O que educar ainda pode ter de humano em nós mesmos?

A verdadeira educação se dá quando pensamos no outro e não em nós mesmos

Design Dolce sob imagem de Pixelshot em Canva

Por Paulo Maia

Educação sempre aparece como um tema importante. Mas, lamentavelmente, no dia a dia concreto da realidade, surge algo que se apresenta mais importante que ela, levando-a ao fim de uma fila de prioridades. É a pauta preferida de gente pública, especialmente em tempos que se busca votos para eleição.

Mas Educação se desmembra em diversos níveis e traz consigo a preocupação da construção da sociedade em todos os aspectos: relações pessoais, conhecimento, cultura, lazer e civilidade. Sim, o processo civilizatório exige educação em qualquer manifestação que se expresse para um convívio decente e edificante entre as pessoas, além, claro, de preparar cidadãos e novos formadores para futuras gerações.

Ainda que ela seja negligenciada por políticos e pelo poder público, especialmente em nosso país, há pessoas e instituições que se importam genuinamente por seu desenvolvimento e resultados práticos e concretos que moldam o tecido social, trabalhando incessantemente contra os obstáculos que surgem a todo momento das interações sociais e culturais.

Há dias participei de um evento promovido por entidades privadas, que motivadas por suas experiências reais, conseguem produzir resultados altamente significativos e de relevância sociais edificantes.

Em uma iniciativa da King Educacional, em parceria com a Iniciativa Kids, no espaço Casa B2Mamy, em Pinheiros, as palestrantes Fernanda King, Carla Schultz e Cris Rayes, promoveram um encontro com pais e educadores para debater sobre educação infantil e seus desdobramentos na formação de crianças e adolescentes diante dos apelos de um mundo cercado de tecnologia e modas de comportamento que podem ao mesmo abrir oportunidades de desenvolvimento, criarem disrupções e efeitos maléficos no comportamento, além de deslocamento da realidade e má formação social.

Fernanda King

Além de profissionais da educação, são também mães dedicadas não apenas às suas famílias, mas também nas demais que lutam para promoverem recursos, especialmente sociais e psicológicos, às crianças para que estas possam lidar com a realidade que enfrentam a todo momento.

Em sua palestra, a educadora Fernanda King ressaltou a necessidade de se promover uma educação humanizada, o que significa a busca por identificar que somos, antes de mais nada, animais de afetos, suscetíveis a inúmeros apelos que mexem com emoções e que podem desvirtuar uma certa capacidade de socialização se não dermos atenção ao nosso próprio processo de aprendizagem que passa inevitavelmente por confrontar nossas frustrações, obstáculos e limitações a fim de superar o que é possível e assim produzir resultados positivos na formação social e psíquica que devem promover as relações sociais associadas à empatia e à aceitação de nossa presença no mundo.

A própria Fernanda, diante da tarefa materna, entendeu que criar uma escola seria sua melhor maneira de colaborar na formação de crianças, mesmo sabendo ser uma tarefa enorme.

Carla Schultz

Em sua participação, a publicitária Carla Schultz, fundadora da Conecta Diversidade, que lidera projetos e workshops focados em inclusão e diversidade, além da Iniciativa Kids, que conecta mais de 100 famílias em SP, trouxe sua visão de como a Educação deve olhar para a Inclusão e Diversidade, de forma aberta e objetiva, focando no evento, especialmente como pais, mães, cuidadores devem tomar cuidado com os recursos midiáticos e tecnológicos, de uma população que, de repente, resolve se exibir para o mundo todo através de redes sociais.

Ela mostrou que, para além da diversão e registro de memórias entre familiares, o que se posta hoje nas redes sociais podem servir de material malicioso e criminoso com o uso de imagens e vídeos fora de contexto, e que causam, na maioria das vezes, traumas e problemas de relacionamento, além de profunda ferida no tecido social.

Sua palestra ainda mostrou como a educação para crianças com deficiência deve ser encarada com muita naturalidade e que, com criatividade, questões capacitista (o preconceito contra as pessoas com deficiência) são tratadas com responsabilidade de forma a preparar pessoas à integração social, conhecedoras de suas aptidões, explorando-as para que suas contribuições façam luz na sociedade.

Cris Rayes

Já a psicóloga Cris Rayes trouxe uma reflexão muito importante sobre nossos hábitos sociais e familiares que impactam diretamente no processo educacional. Apresentou sua leitura de como podemos estar “conectados” ou “desconectados” de uma realidade educadora ou que leve a determinados comportamentos. Frases e comportamentos deslocados da realidade atual podem promover distorções que alargam preconceitos.

De fato, sem estar cientes disso em um primeiro momento, acabamos por reproduzir comportamentos que vimos ou aprendemos em nossa infância. A repetição de frases e comportamentos que aprendemos podem fomentar preconceitos e interpretações, no mínimo, distorcidas e que, associados a outros estímulos, edificam barreiras que podem se tornar intransponíveis ao nos tornarmos adultos.

A sociedade se transforma o tempo todo e nossa relação com o mundo e com as pessoas geram novas formas de contato e interpretação da realidade, mas podem também se transformar em sintomas que degradam o ser humano e sua capacidade de transmitir cultura como um instrumento, não apenas de sobrevivência, mas de significação de nossa existência.

Evento “Chárraiá” beneficente que discutiu educação humanizada no espaço 2bmamy

A condição de sermos uma espécie social e de que produzir significado é o que nos acomoda de forma psicológica, produzindo menos sofrimento e mais satisfação, é a constatação de que educação é fundamental em cada momento de nossa vida.

O evento mostrou-me que afeto, amor e generosidade genuína são essenciais nesta jornada. Melhor ainda quando estes vem sem se perguntar sobre recompensas egoístas. A verdadeira educação se dá quando pensamos no outro e não em nós mesmos.

Foto por Renata Dall'Osto (@butia_fotografia)

Paulo Maia é editor do Portal Dolce Morumbi®

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