Nunca tinha entrado em sites de relacionamento, mas naquela noite decidiu experimentar. O universo digital estava ali, ao alcance de um clique — por que não se aventurar?
Ouviu dizer que era uma forma infalível de conhecer mulheres disponíveis. Bastava preencher alguns parâmetros, fazer a triagem virtual e pronto: nada de encontros no escuro, indicados por amigos bem-intencionados que terminam em desastre. Pior ainda: depois a pessoa já sabe seu nome, seu telefone e é conhecida de conhecidos… difícil se livrar.
Escolhido o site, passou ao checklist da mulher ideal:
- Idade: 25 a 35 — jovem, claro.
- Magra, bonita, cuida do corpo — o visual é essencial.
- Exercícios pelo menos 3x por semana: musculação, pilates, bike, corrida — alguém que acompanhe seu ritmo.
- Superior completo, pós desejável — pelo menos um mínimo de cultura.
- Português perfeito, inglês ou outra língua — viajar sem virar tradutor.
- Profissão com cargo gerencial ou acima — mulher independente, bem-sucedida.
- Hobbies: leitura, viagens, culinária, dança, cinema, teatro, música — parceira para todas as horas.
- Procurando relacionamento sério, mas sem compromisso — casar, nem pensar.
Confiante, clicou em “salvar”. A sorte estava lançada.
Likes e mensagens começaram a aparecer rápido, acompanhados de fotos promissoras. Empolgado, abriu a primeira. Choque: preenchia quatro dos sete requisitos, mas escrevia como analfabeta, curtia funk e trabalhava no atendimento de uma lanchonete. Nada contra — mas não era o perfil. Descartada.
A segunda parecia perfeita no papel, mas pela foto não fazia exercício há anos, estava bem acima do peso e queria apenas uma transa. Fora.
A terceira, impecável no checklist. Só que buscava um homem de até 40, malhado, baladeiro. E ainda fumava. Nem pensar.
Assim seguiu, descartando uma a uma. Até que parou para refletir: será que o problema era o algoritmo ou o próprio perfil que ele montara? Releu os requisitos com atenção. Tudo parecia essencial… ou será que não?
Depois de muito pensar, aceitou flexibilizar um ponto: a idade. Alterou de 25–35 para 40–50 anos. E esperou.
Logo surgiram várias opções. Uma delas, segundo o site, com 100% de afinidade. Ansioso, clicou para abrir.
E qual não foi sua surpresa: cara a cara com a ex.
O algoritmo tinha mais senso de humor do que ele imaginava. E bem melhor do que o dele.
