Por Ana Lucia Bresciane
Com o final do semestre escolar, surge uma oportunidade para refletirmos sobre a avaliação no processo de aprendizagem. Em muitas escolas, o período de provas é um dos mais tensos, trazendo não só o desafio de avaliar, mas a pressão de medir o desempenho. Mas o que estamos realmente ensinando ao associar o aprendizado ao medo da nota baixa?
Segundo o relatório PISA in Focus, da OCDE (2017), 66% dos estudantes disseram temer as notas baixas e 59% se sentem ansiosos ao fazer testes, mesmo quando bem-preparados. Na Dinamarca, por exemplo, escolas públicas vêm aplicando o mesmo princípio. Dados de um estudo da Universidade de Aalborg mostram que alunos que estudam em ambientes sem provas e notas relataram níveis mais altos de satisfação com a escola e menor ansiedade relacionada ao desempenho. Além disso, o modelo favorece habilidades como pensamento crítico, criatividade, autonomia e colaboração — competências cada vez mais exigidas no século 21.

Já no espaço ekoa, escola em São Paulo, não há provas nos anos iniciais e as provas e os conceitos são apresentados de forma gradual no Ensino Fundamental. Ainda assim, o conteúdo previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) está presente em todas as etapas da educação infantil e do ensino fundamental. O que muda é a forma de ensinar e de avaliar: em vez de notas, os professores observam, escutam, registram e devolvem reflexões aos alunos — que também são convidados a se autoavaliar.
Mas afinal, avaliar para que?
Avaliar é uma forma de cuidar. A avaliação faz parte do cotidiano da escola e tem como principal objetivo apoiar os processos de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes e adolescentes. Mais do que verificar resultados, as avaliações nos ajudam a compreender os percursos, reconhecer as conquistas e usar as observações para planejar os próximos passos.
A avaliação é formativa. Ou seja, ela ajuda educadores e estudantes a entenderem como o processo de aprendizagem está acontecendo. A partir dos registros e observações, conseguimos ajustar propostas, redesenhar estratégias e garantir que as experiências educativas estejam em sintonia com as necessidades do grupo. É uma ferramenta de escuta e planejamento, não de controle ou comparação.

A avaliação deve estar presente o tempo todo. Para isso, os educadores observam as interações, as produções, os gestos, as falas e o envolvimento das estudantes com as propostas. Utilizamos muitos instrumentos, além de provas, para fazer o acompanhamento das aprendizagens. Esses registros — escritos, fotográficos, em vídeo ou áudio — são analisados em equipe e servem como base para o acompanhamento individual e coletivo.
Para que isso funcione bem, as crianças devem, desde cedo, ser incentivadas a olhar para suas produções, refletir sobre suas aprendizagens e pensar no que gostariam de melhorar ou aprofundar. A autoavaliação é parte importante da rotina e acontece tanto de forma individual quanto coletiva. Isso fortalece a autonomia, o autoconhecimento e o senso de responsabilidade.
Repensar o formato das avaliações é entender que o foco não precisa estar na classificação, e sim na construção de um olhar construtivo e significativo sobre o próprio processo de aprender. Avaliar não se trata de medir, mas de perceber como cada criança aprende e evolui. Isso gera mais segurança, mais motivação e, principalmente, mais sentido para o que se aprende.
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