Por Dr. Alfonso Massaguer
Eu cresci num ambiente de tolerância e liberdade e fui educado pelos meus pais a respeitar o outro sem qualquer tipo de preconceito e discriminação. Digo que fui um privilegiado, já que no resto da família, os traços do conservadorismo, influenciado pela religião, eram evidentes e determinavam o comportamento de todos.
Um primo meu ao se assumir homossexual enfrentou enormes dificuldades com a sua opção, mas o maior dilema dele, compartilhado pelos pais, era a ideia de não poder ser pai. Ele sofria com a perspectiva de não ter um filho e não conseguir formar uma família completa.
Ao escolher trabalhar com reprodução humana, o dilema do meu primo não saía da minha cabeça. No exercício da profissão, logo vi que o sofrimento dele comum a tantos homens e mulheres que formavam casais homoafetivos. O desejo de celebrar o amor com o nascimento de um filho era o que os movia para o consultório e passei a viver de perto as dores deles e ser um parceiro das suas jornadas.

O avanço das técnicas de reprodução, ao lado de uma compreensão maior de parte da sociedade e de leis protegendo essas uniões fizeram com que o sonho de tantos casais homoafetivos pudesse ser realizado. E o que era um dilema, que vi de perto com a história do meu primo, passou a ser uma realidade tanto para casais masculinos quanto femininos.
Para casais homoafetivos masculinos a opção é a fertilização in vitro (FIV). Para isso, é necessário uma doadora de óvulos anônima e uma doadora temporária de útero (barriga de aluguel).
A doação de óvulos é procedimento rotineiro no Brasil e faz parte da rotina de qualquer clínica de reprodução humana.
Qualquer mulher saudável pode ser doadora temporária de útero, solicitando liberação do CRM, procedimento também rotineiro.
Se for da família de um dos parceiros, parente de até o quarto grau, nem a autorização do conselho é necessária.
Já os casais homoafetivos femininos, além da FIV, contam também com a possibilidade da inseminação artificial. Para o tratamento, é preciso utilizar o sêmen doado de um doador anônimo ou familiar até o quarto grau.

Em casais de mulheres também é comum a gestação compartilhada de ambas, onde colocamos o embrião formado com o óvulo de uma no útero da outra. Assim, teremos uma gestante com embrião formado com óvulo da parceira.
A evolução das técnicas de fertilização nas últimas décadas aumentou as chances de sucesso dos tratamentos e cada casal que sai da clínica com o bebê no colo é uma realização profissional. Vendo a alegria dessas novas famílias brasileiras sinto que o meu trabalho é hoje muito mais importante do que eu imaginava antes de escolher ser um especialista em reprodução. Essa felicidade me contagia e me dá ainda mais energia para encontrar novos caminhos a tantas outras famílias. Em relação ao dilema do meu primo, queria voltar no tempo e acalmar a dor dele com uma mensagem de esperança e dizer que toda a angústia, naquele momento, não seria um problema sem solução.
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