Espírito do tempo à moda

Paulo Maia

Mesmo um gênio não pode resistir completamente ao espírito de seu tempo.

Hegel

Olá! Como vai, tudo bem? Confesso que fiquei procurando assunto mais interessante, mais edificante para trazer aqui para você. Lamento, mas não consegui. Talvez porque não vejo como escapar do Zeitgeist. Sim, a pandemia e tudo o que ela tem trazido para nosso cotidiano além da sua mais trágica consequência é o assunto. Pois é. Estar atento para não ser infectado pela doença não é a mesma coisa de não ser afetado pelos assuntos que ela traz. Está impossível não ser atingido por notícias e comentários e, neste sentido,  um cenário maluco e totalmente sem sentido vai sendo criado  e exigindo que pessoas façam depoimentos e expressem suas opiniões. É uma luta para manter a cabeça saudável com o corpo correndo risco concreto de perecer.

Ouvi uma frase há muito tempo, em discussões sobre guerras e conflitos, em que havia uma crença de que a humanidade pudesse ser colaborativa ou pelo menos estar de um mesmo lado quando tivéssemos um inimigo em comum. Algo como um perigo alienígena ou um vírus letal. Bom, vamos tentar manter válido o argumento para uma invasão alienígena, pois em relação ao vírus, já temos a comprovação de que somos capazes de entender – e de nos portar – de forma diferente acerca de uma mesma realidade. Bom, pelo menos aqui em terras brasilis.

Campo de batalha. Foto por Rubén Bagüés em Unsplash

É mesmo incrível a forma como todos estão lidando com a pandemia e quando tentamos colocar a razão na equação do modus operandi do cotidiano, vemos que ocorre erros de lógica e argumentos. Simplesmente não faz sentido algum. Ou o sentido é obtido face à nossa imaginação e fantasia. Criamos um sentido que percorre algumas crenças, regras e exceções e voilà! Tenho meu código de conduta e se algo der errado é por conta dos fatos, não de minhas ações e pensamentos. Eles estão certos. É a realidade que não colaborou.

Dando uma olhada no lançamento do livro “Só os profetas enxergam o óbvio: frases inesquecíveis de Nelson Rodrigues”, compêndio de bordões do escritor, organizado por André Seffrin, da Editora Nova Fronteira, me deparei com antologias do autor de “Vestido de Noiva” que mostram não serem apenas atuais, mas perenes. Uma delas me fez rir sozinho e me chamou a atenção para o quanto não estamos preparados mesmo para ver o óbvio diante de nós. Segundo Nelson, o brasileiro “é um feriado”! Gargalhadas altas! Essa frase me parece mais reveladora da nossa cultura do que outras como “Deus é brasileiro”, por exemplo.

Qualquer caminho serve. Foto por Kyle Glenn em Unsplash

Cito nós, brasileiros como um detalhe próximo daquilo que vivemos no cotidiano, mas o problema da estupidez não é de nacionalidade, mas de espécie. Mas é de enrubescer que nosso país seja do tamanho que é e que tem as coisas que tem e sermos tão pequenos, quando não medíocres, diante do resto do mundo. É difícil não reconhecer o ridículo quando nos comparamos a Dinamarca, por exemplo. Já reparou que são sempre eles, os dinamarqueses, o exemplo de vida bem vivida ou de cotidiano perfeito?

E se há uma coisa que aprendemos com a história é a de que não aprendemos nada com a história. Pois é, nossa cultura tão rica, inventiva e diversificada de um lado, se mostra cega e estúpida ao longo da nossa história. Sim, sempre tivemos uma malevolência em impor uma visão de sociedade que sonha em ser grande, mas que na verdade rasteja com preguiça entre as parcas sombras projetadas de pequenos galhos que secam ao calor escaldante dos trópicos. O que vivemos não é novo. Mas sempre fora trágico. Tristes trópicos, certo Levi-Strauss?

Paulo Maia é publicitário, um pensador livre e morador do Morumbi que mantém sua curiosidade sempre aguçada

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