vivências, fatos corriqueiros e não apenas os problemas, como usualmente se faz. As famílias, por outro lado, devem compreender, valorizar e confiar no papel que esses educadores estão desenvolvendo.

Ana Paula Yazbek é mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em educação de crianças de zero a três anos pelo Instituto Singularidades, e diretora do Espaço ekoa, em São Paulo

O espaço ekoa é uma escola que atende crianças entre 4 meses e séries iniciais do Ensino Fundamental, é reconhecido como uma escola inovadora e referência na educação infantil. O espaço físico é parte integrante do projeto pedagógico da escola e é um importante diferencial. As atividades são realizadas prioritariamente ao ar livre e as crianças podem se apropriar de todos os ambientes com segurança e responsabilidade. As turmas são multietárias e não existem salas de aulas definidas, o que estimula a cooperação entre as crianças e contribui para que elas construam relações que podem durar a vida inteira.  O espaço ekoa fica na rua Rua Antonio Mariani, n° 58, Butantã e está aberto de segunda a sexta-feira das 7 às 19 horas.

Colaboração da pauta

 

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