“Situationship” é um daqueles termos que nasceram na era digital e rapidamente ganharam espaço no vocabulário afetivo moderno. Define relações em que há conexão emocional, intimidade e presença — mas não necessariamente planos, promessas ou rótulos. Algo entre o amor e o quase.
Com o crescimento dos aplicativos de relacionamento e a cultura do match, essas ligações se tornaram cada vez mais comuns. Duas pessoas se encontram, trocam confidências, compartilham o fim de semana — mas evitam dar nome ao que sentem. Há afeto, sim, mas também uma certa hesitação, como se o compromisso pesasse mais do que o prazer da companhia.
O sociólogo Zygmunt Bauman talvez explicasse isso pela modernidade líquida: vivemos tempos em que tudo escorre — carreiras, planos, certezas, vínculos. As relações se tornaram flexíveis, voláteis e, muitas vezes, descartáveis. No campo amoroso, ele chamou essa condição de amor líquido, aquele que promete liberdade, mas às vezes traz a vertigem da instabilidade.

Curiosamente, o situationship vem encantando dois extremos de gerações: os muito jovens, que desejam experimentar o amor sem moldes, e os que já viveram relações sólidas e agora buscam algo mais leve, menos estruturado — talvez um respiro entre histórias.
Mas viver um amor líquido exige preparo. Para alguns, ele é sinônimo de autonomia e honestidade emocional. Para outros, é um terreno movediço que desperta insegurança e ansiedade, esse sentimento de estar sempre à beira de algo que nunca se concretiza.
Talvez o grande dilema seja esse: queremos amores leves, mas tememos o vazio que a leveza pode deixar.
Como já cantou Gilberto Gil, é preciso ter corpo e alma sãos para se aventurar nessas águas. E, como lembrou Fernando Pessoa, “Para viver a dois, antes, é necessário ser um.”




































