Mãe raiz ou Nutella?

Dolce Selfcare

Cecília Trigueiros

É fácil sentir-se confusa e minimizada face às inúmeras estórias das supermães

É um menino!”

Como mãe de cachorro, eu pensei de imediato:

“Qual raça?”

Em seguida eu me lembrei que se tratava do ultrassom revelando o sexo do meu filho (humano) (sic) e senti vergonha do equivocado entendimento de progenitora de quatro patas.

Alguns meses depois eu carregava no meu colo o meu filho diminuto e frágil que me acordava a noite inteira sedento pelo meu leite e músicas de ninar cujas letras eu desconhecia.

Chegamos no momento das visitas aos pediatras e cada um receitava algo diferente até que, ufa! Um médico sensato.

Claro, ainda estagiária no departamento materno, desabafei:

“Ainda bem doutor! Eu não consegui acertar um bom veterinário até hoje!”

O pediatra soltou um largo sorriso e respondeu:

“Talvez se a senhora tivesse levado à um pediatra, teria dado certo…”

Estava decretada a minha segunda maior vergonha maternal.

Nós ouvimos e lemos tanto sobre o papel da mãe cujo propósito de vida é conceber e cuidar da cria, equiparando-nos à perfeição da humanidade, que é fácil sentir-se confusa e minimizada face às inúmeras estórias das supermães.

Daí chega-se à questão sobre o que é a maternidade; instinto ou construção?

Honestamente eu acredito que um pouco de cada, uma vez que, no final os problemas e alegrias em relação aos filhos se assemelham e a maneira com que lidamos com esses fatores nos tornam clichês de frases populares como:

“Mãe é tudo igual” “Mãe só muda de endereço”.

O fato é que a convivência com aquele serzinho despótico que inicialmente nos obriga a abdicar de nós mesmas para vivermos à mercê das demandas características de todo bebê dependente de cuidados constantes, nos tornando zumbis por um ano, não condiz com a aura santificadora atribuída às genitoras exaustas.

Mas quando menos percebemos, em seguida chega a fase dois da interação deliciosa.

Daí nos derretemos com o olho no olho, gargalhadas barulhentas, leituras de contos de fadas, a mãozinha que procura a sua como sinal de segurança, inocência que nos comove acrescida da realidade que somos o porto seguro ao qual eles sempre recorrem. Agora eu sei que o médico do meu filho é pediatra e não veterinário! Nesse instante, somos a definição fiel da Mãe Nutella.

Saudades dessa fase, não mamães?

Em um milésimo de segundo eles espicham, descartam o ursinho predileto, criam pés de sasquatch, engrossam a voz e…

Imagem de Freepik

Que se iniciem os desafios!

Hormônios à flor da pele, inseguranças, necessidade de aceitação pelos outros, dúvidas sexuais, além de nós, as eternas protetoras, simplesmente evaporamos num vendaval de emoções. Em suma, altos e baixos que levam os filhos ao clímax da felicidade para no momento seguinte sentirem a tristeza profunda do ser.

E as mamis?

Prateleiras de livros educacionais, conversas com amigas, professores, castigos, arrependimentos, longos discursos, incontáveis brigas seguidas de pedidos de desculpas e o retorno para as prateleiras de livros. Nossos bebês crescem e exigem independência sobre suas próprias vidas e nos oferecem um lugar de observador de suas vidas, da arquibancada. Nos sentimos excluídas.

Sim, é difícil, de heroínas a carrascos, muitas vezes não há leitura que salve conduzindo-nos à ímpetos de irritação, esbravejando como nossas mães, afastando-nos de todo ensinamento educacional. Agora somos a Mãe Raiz, que fiasco…

Independentemente da fase em que o filho se encontra, foi construído um vínculo colossal de afetividade seguido de uma muralha protetora e inabalável.

E sabe quando nos tornamos iguais?

Quando aquele que você segurou nos braços, levantou das quedas, defendeu com unhas e dentes, estudou junto, sorriu e chorou por ele, chega do nada e dá um beijo, pressionando ligeiramente os lábios no seu rosto, como o sinal do afeto que só uma mãe entende e só um filho sabe dar.

Ah, minhas mamães bonitas…

Não há Mãe Raiz ou Nutella, mas se fosse necessária uma definição, digamos que somos um pote de Nutella com saborosas raízes do mais puro chocolate cremoso.

O vídeo que segue com o artigo tem maquiagem, claro, mas também é uma homenagem para todas nós.

Feliz Dia das Mães!

Cecília Trigueiros é formada em Marketing e maquiadora profissional e especialista em autocuidado e beleza. 

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Os artigos assinados não traduzem ou representam, necessariamente, a opinião ou posição do Portal. Sua publicação é no sentido de estimular o debate de problemas e questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

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