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Psicólogo explica como combater a solidão abordada pela série Black Mirror

Netflix | Divulgação

Solidão de um dos personagens do episódio "Pessoas Comuns" reflete a epidemia de solidão vivida na atualidade

O avanço das tecnologias trouxe transformações nas dinâmicas sociais, porém, em meio a conectividade digital, um fenômeno surge: a epidemia de solidão. Com raízes na sociedade da performance e no individualismo, esse cenário reflete uma desconexão humana que vai além da ausência física de companhia. Mesmo cercadas de contatos virtuais, as pessoas vivem sob a falsa ilusão de que estão conectadas, enquanto a solidão se faz presente de maneira silenciosa. 

Na nova temporada de Black Mirror, lançada na última semana, o episódio um, intitulado, “Pessoas Comuns”, reflete sobre o que pode ser o nosso futuro ao dependermos cada vez mais da tecnologia para sobrevivermos. Nele, Mike (Chris O’Dowd) opta por colocar um implante no cérebro da esposa em coma, Amanda (Rashida Jones), para trazê-la de volta, no entanto, eles passam a depender da assinatura do plano desse implante para a sobrevivência dela. 

Inicialmente, parece que tudo deu certo, porém, as limitações como a área de cobertura do sinal que o implante recebe – sinal que é limitado a partir do quanto você paga -, o fato de que Amanda precisa dormir mais para recarregar e as propagandas involuntárias que ela passa a falar nos fazem refletir sobre a perda do tempo de qualidade do casal. O questionamento que surge é: será que o tempo que a Amanda ‘ganhou’ não é uma performance desejada por Mike por medo de perder a esposa e ficar sozinho? 

O ator Chris O’Dowd na série da Netflix | Divulgação

Na era do espetáculo identitário e individualista, muitos empreendem os esforços para serem percebidos como seres relevantes e as interações humanas podem se reduzir ao utilitarismo de meros interesses narcísicos, onde o outro serve apenas para enaltecer o valor do próprio eu, o que empobrece as trocas sociais“, afirma Marcos Torati, psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP.

Dentro disso, a epidemia de solidão se conecta com o crescimento do individualismo na sociedade. Um relatório da Universidade de Harvard em 2021 mostrou que um em cada três norte-americanos reportam uma solidão frequente, sendo que 61% dos jovens adultos entrevistados, entre 18 e 25 anos, reportaram essa solidão frequente. Para Torati, a saída pode ser a interação humana.

As principais consequências que a solidão pode gerar são: comportamentos compensatórios como hiperconsumo, workaholismo, abuso de substâncias e alterações na libido (tanto a falta quanto o excesso de masturbação), além de exacerbar a inabilidade social. No plano psicológico, associa-se ao aumento de transtornos de ansiedade, depressão, vazio existencial, ideação suicida e, em casos graves, manifestações psicóticas, refletindo um enfraquecimento da ancoragem na realidade“, explica ele.

É possível sair da performance social e se sentir menos só?

A epidemia de solidão pode estar relacionada com o choque de realidade de que estamos todos sós com os celulares nas mãos, distantes do contato humano. Portanto, se o projeto inicial da internet era romper as barreiras geográficas para criar proximidade entre as pessoas, foi justamente o caráter atrativo e confortável das plataformas digitais que dissolveu os anseios pelas conexões humanas no mundo real.

A atriz Rashida Jones na série da Netflix | Divulgação

A sociedade da performance, ao impor o papel de eterno “empresário de si mesmo” – diariamente “instagramável” e propagador de discursos positivos e automotivacionais – conduz ao esgotamento físico e mental. Essa dinâmica fortalece a busca por gratificações instantâneas e energeticamente econômicas, particularmente encontradas nas telas“, ressalta o especialista.

Partindo da premissa de que a epidemia de solidão se relaciona com uma sociedade mais individualista, avessa a riscos e ao enfrentamento de frustrações e desconfortos, para o psicólogo, o principal desafio desta geração reside em aprender a renunciar ao gozo do comodismo digital para vivenciar a interação humana no mundo real. Logo, a solução imediata é desligar o celular e viver o que a vida real oferece, nos seus prazeres e desprazeres.

Curiosamente, nesta era, mesmo as responsabilidades afetivas provocam preguiça e exaustão, impulsionando a busca por uma liberdade individual descompromissada, que paradoxalmente resulta em lamentos pela solidão. A solidão contemporânea não se resume à ausência de pessoas, mas também ao excesso de exigências narcísicas direcionadas ao outro e à formação de bolhas narciso-sectárias, onde indivíduos só interagem com visões de mundo semelhantes, intensificando o isolamento e o empobrecimento pessoal“, comenta Torati.

No que diz respeito a combater a solidão, o psicólogo aponta que a chave está em buscar ativamente a interação social. Ou seja, participar de atividades em grupo, como clubes ou aulas, investir em relacionamentos existentes dedicando tempo a amigos e familiares, e ser proativo em conhecer pessoas novas em diferentes contextos são formas de construir conexões.

Porém, ampliar a esfera social implica em aprender a transcender as próprias demandas para acolher outras alteridades e possibilidades de ser e estar no mundo e com os outros. Será que estamos preparados para fazer concessões à sua liberdade individual em prol do outro e, assim, cessar a queixa da solidão?“, finaliza Torati.

Marcos Torati é mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, com especialização em psicanálise (abordagem winnicottiana) e psicoterapia focal. É supervisor de atendimento clínico e professor e coordenador de cursos de pós-graduação em Psicologia e Psicanálise.

@marcostorati

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Imagem por Marcos Kulenkampff em Canva Fotos

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