Black Soul, a Alma Preta real e contemporânea de Salvador pelas lentes de Glauber Bassi

Divulgação

Glauber Bassi, fotógrafo de moda radicado em Milão há 25 anos, cidade onde construiu sólida carreira internacional atuando para publicações referenciais da área, entre elas Vogue e Haarper´s Bazaar, está no Brasil para apresentar seu novo trabalho, Black Soul, na definição dele, realizar o ensaio foi um mergulho em intensidades: “não se trata apenas de fotografia de moda, mas sim de uma homenagem a alma preta de Salvador”.

A exposição foi concebida por Carlos Cruz, modelo internacional conhecido na cena underground da capital baiana como “rei da favela”, que também assina a direção artística do projeto idealizado com o objetivo de dar destaque e oportunidades aos seus pares, abrindo, com o fotógrafo, um espaço de debate e diálogo para as questões latentes do racismo estrutural e da diversidade na capital baiana. No texto curatorial do catálogo da exposição, Denise Camargo traça uma linha, um casamento entre o desejo de Carlos de dar um lugar a toda a sua gente pobre, gorda, homossexual, travesti, agênero, ancestral, preta, com a fotografia de Glauber Bassi.

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Assim, Black Soul valoriza modelos sub-representados na cultura da moda brasileira e inclui alguns elementos afros potentes na cena, como a palha da costa e o grafismo étnico, ilustrados na foto que abre o release, onde as cores e a tradição de esconder a face dos reis africanos reinterpretam simbologias. As fotos foram produzidas no final de 2021, em pontos icônicos da cidade como o Pelourinho, Santo Antônio e Gamboa, com modelos vindos de projetos sociais, além do corpo de dança do Grupo Bahia Axé que traz a força e beleza da cultura do candomblé enraizada no povo soteropolitano.

Exposição fotográfica BLACK SOUL de Glauber Bassi

Curadoria de Denise Camargo

Quando: Abertura para convidados: dia 3 de maio, das 17h às 21h.
Visitação: de 4 de maio a 3 de junho, de segunda a sexta, das 9h30 às 18h30, sábados, das 10h30 às 14, fecha aos domingos.
Local: Galeria Roberto Camasmie
R. Bela Cintra, 1992 – Jardins, São Paulo, capital.
Telefone para informações: 11 3062.5288

Realização

Glauber Bassi
Fotógrafo de moda, paulista nascido em Caçapava, SP, cresceu em um ambiente fotográfico. Filho de um fotógrafo de casamentos, descobriu ainda na infância a produção de imagens e suas técnicas analógicas e, fascinado com este universo, iniciou precocemente sua profissionalização aos 14 anos de idade, atuando junto de seu pai. Anos mais tarde, já com o olhar totalmente direcionado para a Fotografia, estudou Publicidade e Propaganda na UNITAU, Universidade de Taubaté, SP, caminho que o levou para o exterior em busca de aprimoramento onde concluiu sua formação em Fotografia de Moda no prestigiado Istituto Europeo di Design em Milão, cidade onde está radicado há 25 anos.
Após alguns estágios com fotógrafos locais conceituados, montou seu próprio estúdio iniciando uma sólida carreira internacional, assinando campanhas para empresas hype como a Geox, marca líder no mercado internacional de calçados lifestyle e o estúdio vienense de design contemporâneo Sheyn, entre outros. Trabalhando no circuito Milão, Paris, Londres e Nova York, atende as maiores publicações editoriais do fashion world, como a alemã Volant Magazine, a Vanity Teen NYC e as referenciais Vogue e Harper’s Bazaar. 

Sobre Almas Pretas

Denise Camargo, curadora

Antes de me contarem bem a que vieram, as pessoas destas imagens me encantaram pela existência e por certa cumplicidade: eu, mulher também preta, estava diante de iguais. Poderia reconhecer-me ali.

Nas minhas mãos elas disseram: olha, nós vamos viver nas páginas de um livro, nós vamos nos instalar nas paredes de uma exposição porque nós podemos. Faça o melhor que puder por nós.

Vinham atravessadas, é bem verdade, pelo preconceito, pela falta de recursos, pelas dores de seus antepassados e pelas suas próprias dores cotidianas, especialmente neste Brasil pós-golpe de 2016.

O projeto, idealizado pelo modelo soteropolitano Carlos Cruz, casou o desejo de dar um lugar à toda a sua gente pobre, gorda, homossexual, travesti, agênero, ancestral, preta, com a fotografia de Glauber Bassi.

Ao encontrar-se com ela, sua gente troca a sub-representação, à qual a desfaçatez do racismo estrutural a condena neste País, pela liberdade de ser tão somente gente na Salvador da Bahia, e viver a expressão de seus corpos dissidentes onde quer que estejam. Podem. Chegam até aqui reconhecidas por Carlos e iluminadas pelas lentes de Glauber.

É assim que o homem de terno colorido, sentado em seu trono, reconquista um espaço. Poderoso. Digno. Cabe lembrar que não convém fitar os olhos do rei: seu rosto está coberto por um artefato de palha. A palha da costa, que se usa como proteção nos rituais religiosos, serve a outro como coroa – uma cabeça precisa sempre de proteção.

Muitas frases simbólicas são ditas pelas pessoas destas imagens e na relação com os objetos que os e as acercam. São pessoas que não precisam esconder a felicidade arrebatadora brindando às águas de Iemanjá, a mãe de todos os homens; os rostos que revelam a Baía de Todos os Santos em sua face ancestral; os atabaques que fazem o chamado; o samba que roda a saia das baianas; o balaio, repositório de oferendas.

Há também um certo flerte com o que, desavisadamente, poderia ser interpretado como exótico. Afinal, Glauber é um homem branco adentrando a mítica negra. Nem sempre essa é uma travessia sem turbulências. De qualquer modo, seu olhar curioso se conecta, respeitoso, à visualidade das religiões de matriz africana, como o candomblé.

 Este trabalho afirma a todo momento quantas oportunidades faltam a esses corpos. Eles, em contrapartida, nos devolvem a força dos pés fincados em seus territórios de resistência política e social e nos convocam a fazer o melhor que pudermos por eles. Esperamos ter feito. Há muito a fazer.

Maio /2022

 

Denise Camargo
Curadora, fotógrafa, doutora em Artes (Unicamp), mestre em Ciências da Comunicação (ECA-USP), é graduada em Jornalismo (ECA-USP).
Bolsista da Universidade de Navarra (Pamplona, Espanha), pelo Premio JT de Jornalismo. Atuou como fotojornalista e editora de veículos especializados na difusão cultural da fotografia brasileira. Foi docente do Bacharelado em Fotografia do Centro Universitário Senac, onde
coordenou a Pós-graduação em Fotografia, até 2011.
É idealizadora do projeto Processos do Silêncio, pesquisadora do Grupo de Pesquisas da Imagem Contemporânea (GPIC) e realiza projetos culturais sobre cultura afro-brasileira, pela Oju Cultural   http://www.oju.net.br

 

Colaboração da pauta:

Magali Martucci
+55 11 95982 9018

Flavia e Cris Fusco
+55 11 98121-2114

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