A interação das pessoas com as tecnologias digitais levou a um entendimento mais amplo e casual da palavra por parte da população
Os textos, artigos e opiniões publicados nesta seção não traduzem ou representam a opinião ou posição do Portal. Sua publicação é no sentido de estimular o debate de problemas e questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
Por Fabrício Carraro
Quase todos os dias soltamos um “UAU” por conta dos efeitos da tecnologia. Novas ferramentas, funcionalidades e descobertas surgem o tempo inteiro, ao mesmo tempo que a sociedade abraça completamente essas inovações. Por isso, não é de se estranhar que termos como “algoritmo” e “engajamento” já não sejam mais uma exclusividade da área tech.
Antes, essas palavras eram limitadas aos times de Tecnologia da Informação (TI) e vistas como distantes do dia a dia “comum”, mas hoje são usadas por todas as pessoas, como se fossem parte do vocabulário padrão. E, parando para pensar na história de cada uma delas, também não é coincidência que tenham evoluído a esse ponto.
Peguemos como exemplo o próprio algoritmo. Sua origem se deve ao nome do matemático persa Al-Khwarizmi, do século IX, que escreveu sobre métodos de cálculo numérico. No entanto, ao longo do tempo, o termo evoluiu para representar um conjunto de instruções para resolver um problema ou executar uma tarefa passo a passo.
É claro que essa mudança afetou a percepção do mercado, uma vez que diversas áreas perceberam que os algoritmos eram fundamentais para a produção de produtos e serviços. Porém, foi o aumento da interação das pessoas com as tecnologias digitais que levou a um entendimento mais amplo e casual da palavra por parte da população.
Hoje, o algoritmo ultrapassou o patamar de termo “técnico” e se tornou uma expressão cotidiana, porque está, literalmente, presente em uma série de situações rotineiras.
O impacto dos algoritmos na cultura pop
“Você está estragando meu algoritmo”. Com certeza essa frase não é incomum em muitas rodas de amigos, seja quando um deles coloca uma música que ninguém gosta na sua plataforma de streaming favorita ou quando outro escolhe um filme na Netflix que só ele quer assistir.
Bem, isso acontece pelo simples fato de que os algoritmos são os maestros invisíveis que regem nossa vida digital, personalizando a entrega de conteúdos segundo os gostos pessoais dos usuários. As canções que escutamos, séries que assistimos, notícias que lemos e até os memes que compartilhamos são só alguns exemplos de como eles sabem o que queremos. E isso antes mesmo de termos feito uma escolha.
Esse impacto na cultura pop também se reflete nos números das empresas. Segundo o Spotify, até 60% das descobertas de músicas ocorrem devido a recomendações do algoritmo deles. Além disso, redes sociais como o Instagram e o TikTok utilizam essa solução para aumentar o engajamento dos usuários em até 50%.
Privacidade digital
“Falei sobre esse restaurante e apareceu uma propaganda dele no Instagram”. Essa é outra frase que já ouvimos, falamos e até nos assustou em algum momento.
Aquele medo que manifestamos sobre a onipresença algorítmica em forma de brincadeira, na verdade, levanta questões importantes sobre a privacidade e o controle de dados, que não podem ser relevadas. O famoso exemplo de buscar um estabelecimento ou produto e ver anúncio dele nas redes sociais não é apenas uma coincidência, mas o resultado do monitoramento constante dos nossos comportamentos online.
Há duas vertentes desse cenário que devem ser olhadas com atenção. A primeira é a consciência de que precisamos ter cautela para não sacrificar a nossa privacidade em troca de conveniência e personalização. A tecnologia pode ser uma das maiores aliadas da humanidade, mas o seu uso deve sempre priorizar a ética e a responsabilidade.
Já a segunda se refere à valorização da popularização da linguagem dos algoritmos, de maneira a ressaltar o aumento da acessibilidade tecnológica´. A inovação é promissora, por isso não podemos ter medo de compreendê-la e controlá-la enquanto se desenvolve ao redor do mundo.
Felizmente, o aumento crescente na busca por cursos de tecnologia, como programação e dados, é um indicativo de que estamos nesse caminho. Estamos presenciando uma verdadeira alfabetização digital global, que vai além da procura por um conhecimento puramente técnico e nichado.
A linguagem algorítmica já é o novo alfabeto, afinal está moldando as experiências do nosso dia a dia e influenciando nossas escolhas. Cabe a nós entendermos suas características com precisão, consciência e discernimento.
Fabrício Carraro, é Program Manager da Alura, o maior ecossistema de aprendizado em tecnologia do Brasil, e autor de Inteligência Artificial pela Casa do Código.
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