Existe uma dor que poucos falam, mas que muitas de nós carregamos no peito como um segredo pesado: a sensação de não pertencer ao ‘clube das mães’. Não porque não amamos nossos filhos – amamos com uma força que às vezes assusta – mas porque, em algum momento, percebemos que não nos encaixamos naquela imagem perfeita que pintaram para nós.
A maternidade chegou e, com ela, a promessa de que tudo faria sentido. Só que ninguém nos contou sobre os dias em que olharíamos no espelho e não reconheceríamos a mulher refletida ali. Sobre as horas em que, rodeadas de brinquedos espalhados e memes sobre cansaço materno, sentiríamos um vazio inquietante: “Quem eu me tornei? E onde foi parar a mulher que eu era?”

Não somos as mães de comercial de margarina, sempre pacientes e de batom impecável. Não somos as influencers de maternidade que transformam caos em conteúdo perfeito. Somos aquelas que:
- Sentem um alívio secreto quando as crianças voltam para a escola;
- Preferem uma noite de Netflix a uma festa de aniversário infantil;
- Têm dias em que se perguntam como seria a vida se tivessem escolhido outro caminho.
E aqui está a verdade que dói admitir: sentir isso não nos faz más mães. Faz-nos humanas.
A crise de identidade materna é como um terremoto silencioso. Abala alicerces que nem sabíamos que existiam. Nos faz questionar tudo, desde nossos valores até nossas roupas que já não servem – nem no corpo, nem na alma. E o pior? A culpa que vem junto, como uma sombra que sussurra: “Você deveria estar gostando mais disso”.

Mas e se, em vez de lutarmos contra essa crise, a abraçássemos como parte da transformação? E se esses questionamentos fossem não um sinal de fracasso, mas de crescimento?
Porque talvez a maternidade real não seja sobre se encaixar em estereótipos, mas sobre criar a nossa própria versão – imperfeita, autêntica e cheia de contradições. Onde podemos ser a mãe que faz brigadeiro de colher e a mulher que sonha com uma viagem sozinha. Que chora ao deixar o filho na escola e comemora o silêncio em casa.
No fim, essa crise não é o fim de quem você era – é o nascimento de quem está se tornando. Uma mulher mais complexa, mais interessante, mais verdadeira. Que não cabe em rótulos, mas transborda em camadas.
E talvez, só talvez, seja justamente nesse “não se encaixar” que resida sua maior força.

E você, já se olhou no espelho e não reconheceu a mulher que devorava o mundo antes da maternidade? Já sentiu que, em meio a tanto amor, havia um pedaço de si que parecia ter se perdido pelo caminho? Talvez a resposta não esteja em nos encaixarmos em nenhum modelo, mas em criarmos coragem para dizer: essa mãe aqui – a real, cheia de contradições e dúvidas – também é válida. E se o maior ato de revolução materna for justamente ocupar esse espaço intermediário, onde não precisamos ser nada além daquilo que somos?
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