Dolce Selfcare
Os artigos assinados não traduzem ou representam, necessariamente, a opinião ou posição do Portal. Sua publicação é no sentido de informar e, quando o caso, estimular o debate de problemas e questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
Nevava e acordávamos cedo para o café da manhã continental com direito a todos os exageros de um hotel de luxo. Todos iam e vinham do buffet incontáveis vezes, pelo menos era essa a visão que eu tinha aos 5 anos, aflita com outro pensamento e a vagareza da minha família rodeando a extensa mesa recheada de fartura matinal.
As minhas reflexões tinham alvo certo: a loja de brinquedos em frente ao hotel. Era lá que habitava a minha cabeça de menina, na vitrine imaculada que era limpa 3 vezes ao dia, para manter translúcido e irretocável o cenário do meu maior objeto de desejo e felicidade.
Na volta dos passeios eu grudava na minha mãe fazendo jus ao meu apelido de “carrapato” e ficava insistindo na parada obrigatória defronte à vitrine mágica. Lá estava ela, a boneca mais linda do mundo, de acordo com a minha concepção, toda vestida de noiva, com rendas, cetim, colar de pérola e um rosto infantil, mas com traços e expressão idênticos de quem está prestes a subir no altar. Ela tomava o lugar central da vitrine, heráldica e deslumbrante sobre um pedestal de veludo vermelho.
Todos os dias entrávamos na loja, mas o vendedor sempre repetia a mesma resposta quando minha mãe teimava em comprar a minha noiva dos sonhos:
“Sinto muito senhora, mas ela é única e está reservada para outra cliente”.
Bonitas de décadas atrás, vocês se lembram de quando vocês eram crianças e o seu maior anseio de brinquedo lhe era negado? Pois é, quanta tristeza e choro miúdo…
Voltei para casa de mãos abanando, somente com um pinguim de veludo e olhos caídos, sem noiva, cetim, pérolas, casamento com o meu boneco e devastada do alto da trágica lira dos meus 5 anos.
Passaram-se meses e chegou meu aniversário; havia uma nova lista de brinquedos, festa à fantasia, convites enviados, doces e salgados, além daquela agitação deliciosa de sentir-se especial e ganhar presentes por todos os lados.
Um pouco antes da festa, começou a tradicional destruição em massa de embalagens de presentes dados pelos meus pais, até que minha mãe saiu e voltou com uma caixa que eu não tive coragem de aniquilar. Ela era brilhante, fechada por um laço cor de rosa, feito de fita de cetim macia e delicada. Ao abri-la, pude sentir o cheiro agradável de lavanda que se espalhou suavemente e avistei o interior que era forrado com um papel de seda rosa suave e pétalas de flores.
Adivinhem? Era “a noiva” da vitrine imaculada!
“Como assim a boneca, entre todas as bonecas, presenteada pela minha mãe e não pelo Papai Noel? E no meu aniversário?”
Encurtando a estória, minha mãe combinou com o vendedor que ele deveria dizer que a boneca estava reservada para outra pessoa. Ela queria fazer uma surpresa no dia do meu aniversário e já havia comprado o brinquedo. Eu só não sei como conseguiu me enganar, uma vez que eu não vi a noivinha, que não era pequena, entrando no avião.
Digamos que a metodologia talvez não tenha sido a mais indicada, eu sofri feito cão, talvez por 3 dias, até o meu novo objeto de desejo surgir em uma nova vitrine mágica.
É claro que ela tinha a melhor das intenções, aliada ao desejo de qualquer mãe ao assistir os olhos fulgurantes da filha encantada… e foi assim mesmo!
Pois amanhã é o meu aniversário novamente, só que ao invés dos devaneios que transitam e abundam na mente infantil, como destruir embalagens e sentir “borboletas no estômago” por conta da festa à fantasia, o dia 1º de março perdeu a chama da menina defronte à vitrine.
À medida que crescemos e envelhecemos, a comemoração vai perdendo o seu encanto e magia.
Bom, seria um tanto ridículo bater palminhas e soltar gritinhos porque chegou o “seu dia”.
Com o acréscimo dos anos, passamos a nos preocupar mais com as rugas, cabelos brancos, dores no corpo, relações interpessoais tumultuadas, acrescidas das dificuldades que o envelhecimento traz. Tendemos a dar menos importância a mais um ano que se passa e a mais um aniversário que se aproxima. O fato é que a data de nascimento é, para uma grande maioria, apenas mais um dia no calendário, como mais um dia de trabalho, de compromissos e boletos. E haja boletos…
Os anos trazem muitos desafios e é diante desses desafios que muitas vezes nos sentimos desanimados, desmotivados e desiludidos.
No entanto, é importante lembrar que a passagem do tempo não precisa ser sinônimo de sofrimento, tristeza e desespero.
Xô depressão!
É possível encarar o envelhecimento de forma positiva, de sabedoria e mais serenidade. Claro que é viável enxergar B-day não como mais um número a ser somado, mas sim como aprendizado e evolução.
Tem alguma bonita caranguejo por aqui? Não, ninguém anda para trás, portanto, evoluímos sim!
Afinal, viver pode resumir-se em aniversários, desafios, superações, pitadas de gargalhadas, sonhos e paixões. E é nesse ciclo contínuo de renovação e crescimento que encontramos o verdadeiro sentido da existência.
E a boneca? Honestamente, não faço ideia que fim levou, mas a lembrança permanece tão vívida, que foi parar nesse artigo.
Bonitas nascidas em março, eu desejo sonhos, brilho no olhar e, me contradizendo, por que não palminhas e gritinhos de felicidade?
Feliz Aniversário!
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