Encontrei um outono extremamente diferente com os mais velhos a reclamarem da secura, do sol de 30 graus e das dificuldades para as campanhas agrícolas num outubro que antigamente anunciava o inverno
Dei uma parada na vida agitada de São Paulo e do restaurante, juntei uma pitada de saudades da minha mãe com dois compromissos profissionais e embarquei para Alfândega com escala no Porto.
Encontrei um outono extremamente diferente com os mais velhos a reclamarem da secura, do sol de 30 graus e das dificuldades para as campanhas agrícolas num outubro que antigamente anunciava o inverno.
Alfândega da Fé situa-se à norte da Serra de Bornes, que com seus 1.200 metros de altitude dá o tom a um terroir propício para amêndoas, cerejas, azeites de primeira qualidade e vinhos, legumes e frutas no Vale da Vilariça, bem como a criação de ovelhas que nos permitem ter e produzir um dos principais queijos da Europa – o queijo Terrincho.
Já que estava sol e calor, nada como aproveitar os dias e com os amigos provar as delícias locais. Quando vou para a minha terra, ordeno no meu palato três prioridades: arroz de tomates da minha mãe com bacalhau empanado, frango assado da d. Lurdes no restaurante Onofre e uma tainada com os meus amigos Paulo Pires e Costa. E aqui entra a primeira explicação desta prosa.
Já tive oportunidade de falar disso na TV e na internet, mas nunca é demais lembrar o que é uma Tainada. Primeiro: juntam-se os amigos. Segundo: chegam chouriço, presunto e um queijo. Terceiro: aparece um canivete, pão, azeite e azeitonas. E pronto. Está montado o cenário que os transmontanos adoram para conversar, tomar vinho ou cerveja, e deixar o tempo passar pacificamente.
Depois dessas obrigações gastronômicas iniciais, fui convidado para jantar na Quinta do casal Paulo e Soraia. E aqui, para quem gosta de gastronomia como eu, as degustações são à sério – preservando a tradição dos usos e costumes da família do anfitrião, junto com a modernidade da cozinha de Soraia que nos confeccionou um excepcional arroz de mariscos. Os vinhos brancos foram escolhidos entre Vila Real e Rioja, os tintos locais com queijo Terrincho magnifico (de fabricação própria).
Foi uma noite inesquecível onde conversamos muito sobre queijos, azeites, a arte de preservar o nosso terroir, conversas assombradas aqui e ali pelas preocupações cada vez mais evidentes das alterações climáticas, pois ano após ano os agricultores se queixam das mudanças bruscas das estações com visíveis prejuízos nas colheitas.
No dia seguinte foi a vez de petiscar no bar dos Bombeiros voluntários de Alfandega da Fé. Aproveitei a happy hour com um pôr do sol magnifico com toda a montanha à volta do centro da Vila onde o coreto reina em absoluto. Aqui, diferentemente da tainada na qual privilegiamos os “produtos secos”, os nossos petiscos preferidos são as moelas com molho picante de piri piri, a orelha de porco e os pipis – pequenos pedaços de carne com pickles cebola, alho, sal e um molho especial que leva cerveja e tomate.
No cair da tarde e princípio de noite, um passeio pelos jardins de Alfândega com suas esculturas, uma parada no coreto e no centro cultural dão ao visitante a ideia clara de que se pode viver em paz com respeito pelas tradições de um povo. Como em qualquer outro local nem tudo são rosas. Faltam ainda infraestruturas turísticas que cativem viajantes e espaços de lazer mais adequados à nova mobilidade turística, bem como a plena integração a região dos lagos que foi criada recentemente. Desafios para o futuro…
As azeitonas de Alfândega | Foto por Chef Eduardo de Castro
Na véspera do meu retorno, fui dar um abraço no meu amigo Soeiro – lutador da gastronomia alfandeguense, que ao longo das décadas consegue manter em pé um lugar especial para os notívagos da Vila com pizzas, sanduiches e cafés.
No dia seguinte, bem cedo desci a serra a caminho de Matosinhos e do Gaveto, restaurante que é considerado a catedral dos mariscos. Mas isso vai ser uma outra história.
Embarquei. Estou de volta.
Beijos, até a próxima.
Vá visitar Alfândega!
Restaurantes:
Restaurante Pipo “Onofre”: Largo de S. Sebastião, Tel: +351 279462448
Pizzaria Soeiro: Av. Dr. Francisco Pereira Lemos, Tel: + 351 915664128
Bairral: rua Julio Manoel Pereira, 119, Tel: +351 934196483
Informações sobre hotéis e alojamentos:
Posto de Turismo de Alfândega da Fé:
“Casa de Cultura Mestre José Rodrigues”, Tel: +351 279462739
Chef Eduardo de Castro é jornalista de formação, mas foi na gastronomia que ele percebeu que o seu amor pelas panelas era maior do que pela escrita, mas mesmo assim trará seus contos quinzenalmente na Dolce Morumbi
Acompanhe o Che Eduardo de Castro em seu perfil no Instagram
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