Experimente fazer o seguinte teste: abra qualquer aplicativo de corridas compartilhadas, simule uma viagem curta e veja o que acontece. Provavelmente, vai demorar alguns bons minutos até que um motorista aceite realizar o trajeto escolhido. O motivo dessa demora parece estar relacionado aos altos custos impostos aos motoristas parceiros desses aplicativos no período recente, com destaque para o preço dos combustíveis, especialmente a gasolina.
A percepção é do professor de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Matheus Albergaria. Ele próprio é um consumidor do serviço, visto que não tem carro para transitar por São Paulo, por opção própria.
“Conversando com mais de um motorista desses aplicativos, ouço eles dizerem que ocorreram significativos aumentos nos custos de oferta do serviço como um todo. O principal custo, segundo eles, é o aumento do preço dos combustíveis, com destaque para a gasolina. De acordo com os motoristas, esse aumento de custos faz com que eles tenham de realizar um maior número de corridas para bater suas respectivas metas diárias”.
O professor diz que, ainda segundo os motoristas com quem conversa, as empresas de aplicativo não reduziram o percentual descontado dos motoristas a cada corrida, mesmo durante a pandemia, com esse percentual girando em torno de 20 a 25% do valor da corrida.
Em conjunto, esses dois fatores correspondem a um “choque de oferta” no mercado de aplicativos de corridas compartilhadas (ou seja, a uma pronunciada contração da oferta desses serviços), o que pode vir a ter sérias consequências sobre o bem-estar de ambos os lados do mercado (produtores e consumidores de corridas).
Segundo Albergaria, quando esses aplicativos surgiram, havia uma indústria de táxis consolidada no país. Em termos gerais, os aplicativos de corridas compartilhadas reduziram o poder de mercado dessa indústria, ao mesmo tempo em que aumentaram o bem-estar dos consumidores de corridas compartilhadas, uma vez que baratearam o serviço, ao mesmo tempo em que aumentaram a diversidade de opções para cada consumidor.
Na opinião do economista, a triste ironia do momento atual é que talvez agora os aplicativos passem a refletir um cenário semelhante àquele que vivíamos com a indústria de táxi há alguns anos.
“Com a chegada dos aplicativos, a novidade era o passageiro conseguir fazer praticamente qualquer corrida que quisesse, não importando a distância ou valor. Por outro lado, vale destacar a ironia do período recente, uma vez que estamos vivendo um cenário no qual passamos a ter mais dificuldade em conseguir fazer corridas compartilhadas no momento.”
Uma das consequências da atual situação, na visão de Albergaria, é que um motorista que já trabalhe com aplicativos de corridas compartilhadas há algum tempo e decida abandonar essa ocupação acaba levando consigo toda a sua experiência e conhecimento acumulados, também conhecidos como “capital humano” pelos economistas.
“Em alguns casos, o profissional que deixa de trabalhar para o aplicativo leva junto toda uma experiência profissional que pode ser difícil de repor no curto prazo. Isso não quer dizer que novos motoristas não possam substitui-lo, mas as empresas de corridas compartilhadas podem vir a perder trabalhadores valiosos e qualificados, como no caso de motoristas que falam línguas estrangeiras, por exemplo. Em conjunto, essas perdas podem ter sérias consequências sobre a produtividade do serviço, assim como os lucros das empresas de aplicativos de corridas compartilhadas”.
O economista finaliza com uma recomendação para as empresas de aplicativos de corridas: “as grandes empresas do setor devem pensar o que podem fazer para continuar se apresentando como serviços diferenciados que tragam benefícios, não apenas para si mesmas, mas também para os motoristas, seus principais representantes, assim como para os consumidores de corridas compartilhadas, que já se acostumaram com um serviço diferenciado a preços menores do que antigamente. Uma estratégia nesses moldes pode ser fundamental para a sobrevivência dessas empresas e de seus motoristas”.
Matheus Albergaria é Pós-doutor em Economia pela USP, Doutor em Administração de Empresas pela USP, Mestre em Artes pela The Ohio State University, Mestre em Teoria Econômica pela USP e graduado em Ciências Econômicas pela UFMG. Atua como professor na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado desde o ano de 2003.
A Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) é referência nacional em educação na área de negócios desde 1902. A Instituição proporciona formação de alta qualidade em todos os seus cursos: Ensino Médio (técnico, pleno e bilíngue), Graduação, Pós-graduação, MBA, Mestrado, Extensão e cursos corporativos. Dentre os diversos indicadores de desempenho, comprova a qualidade superior de seus cursos com os resultados do ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e do IGC (Índice Geral de Cursos), no qual conquistou o primeiro lugar entre os Centros Universitários do Estado de São Paulo. Em âmbito nacional, considerando todos os tipos de Instituição de Ensino Superior do País, está entre as 5,7% IES cadastradas no MEC com nota máxima.
Colaboração da pauta
Vagner Lima
vagner.lima@fecap.br
+55 11 97353 5849
www.fecap.br
imprensa@fecap.br
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