A esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem;
a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.
Santo Agostinho
Sentimos ser o tempo presente aquele em que mais nos indignamos com as coisas. Há muito com o que se indignar e, se você leitor e leitora, não vê razão para isso e consegue passar o dia sem se surpreender negativamente com o que ocorre ao seu redor, procure ajuda. Rápido! Cada minuto que passa, você está sendo privado da capacidade de sentir qualquer coisa. Para onde se olha, pode haver uma situação que você considere que, se não está sofrendo de alguma injustiça, definitivamente está no lugar errado ou no mínimo, deveria ser diferente.
Neste país então, não há como esconder a indignação com os governantes, por exemplo. Eles são os que de pior tem de exemplo em qualquer instância. São suspeitos de qualquer coisa errada logo de saída. Se está na política, coisa boa não é. “A política é suja!”, entoa o senso comum. Essa é uma área inóspita e na qual é muito difícil e complicado separar o joio do trigo. Falar mal dos políticos e se indignar com governantes é tão necessário, mas ao mesmo tempo tão infrutífero que chega a doer. Discutir sobre nem se fala! É briga na certa com quem quer que seja!
Mas ainda que consideremos e aceitamos o mundo como imperfeito e injusto (sempre foi e não há o menor sinal de que ele vai mudar à frente), não podemos deixar de exercitar a indignação. Nos seus menores graus de manifestação produz inquietação e nos move em direção a produzirmos mais e melhor para nossas vidas. Muitas vezes conseguimos apenas com nossas singulares ações; algumas outras temos a colaboração de gente próxima e, quando há um certo sentimento institucionalizado, aí nos identificamos com estranhos.
Ela já provocou de tudo de grande, mas também de absurdo que a humanidade já produziu: edificou civilizações, recebeu e acomodou pessoas em torno de atos misericordiosos, produziu riqueza e conhecimento para desenvolver lugares e salvar vidas, porém, do outro lado, criou guerras e consequente mortes, desagregou famílias, permitiu a pobreza e a disseminação de mentiras e, paradoxalmente na busca por justiça e um mundo melhor, gerou mais injustiça e trouxe o inferno para a vida cotidiana.
Como em tudo, é a medida que baliza as nossas ações. Somos seres ambivalentes e dependendo das condições de temperatura do momento, pendemos para um lado. Geralmente, o nosso, o que deveria nos levar a desconfiar se estamos mesmo sendo justos.
A indignação vê a realidade através de um espectro. Nossa razão perpassa um labirinto de conceitos, ideias, visão de mundo, de justiça, do que é ou não moral e agoniza para poder dar um veredito a um sentimento. A intensidade da cólera que sentimos dá a medida do longo caminho que percorremos ao revisitarmos tudo o que sabemos e consideramos para então revelarmos o tamanho da nossa indignação.
No final das contas, indignar-se é uma atitude que deve ser sempre exercitada, porém ela não pode ser rasteira. A força de uma indignação está inteiramente relacionada ao seu valor. Quanto mais barato, pior sua capacidade de ação. Por isso é que devemos buscar recursos emocionais e cognitivos e testarmos constantemente o que chamamos de princípios e valores ao empreendermos lutas e disputas diárias quando indignados com o status quo. Lembre-se: sempre haverá baixas e risco de pormos tudo a perder.
Paulo Maia é publicitário, um pensador livre e morador do Morumbi que mantém sua curiosidade sempre aguçada
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