Como destravar um conteúdo que tenha dificuldade em aprender

Ponto de Vista

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Conteúdos específicos que temos grande dificuldade: sempre deve-se começar pelo básico e progredir conforme o seu entendimento

Imagem por esolla em Canva Fotos

Por Lorenzo Tessari

Frequentemente não gostamos de um conteúdo, pois não o dominamos e temos dificuldades em lidar com ele. Porém, essa falta de entendimento geralmente é causada pelo excesso de lacunas que vão se formando ao longo da vida escolar, impedindo o cérebro de criar conexões lógicas de conteúdo e dificultando o aprendizado. 

A dificuldade sistêmica em uma disciplina geralmente é percebida por um conjunto de fatos, como baixo desempenho em testes e atividades, desinteresse ou negligência no estudo da disciplina, necessidade constante de ajuda com pouca evolução própria, feedback de professor e reação emocional negativa, como ansiedade e estresse.

A literatura indica que existem dois modos como a mente opera, o modo focado, em que nos concentramos em uma determinada atividade e ativamos os grupos de neurônios que possuem algo semelhante àquele conhecimento, e o modo difuso, que ocorre quando várias áreas do cérebro são ativadas para encontrar quais grupos de neurônios possuem algo relacionado a isso, obviamente com menos resolução.

O que acontece é que quando nos deparamos com uma matéria que já sabemos que temos dificuldade, entramos em um estado chamado “Efeito Einstellung”. Na psicologia, de maneira simplificada, ocorre quando a primeira ideia que vem à mente, desencadeada por características familiares de um problema, impede que uma solução melhor seja encontrada.

Imagem por Goldenberg em Canva Fotos

Inserindo esse conceito na educação, é um efeito que “trava” o cérebro, que busca uma solução ou sentido que muitas vezes aquele grupo de neurônios não possui, mas foi provocado por uma abordagem inicial errada. Esse processo é muito comum em matemática e ciências, principalmente em pré-vestibulandos, onde a abordagem inicial é se adaptar aos macetes e, por isso, ficam travados naquele pensamento por horas e horas. 

O segredo para driblar essa adversidade é desligar o pensamento focado e ativar o modo difuso. Alguns exemplos são tomar banho, dormir, caminhar ou escutar música, pois são nessas horas que nosso cérebro abre para o modo difuso e através de uma visão geral, começa a formar conexões buscando uma solução eficaz com base em experiências anteriores.

É importante lembrar que as pessoas aprendem em velocidades diferentes cada um dos vários tipos de conteúdo, o que pode prejudicar o processo de aprendizagem, pois a maioria vai no ritmo da instituição de ensino e não respeita o seu tempo de absorção próprio em cada matéria. Por isso, em conteúdos específicos que temos grande dificuldade, sempre deve-se começar pelo básico e progredir conforme o seu entendimento sem deixar de lado as datas, mas adaptando-as a cada realidade.

Além disso, devemos levar em consideração as armadilhas da própria mente, que frequentemente pode maximizar pontos que não são tão relevantes para o conceito geral da matéria. Por isso, é necessário que os estudantes terminem o conteúdo primeiro e depois observem a real dificuldade. Muitas vezes empacamos em um tópico específico que não atrapalha o entendimento total, por isso, dê a chance ao cérebro de ver o conteúdo total primeiro, pois se sentir que o que sabe do geral é suficiente, a dúvida pode ser sanada pontualmente com uma pergunta ou exercício.

Imagem por Gatium Sergiu’s Images em Canva Fotos

Hoje, pontuo que alguns dos principais passos para destravar um conteúdo de maior dificuldade são: não passar muito tempo sem retornar ao tema, variar as fontes para coletar mais informações sobre os assuntos de maiores dificuldades e associar a matéria com algo conhecido para conectar suas vivências anteriores com o novo, bem como buscar ajuda de pessoas que dominem o assunto e possam explicar de maneira mais compreensível. 

Posso dizer que os professores desempenham um papel crucial na identificação das dificuldades dos alunos. Algumas contribuições que esses profissionais podem fornecer, são dependentes do modelo da instituição, mas podem também flexibilizar metodologias de ensino com o propósito de encontrar novas formas de transmitir seu conteúdo. O estabelecimento de metas e apoio emocional são duas formas de quebrar barreiras em disciplinas específicas. 

Analiso que a observação atenta do desempenho escolar, da participação em aula e interações com colegas são importantes para identificar as necessidades do aluno. Para isso, é favorável que as turmas sejam reduzidas, a fim de possibilitar uma ação mais efetiva do professor. Fornecer feedbacks construtivos ajudam os alunos a identificar suas áreas de melhoria e desenvolver habilidades. É um processo longo e trabalhoso, mas é efetivo e compensador.

Lorenzo Tessari é Chief Operating Officer (COO) da Gama Ensino, startup de tecnologia desenvolvedora de um algoritmo proprietário que identifica os gaps de aprendizado dos alunos para o direcionamento dos seus estudos.

Colaboração da pauta:

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