Sabe aquela pessoa especialista em uma atividade, focada, perseverante, que se destaca pela alta performance? Não estou falando de quem nasceu com um dom divino — porque aí seria fácil dizer: se não foi abençoado, desista. Falo do ser comum que escolhe um caminho e segue nele, dia após dia, sem desvio. Pois é… essa não sou eu. Pelo contrário.
Sempre tive necessidade de pular de galho em galho: cada hora um foco, um novo desafio, sempre para explorar algo diferente em mim. Da taquigrafia à flauta doce, da escrita literária ao pudim de leite sem furinhos — tudo me capturava a atenção, mas nunca a dedicação. No meu pula-pula, abri tanto o leque e o passo da dança que nunca fui virtuose em nada, a bem da verdade. E aí vem aquela pergunta que arrepia: qual é a sua especialidade?
Para esse tipo de angústia, só mesmo consultando os universitários — no caso, uma psicóloga. Ela me perguntou:
— Já pensou em escolher um animal que a represente?
Respondi sem hesitar: — Sim, sempre imaginei um pássaro. Um sabiá, talvez… ou um beija-flor, voando em busca de novos rumos.
E qual não foi a minha surpresa quando ela disse: — Que tal um pato?
Pato? Só me faltava essa! Lembrei logo do Pato Pateta da música do Toquinho, já sentindo meu bico crescer e amarelar. Antes de soltar um “quá, quá”, resolvi esperar o diagnóstico.
— Veja — explicou ela —, o pato é a única ave que anda, nada e voa. Faz de tudo um pouco. Não com perfeição, mas com competência. É isso que chamamos de “multipotencialidade”.
Aos poucos a ficha caiu: o pato pode até parecer desengonçado na terra, mas na água desliza com elegância, e no céu encara o vento com coragem. Não precisa ser o rei de nada para ser bom em muita coisa.
Respirei fundo. Ufa, redimida!
Sou uma multipata.
