Por Luiz Cornacchioni e Thais Fagury
O filósofo francês René Descartes, um dos pensadores mais influentes da história, já no século 17 advertia que não existem métodos fáceis para resolver problemas complexos. Embora todos sonhemos com soluções mágicas, elas não existem. O processo é sempre mais trabalhoso, exigindo grandes doses de estudo, planejamento, dedicação e criatividade. De maneira geral, envolve também parcerias, união de esforços e cooperação.
Esse é o caso, por exemplo, do descarte das embalagens de tintas pós-consumo e da estruturação do caminho para que cheguem à reciclagem. Há muito tempo sabemos que as latas de aço têm valor e que não chegam aos aterros. Pesquisas conduzidas muito antes que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) entrasse em vigor, em 2010, já mostravam isso. Porém, não existia – e fazia falta – um sistema organizado e racional voltado para o recebimento, a triagem e o encaminhamento desse material para reaproveitamento nas siderúrgicas, de onde retornará ao mercado na forma de novo aço.
Ao longo dos últimos anos, vêm sendo construídas soluções coletivas nessa direção, tendo como epicentro a Prolata, iniciativa sem fins lucrativos, criada pela Associação Brasileira de Embalagem de Aço (Abeaço) e que conta com o patrocínio e a coordenação conjunta da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati). Outros segmentos também vêm tomando parte na construção dessas soluções, assim como no planejamento e execução das ações a elas correspondentes.
O trabalho vem se desenvolvendo em várias frentes, como é recomendável ao se enfrentar uma questão complexa, tal como é a de garantir a destinação adequada às embalagens pós-consumo.
Uma dessas frentes atingiu um novo patamar em 2021: a instalação, em conjunto com o varejo e outros parceiros, de pontos de entrega voluntária (PEVs), pontos de recebimento e pontos de comunicação, para recepção das latas pós consumo devolvidas pelos consumidores e orientação para o descarte adequado dos materiais. Em poucos meses, o número de pontos passou de 28 a quase 200, localizados em seis estados e no Distrito Federal. Essa expansão prossegue, em função do crescente interesse dos revendedores de tintas e lojas de material de construção, que os perceberam tanto como um diferencial na sua imagem – diante do consumidor final e de outros públicos – quanto como uma comprovação de seu compromisso com o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Outra vertente muito importante da atuação do Prolata é a parceria com cooperativas de catadoras e catadores de materiais recicláveis. São mais de 60 cooperativas, em vários pontos do país, que contam com apoio técnico, regularização, treinamentos e doação de EPIs para trabalharem de acordo com as melhores práticas.
Uma terceira iniciativa que vem se revelando produtiva – e que também ganhou tração em 2020 e 2021 – é a ação coordenada com entrepostos (empresas que lidam com sucatas metálicas), que respondem por uma significativa parcela do recolhimento e triagem do aço reciclável.
Dentro desse combo de soluções, também existe espaço para o estabelecimento de projetos conjuntos com outros segmentos, intermediados por suas associações representativas – como é o caso da Artesp (Associação dos Revendedores de Tintas) e do Sincomavi (Sindicato do Comércio Varejista de Material de Construção, Maquinismos, Ferragens, Tintas, Louças e Vidros da Grande São Paulo) para o varejo de tintas e do Sinduscon-SP (Sindicato da Construção do Estado de São Paulo) para as construtoras. O foco desses projetos é sempre facilitar o encaminhamento das latas de aço pós-consumo para a reciclagem.
Somado a tudo isso, existe um trabalho realizado junto às principais siderúrgicas, para que recebam – e remunerem condignamente – o volume cada vez maior de aço encaminhado a elas. Aço este que, deve ser sempre lembrado, se transforma em novo aço, em um ciclo infinito.
Essas são algumas das ações desenvolvidas, que, em conjunto, vêm se transformando em uma solução, como mostram os bons resultados que temos obtido. É uma solução complexa para enfrentar uma questão complexa, como já recomendava René Descartes. Mas exequível, com planejamento, muita dedicação e união de esforços.
Luiz Cornacchioni é presidente-executivo da Abrafati – Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas e vice-presidente da LatinPin (Federação Latino-Americana de Associações de Técnicos e Fabricantes de Tintas)
Thais Fagury é presidente-executiva da Associação Brasileira de Embalagem de Aço e diretora-executiva da Prolata Reciclagem
Colaboração da pauta:
Tatiane Almeida
tatiane@pressaporter.com.br
+55 11 98913 4752
Imagem destacada da Publicação
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