Esta é uma época na qual algoritmos já tomam decisões por nós. Computadores poderosos reúnem milhões de informações acerca de um assunto e relacionam com dados de nossos hábitos e comportamento e podem, com um grau enorme de sucesso, nos apontar quais as melhores opções, quando não a melhor, a tomar sobre algo. Abriremos mão, mesmo, de tomarmos decisões através de nosso processo “humano” em algum ponto no futuro? Fica a questão para algum algoritmo responder, mas o que isso pode significar em nosso sistema cognitivo? Deixaremos de usar, por exemplo, a intuição?
Revendo alguma literatura, me deparei com um livro belíssimo sobre o assunto que li há alguns anos e que não envelheceu nem um pouco e, pelo que vejo, poderá ganhar muito mais importância na medida em que o tempo passe e transmutemos para uma mistura de humano com computador. Blink – A Decisão Num Piscar de Olhos (Blink: The Power of Thinking Without Thinking) de Malcoml Gladwelll de 2005, nos leva a uma jornada na qual o autor vai nos mostrando como tomamos decisões assertivas apenas com base na intuição, mas não como uma mágica ou algo sobrenatural. Mostra como o processo pode ocorrer no nosso inconsciente que consegue reconhecer sinais que não estão presentes no objeto da atenção e assim nos levar a escolhas baseadas justamente na experiência com o vasto repertório de nossa cultura e vivência até então. Vale a leitura, sem dúvida.
Então divago. Desde Descartes e passando por Kant, e especialmente hoje na era da informação, damos um valor incomensurável por argumentos racionais. Afinal, somos uma espécie que pensa e buscamos lógica e sentido em tudo; elencamos temas da matemática, de causa e efeito e da realidade dos fatos como sólidas fundações nas quais podemos nos pautar para seguirmos em frente no tempo e espaço. E para a nossa sobrevivência. Claro, são e devem continuar sendo nossos guias. Mas, o autor do livro que citei, chama a atenção para que jamais descartemos aquilo que sabemos, mas que não sabemos explicar porque sabemos!
Uma expressão interessante que ele usa é a de “ouvir com os olhos”. E uma decisão pode vir da interpretação (surgida do inconsciente) e não da explicação (que viria da argumentação lógica) Muitas vezes, tomamos decisões pelo que sentimos e não pelo que pensamos; pelo que falta no cenário e não pelo que se apresenta. Algo que sai das entranhas do nosso sentimento e nos diz fortemente que algo está errado e fora do lugar. Aquilo que nos indica quando é melhor tomar a pílula vermelha do que a azul.
Intuição pode ser entendida como algo que vem até nós pelos sentidos aliados à experiência, à genética evolutiva, à autoconfiança, à capacidade de correr riscos e de reconhecer padrões em expectativas, percepções e comportamentos.
Intuição deve ser considerado por nós como um recurso mas jamais como uma régua na qual medimos tudo. Traços culturais e enraizados em nossa formação podem prejudicar, como por exemplo, o preconceito. Pré julgamentos podem ser confundidos com intuição e, neste sentido, nos conduzir a caminhos equivocados, discriminatórios, quando não sinistros.
Assim como computadores que nós criamos, nossa organismo como um todo – corpo e mente – já processa informações num piscar de olhos. Mas ao contrário do que acontece dentro dos computadores, nós não sabemos – ainda – como nós funcionamos. Da próxima vez que o Google lhe indicar algo, se pergunte: o que diz minha intuição?
Paulo Maia é publicitário, um pensador livre e morador do Morumbi que mantém sua curiosidade sempre aguçada
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