Por Luiz Marcatti e Herbert Steinberg
A crescente preocupação com os riscos ambientais e com as implicações sociais das atividades das empresas ganhou relevância nas últimas décadas, transformando a lógica dos resultados no mundo corporativo. Pressionadas interna e externamente para aliar contribuições à sociedade e bons retornos nos negócios, as organizações se empenham para atualizar seus mecanismos de decisão de forma a incorporar conceitos sustentáveis como os representados pela sigla ESG (aspectos ambientais, sociais e de governança). O “G” da sigla é fundamental: é a liga que garante a consistência de uma cultura de responsabilidade capaz de perenizar a empresa.
O movimento alcançou tamanha magnitude que já é possível considerar que sua evolução constante resulta de um novo ciclo. Seguem essa linha de avaliação profissionais experientes como José Guimarães Monforte, membro dos conselhos de administração da Cyrela, da JBS, do Banco do Brasil e do Fundo JBS Amazônia. Segundo ele em recente live do MESA AO VIVO, o aumento da consciência das sociedades — em parte decorrente de um acesso maciço a informações via internet — se tornou um forte vetor de demandas para as organizações.
Some-se a isso o fato de em um mundo com excesso de liquidez (efeito dos juros negativos nas principais economias) ser natural a intensa mobilidade dos investidores e tem-se uma equação que pode colocar em risco o valor das companhias. Assim, as organizações precisam estar atentas para não afastar e desapontar potenciais investidores e outros stakeholders, como consumidores e colaboradores. Em resumo, defende Monforte, se as empresas não responderem adequadamente às demandas podem perder a lealdade de seus stakeholders.
A responsabilidade corporativa não é exatamente um tema novo. No Brasil, a função social das empresas já é mencionada, por exemplo, nas Leis das S.As., de 1976. Mas globalmente o conceito está em um período de transição, saindo da era da informação para um tempo de discernimento. Agora vale mais saber como as empresas dirigem suas operações e quais são seus propósitos. Nesse sentido, a pandemia evidenciou a vulnerabilidade das sociedades e sua profunda interdependência.
Algumas dessas demandas já estão bem mapeadas. Tome-se, por exemplo, o que diz o relatório anual Global Risks Report, do World Economic Forum — há 20 anos referência em relação a previsões de riscos, em 2006 já alertava para a possibilidade de uma grande pandemia. Nas últimas edições, incluindo a deste ano, é notável a gradativa transferência da predominância de riscos ligados a economia e finanças (que refletiam o período pós-crise de 2008) para os riscos geopolítico, ambiental, social e tecnológico. Um novo mundo.
Esses fatores de pressão inevitavelmente recaem sobre as empresas e seus representantes de governança por duas razões principais: o poder de decisão e o papel institucional de guarda de valores da companhia. Como ressalta Monforte, a governança amarra a execução e a reposta da sociedade.
O desafio de atender às crescentes exigências ESG é particularmente difícil para algumas empresas, que se sentem perdidas diante da quantidade de critérios que devem atender e de informações que devem prestar para que os stakeholders possam medir seus resultados conforme esses novos parâmetros. Com o olhar de quem observa as empresas de dentro, Monforte reforça o conceito de que devem construir o que chama de “sustentável criação de valor sustentável”: precisam pleitear a inclusão de elementos da sustentabilidade nas decisões e estabelecer processos técnicos e humanos que, se controlados, geram resultados a partir dos propósitos planejados.
Importante, nesse particular, que as empresas fujam da tentação de apenas preencher checklists de critérios ESG, atitude facilmente percebida pelos stakeholders. O que vale é a essência, a cultura corporativa baseada nesses princípios.
Nesse novo contexto, as empresas precisam se alinhar ao ESG, mas sempre atentas para evitar engessamento das operações. Por outro lado, já não podem continuar esperando para ver o que acontece, sob pena de pagarem um preço alto lá na frente. O mantra corporativo deve ser criar valor e protegê-lo. Porque, no fim das contas, negócios nada mais são que licenças sociais. Aumentar o valor dessa licença exige sintonia com os objetivos de longo prazo das sociedades e harmonia com a natureza.
Luiz Marcatti é presidente da MESA Corporate Governance e integrante de conselhos de administração
Herbert Steinberg é presidente do conselho da MESA Corporate Governance
A MESA Corporate Governance trabalha a governança corporativa e familiar na dimensão humana do poder, dinheiro e afeto. A empresa é constituída por uma equipe de consultores especialistas e experientes que atendem às necessidades nos diferentes momentos de modernização de empresas de origem familiar ou multissocietárias, quer sejam de capital fechado ou com ações listadas em bolsas de valores. Também é filiada às seguintes entidades e instituições: AMCHAM Brasil, IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, ICGN – International Corporate Governance Network, FBN – Family Business Network e NACD – National Association of Corporate Directors.
Colaboração da pauta:
Agência Blue Chip
+55 11 96701 0703 | +55 11 99018 9999 I +55 19 99110 1330
www.agenciabluechip.com.br
Luciana Silva
luciana.silva@agenciabluechip.
Guilherme Sawaia
guilherme.sawaia@
Thelma Kai
thelma.kai@agenciabluechip.
Denise Carvalho
dcarvalho@agenciabluechip.com.
Imagem destacada da Publicação
Assine
Nossa Newsletter
Inscreva-se para receber nossos últimos artigos.
Conheça nossa política de privacidade
Compartilhe:
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)
No comment yet, add your voice below!