Existe uma solidão que só quem decide sozinho conhece. A solidão de segurar o mapa de duas vidas nas mãos e traçar rotas diferentes, com o coração dividido entre a certeza da necessidade e o ecoar da culpa. Na semana passada, eu virei a página de um capítulo na vida da Sara. Depois de onze anos, muitas tentativas, e os últimos três em uma escola particular onde as coisas simplesmente não andavam (não por falta de vontade, mas porque as escolas não estão preparadas para a verdadeira inclusão), eu decidi trocar minha filha de escola. No final do ano, sim, mas a vida não obedece ao nosso calendário ideal. E isso eu aprendi com a Sara.
Foi uma decisão que ecoou em mim por dez dias muito intensos. Dez dias de emoções cruas e contraditórias, dúvidas, autocobranças e coragem. A clareza de saber que era o melhor para ela nesse momento se embatia contra a culpa de deixar um filho em escola particular e o outro na pública. A solidão de carregar sozinha o peso de cada questionamento, cada “e se?”, cada busca na internet, de conversas com outras mães, de noites em claro, em busca de uma resposta. Chorei muito? Sim. Rezei ainda mais. Pedi, à minha espiritualidade, que iluminasse o caminho dela, não o meu. Que me mostrasse a direção certa, mesmo que ela fosse a mais difícil. Segui confiante.

Eu queria uma escola municipal que é referência em inclusão aqui na região. A vaga, no entanto, saiu em outra escola, menos preparada. Sinto muito a energia dos lugares e pessoas, e sabia que não era lá o lugar dela também. Mas algo dentro de mim não se abalou. Uma fé quieta e teimosa insistia que não era o fim da linha. Ela foi por quatro dias para aquela escola, e enquanto dava seus primeiros passos num ambiente novo, eu corria. Providenciei uma solicitação extrajudicial e a entreguei pessoalmente na Secretaria de Educação. Foi um ato de militância materna. E, no dia seguinte, o telefone tocou: a vaga na escola que eu queria para ela havia saído.
Mais uma mudança, e eu ainda tive que administrar as emoções dela. Com sua aversão a escolas, devido às dificuldades que enfrenta, e sua ansiedade à flor da pele, a alopecia dela aumentou. Foram momentos difíceis, onde precisei ser um pouco fria para seguir o melhor caminho. Tudo isso vai passar e vamos rir juntas pelas conquistas que virão!
Assim, a alegria veio, mas ela chegou misturada com um conforto profundo no peito e uma boa dose de confusão mental. A vaga é no período da tarde, o que vai virar a rotina da casa de cabeça para baixo: a minha, a da Sara e a do Rafael, que continuará estudando pela manhã. São dias que não cabem em 24 horas. Dias desgastantes, cansativos, vividos no modo de sobrevivência, enquanto o trabalho, que exige atenção total, não para.

E no meio desse turbilhão, respiro fundo e me agarro à minha crença mais profunda: tudo acontece com um propósito e a espiritualidade está me guiando. Talvez, cada um estudando em um horário, eu ganhe a liberdade que não sabia que precisava. O Rafael, em uma idade mais independente, poderá seguir seu rumo com mais autonomia, e eu, talvez, consiga oferecer a cada um a atenção individualizada que suas demandas únicas pedem.
E eu, onde me encaixo em tudo isso? Você deve se perguntar. A resposta é simples e complexa: me encaixo onde consigo. É uma fase. Eles estão crescendo, e cada escolha de hoje é a semente do futuro deles. Mas eu não me apago no processo. Não deixo de fazer minhas coisas, de me cuidar. Com mais limitações, é claro, mas sigo me colocando em um lugar prioritário tanto quanto o deles. Cuidando principalmente da minha espiritualidade, que é o meu alicerce para não cair em pedacinhos.
Porque no final, depois de toda a luta, da culpa, das lágrimas e da papelada, uma certeza me acalenta: já deu tudo certo. E se não deu, é porque ainda não chegamos ao fim da história. E eu, de um jeito ou de outro, estarei lá, me encaixando, me reinventando, e cuidando. Sempre.