Dolce Arte
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Curvas Fluídas | Obras de Amanda Sanzi
Tornei-me artista quando precisei expressar sentimentos nascidos de algumas cicatrizes profundas de experiências da minha vida.
E se escrevo que precisei, é porque foi mais do que querer. Mais que expressar para qualquer outra pessoa, fora uma necessidade que nasceu do meu ser para externar e buscar uma espécie de cura para mim mesma.
Foi assim que me descobri e me desabrochei como artista. Influenciada muito pelo trabalho de meu pai, que confeccionava abajures, já me sentia atraída por curvas, sinuosidades e texturas que me conduziam a expressar experiências muito fortes e duras, como o luto que vivi quando, ainda muito jovem, minha mãe veio a falecer.
E, ao desenrolar dos trabalhos que produzia, tendo diversas referências e influências artísticas e orientada por um grande mestre em minha carreira, Waldo Bravo, diretor e curador da Contempoarte, pude dar significados aos meus movimentos e transformá-los em arte.
Sim, a arte é libertadora! E me sinto cada vez mais livre e inspirada em contar, por telas, o que venho aprendendo com a vida.
Teremos logo mais, mais uma exposição organizada por Waldo, e nela quero apresentar uma obra que me deixou confiante em compartilhar minhas cicatrizes e apresentar como pude sair mais genuína em meus sentimentos.
Apresentarei, pela primeira vez, a obra que batizei como “Queloide”, da série “Cicatrizes à Mostra”,
Inspirada na filosofia milenar japonesa Kintisugi que significa “emendar com ouro”, trata-se de uma técnica de restauração de cerâmicas e porcelanas que utiliza laca ou cola misturadas com pó de ouro, prata ou platina.
A artista em seu trabalho e processo criativo
Surgiu no século XV quando o xogum (mais alto título militar concedido pelo Imperador, com grande poder político) Ashikaga Yoshimasa, apresentou à China, uma cerâmica de cerimônia do chá para restauro. Quando a peça retornou, o xogum não apreciou a técnica chinesa com grampos metálicos e pediu a artesãos japoneses que desenvolvessem outra maneira de restaurá-la. Ao invés de tentar disfarçar as falhas da peça quebrada, os artesãos usaram urushi (laca japonesa) com ouro para colar os pedaços e tornar evidentes as partes que haviam sido emendadas.
O que busco expressar em “Queloide” é a beleza na imperfeição. Ela ressalta que nem sempre as marcas do tempo precisam ser ignoradas ou apagadas. Pelo contrário, reconhecer nosso processo, nossa jornada, mesmo que isso inclua o sofrimento, pode nos tornar mais fortes.
Em momentos de reflexões e insights resolvi trazer esta técnica e ideologia para minha arte e vida, o Kintsugi não é somente uma técnica, mas uma filosofia de vida que ressalta as cicatrizes não como defeitos, mas como fatores de evolução.
É preciso saber se recuperar e superar as cicatrizes. Quem conhece minha biografia sabe o quanto a arte foi fator primordial para superá-las.
Desta forma, venho externar e evidenciar minhas cicatrizes, que, na verdade, são meus troféus: elas contam minha história, externam meus medos, meus fantasmas, minhas sombras, meu luto. São marcas de meu processo evolutivo, da beleza na imperfeição, de me tornar mais forte, e um testemunho de que, não apenas eu, mas todos nós somos capazes de nos reconstruirmos e ressignificarmos.
Transbordo e pinto, aqui neste espaço, com palavras, ao falar de meu processo a você leitor e leitora da Dolce.
Deixo aqui meu recado e espero, quase candidamente, sua visita na próxima mostra, para que eu possa compartilhar, um pouco da minha “estética em choque’, com minha Queloide, além de muitas outras obras maravilhosas que, tenho certeza, lhe tocará em sentimentos que você considerará também compartilhar com aquelas pessoas queridas à sua volta.
Meu beijo!
Amanda Sanzi é artista visual, moradora do Morumbi e expressa sua compreensão do mundo através de suas obras!
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