Ser solidário alimenta a alma

Eleine Bélaváry

Há mais de um ano vivemos uma crise sanitária inacreditável, que tem exigido um novo comportamento social. As reuniões com familiares e amigos, as despedidas das pessoas que partem, um beijo, um abraço, um aperto de mão, tudo representa risco de contágio desse terrível vírus. Isolamento, uso de máscaras, banhos e higienização constantes são a nossa atual rotina. Mas parem para refletir como a privação de afeto pode ser facilmente compensada através da prática da solidariedade, com atitudes de bondade e de amor ao próximo. Ser solidário não significa exatamente a doação de recursos materiais, mas também de tempo, cuidado e atenção para quem precisa.

O brasileiro é considerado um povo muito solidário em situações emergenciais, porém, não cultiva a forte cultura de filantropia observada nos americanos. Ainda temos um longo caminho a percorrer nesse sentido. No relatório World Giving Index 2019, estudo internacional que mede o nível de solidariedade das nações, o Brasil aparece em 74º lugar entre 126 países. O ranking é  feito  pela Charities Aid Foundation e é representado, no Brasil, pelo IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social).

No entanto, durante esta pandemia, nosso povo impressionou com atos de amor e solidariedade. Segundo o Monitor das Doações Covid-19 publicado no site da Associação Brasileira de Captação de Recursos, foram doados R$ 6.888.223.019,00 (seis bilhões, oitocentos e oitenta oito milhões, duzentos e vinte três mil e dezenove reais) por 678.235 doadores, entre pessoas físicas e jurídicas. Deste montante, R$ 3.681.045.492 foram mobilizados em 555 campanhas por todo o país.

Vivemos um momento de tantas incertezas, com milhares de perdas importantes, tanto de pessoas próximas, como de vários artistas que tornavam a nossa vida mais leve. Como foi a partida do humorista Paulo Gustavo, que provocou imensa comoção no país esta semana. Este grande ator e comediante não era somente um furacão na arte de nos fazer gargalhar, mas também um grande exemplo de solidariedade. Esta característica ficou ainda mais evidente quando, após a sua morte, soubemos pelo Padre Júlio Lancellotti que Paulo Gustavo havia contribuído com R$ 1,5 milhão para a construção de um centro de tratamento de câncer e, após o início das obras, voltou a doar mais R$ 600 mil para as Obras Sociais Irmã Dulce. E o mais lindo é que nunca fez alarde destes atos, como muitos fazem.

Algumas ações de solidariedade são verdadeiras terapias para nos tirar do ócio e aliviar também os efeitos psicológicos que o isolamento social pode trazer. Ser solidário não exige, necessariamente, um grande esforço. Pequenos gestos como preparar uma comida e deixar na porta de um vizinho idoso ou prontificar-se para fazer seu supermercado; doar cestas básicas para famílias carentes; ligar para um amigo ou amiga e ver se está tudo bem; arrecadar cobertores para entregar a pessoas em situação de rua; doar sangue; visitar um abrigo de idosos ou de crianças. Quanto mais servimos, mais recebemos do Universo. Isto é fato!

A solidariedade preenche o imenso vazio que todos sentimos na alma. A filósofa Lúcia Helena Galvão reproduziu em uma de suas palestras o que alguns mestres orientais já diziam: “Quanto mais eu penso em mim, mais eu esqueço do Mestre… Quanto mais penso no Mestre, mais eu esqueço de mim”. O mestre neste contexto é a solidariedade, é a fraternidade, a busca de empatia. Quanto mais pensamos no outro, melhor nos sentimos. Solidariedade preserva a nossa saúde mental. Não existe nada melhor do que a prática do bem. Chegar ao fim do dia e pensar “hoje eu minimizei a dor de alguém” gera um imenso conforto emocional e nos faz crescer como seres humanos.

Há inúmeras iniciativas onde você pode praticar atos de bondade – doando dinheiro ou seu tempo com o voluntariado. Encontre a sua causa e lute por ela. Convide mais pessoas para se engajarem com você, criando uma grande corrente do bem. Confiram abaixo algumas causas legítimas.

G10 Favelas

Bloco de Líderes e Empreendedores de Impacto Social, cujo coordenador nacional é Gilson Rodrigues, presidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis. Todo recurso captado é revertido em bens para as comunidades. Acesse www.g10favelas.com.br ou @gilsonrodriguesbr

Obra do Berço

Organização da sociedade civil, sem fins econômicos, que oferece por meio de Trabalho Social e Trabalho Socioeducativo, proteção social básica a crianças, adolescentes, jovens, adultos e famílias provenientes de comunidades de alta e altíssima privação social da zona sul do Município de São Paulo.

Acesse www.obradoberco.org.br   

Lar Abrigo Novo Pentecostes 

Abrigo de Idosos localizado no Jardim Colombo, zona sul de São Paulo.
Acesse Instagram @larpentecostes

Instituto Canto de Luz

Organização sem fins lucrativos que atende crianças carentes do bairro de Capão Redondo, São Paulo-SP, através de ações alinhadas com a escola, alimentação e atividades recreativas e culturais. 

Acesse www.institutocantodeluz.org.br  

Unaccam

Organização sem fins lucrativos que capacita voluntários e multidisciplinares para cuidar de pacientes com câncer.

Acesse www.unaccam.com.br

Há também um site no qual você pode conhecer outras iniciativas.

Acesse www.redeglobo.globo.com/Responsabilidade-Social/para-quem-doar/

Aproveito para desejar um feliz Dia das Mães! Mãe, o ser mais solidário e compassivo de todos.

Eleine Bélaváry é moradora do Morumbi, bióloga e Sócia proprietária da Connexion Negócios Sustentáveis

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