O grupo foi se acomodando no salão do jeito que dava: cada um por si, ninguém por todos. Nada de filas, senhas ou funcionários sorridentes oferecendo senhas coloridas. Aparentemente, a estratégia de atendimento era: “senta aí e boa sorte”.
Pensei comigo: vantagem ser cadeirante — pelo menos não precisava disputar lugar com ninguém. Enquanto o povo revezava o peso de uma perna para a outra, eu estava ali, firme e confortável. Pelo menos nesse quesito, um a zero para mim.
Foi então que uma adolescente com cara de quem ainda chupa pirulito foi chamada pela tal passagem azul no canto direito da sala. Como assim, pensei. Chegou faz dez minutos e já foi atendida? E eu aqui, plantada igual samambaia, esperando a boa vontade do além.
Alguns idosos mais espertos — ou teimosos — resolveram se aglomerar perto da passagem azul. Estratégia de guerra. Acreditavam piamente que proximidade significava prioridade. Que ingenuidade. Ali não parecia haver critério algum: nem idade, nem tempo de espera, nem cor da roupa.
Outros pareciam estar num piquenique. Casais jovens conversando, adolescentes rindo, crianças brincando de esconde-esconde entre cadeiras. Se isso fosse um hospital, era o mais animado que eu já vi.
Do outro lado, um grupo de aeromoças fazia charme para um comandante de sorriso impecável. Não sei para onde iam, mas parecia uma fila de embarque de primeira classe. Achei que, se isso fosse mesmo o fim da linha, pelo menos eles estavam indo com estilo.
Vi também algumas pessoas visivelmente mal, pálidas, respirando com dificuldade. Fiquei revoltada. “Poxa, se alguém tem que furar fila, que sejam eles”, pensei. Mas ninguém parecia estar no comando de nada. Nenhuma plaquinha de “atendimento preferencial”, nenhum guichê, nenhum cafezinho. Só aquele silêncio burocrático e a tal da luz azul.
Eu? Saudável, segundo meu médico. Pois é, ontem mesmo ele disse que estava tudo ótimo. E agora cá estou, esperando minha vez sabe-se lá pra quê. Ironias do destino — e sem Wi-Fi, pra completar.
De repente, ouvi meu nome. Foi suave, mas certeiro. Fiquei tão surpresa que quase pedi para repetirem. Conduzi a cadeira até a passagem azul — que, convenhamos, parecia saída de um episódio de ficção científica — e atravessei.
Atrás de mim, a desorganização ficou.
À minha frente, um túnel de luz — longo, silencioso, e com cara de passagem só de ida.
