Dados do IBGE mostram que, cada vez mais, brasileiras optam por ter filhos mais tarde
Especialista em saúde materna, Rafaela Schiavo, analisa impacto social e emocional
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou, em um estudo recente, que as mulheres brasileiras estão adiando cada vez mais a maternidade. De acordo com os dados divulgados, a idade média em que as mulheres têm seus primeiros filhos passou de 25,3 anos em 2000 para 27,7 anos em 2020, com uma projeção de que esse número pode chegar a 31,3 anos em 2070.
A psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline (@materonline), explica que esse fenômeno é reflexo de diversas mudanças sociais e culturais, “o adiamento da maternidade está relacionado a fatores como a busca pela estabilidade financeira, a dedicação à carreira e a maior valorização da liberdade pessoal”. Segundo ela, é importante que as mulheres se sintam seguras em suas escolhas e que contem com o apoio necessário para viver essa experiência com confiança e tranquilidade.
A escolha da maternidade tardia
Escolher ter filhos em uma fase mais avançada da vida é uma decisão cada vez mais comum e deve ser apoiada de maneira integral, segundo analisa a especialista. Schiavo também destaca que o apoio psicológico é importante em todas as etapas da maternidade, desde o desejo de engravidar até o pós-parto.
“É importante que elas se sintam plenamente apoiadas em suas escolhas. O suporte emocional, iniciado ainda antes da gestação, contribui para que as mulheres vivenciem essa jornada de forma segura e respeite suas necessidades e desejos”, explica.
Tira-dúvidas com a psicóloga
Existe um momento certo para ser mãe?
Não existe um momento ou uma forma única de ser mãe. A ideia de uma mãe perfeita ou de um momento ideal para a maternidade é um mito. O que realmente importa é que cada mulher se sinta apoiada e segura em sua decisão, com acesso às informações e ao suporte necessário para viver essa experiência de forma plena e realista.
O que as mulheres devem considerar antes de adiar a maternidade?
É importante lembrar que, com o passar dos anos, a fertilidade diminui. Após os 35 anos, engravidar pode se tornar mais difícil, e os óvulos, que envelhecem com a mulher, aumentam o risco de complicações como síndromes e abortos espontâneos. Muitas mulheres só descobrem essas dificuldades ao tentar engravidar mais tarde, por isso, é fundamental que se informem sobre opções como o congelamento de óvulos, que pode preservar as chances de uma gestação futura com menos riscos.
Por que a culpa pelo sucesso ou fracasso dos filhos recai sobre a mãe?
Isso tem a ver com a construção da romantização da maternidade, que se intensificou a partir do século XVIII. Até então, a maternidade não seguia o caminho do ‘amor materno’ ou ‘instinto materno’ como conhecemos hoje. O sucesso ou fracasso dos filhos passou a ser atribuído diretamente à mãe, excluindo o pai dessa responsabilidade. Essa ideia se consolidou a ponto de todo o peso da educação e cuidado com os filhos recair sobre as mulheres.
Qual é o impacto da maternidade na vida das mulheres?
A mulher grávida, muitas vezes, se torna invisível aos olhos da sociedade. A atenção é deslocada para o bebê, e seus próprios sonhos e necessidades são frequentemente ignorados. Além disso, vivemos em uma cultura machista onde, na maioria dos casos, o pai não assume a responsabilidade de forma equitativa, deixando a mulher sobrecarregada e vulnerável a conflitos emocionais.
Como essa sobrecarga pode afetar a saúde mental das mães?
A cobrança excessiva sobre as mulheres para que sejam perfeitas na maternidade pode gerar angústia e questionamentos sobre sua capacidade. Isso afeta diretamente a saúde mental, gerando ansiedade e outros conflitos psicológicos, especialmente quando a mulher sente que deve abrir mão de seus sonhos e projetos pessoais para atender às expectativas sociais.
Profª-Dra. Rafaela de Almeida Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Desde sua formação inicial, dedica-se à saúde mental materna, sendo autora de centenas de trabalhos científicos com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de alterações emocionais maternas no Brasil. Possui graduação em Licenciatura Plena em Psicologia e em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Além disso, concluiu seu mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem e doutorado em Saúde Coletiva pela mesma instituição. Realizou seu pós-doutorado na UNESP/Bauru, integrando o Programa de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Desenvolvimento Humano, atuando principalmente nos seguintes temas: Desenvolvimento pré-natal e na primeira infância; Psicologia Perinatal e da Parentalidade.
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