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O produto comercializado nas redes sociais é você

Imagem em Freepik

Empresas não pagam pelo direito de usar as redes; elas pagam para acessar você

Os artigos assinados não representam, necessariamente, a opinião do Portal. Sua publicação é no sentido de informar e, quando o caso, estimular o debate de questões do cotidiano e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

Por Patricia Punder

Você já parou para pensar por que as redes sociais são “gratuitas”? A resposta é desconfortável: o produto é você. Cada curtida, comentário, vídeo assistido e clique é coletado, analisado e transformado em dados que valem bilhões. É a sua atenção que sustenta esses impérios digitais.

Empresas não pagam pelo direito de usar as redes; elas pagam para acessar você. Plataformas como Meta, TikTok ou Instagram, ganham trilhões expondo seus conteúdos às marcas, e o acordo é simples: você traz a atenção, elas trazem o lucro.

Os algoritmos estão programados para capturar e segurar sua atenção o máximo possível. Cada segundo online é monetizado. Nada é aleatório, o que aparece no seu feed é estrategicamente selecionado para te deixar rolando, consumindo, querendo mais. Nesse ambiente, qualquer limite ético se torna discutível.

Esse circuito de recompensa digital desencadeia vícios similares aos de jogos ou cassinos: curtidas, comentários e notificações agem como doses de dopamina que mantêm você voltando, mesmo sabendo dos riscos. Estudos associam o uso excessivo à ansiedade, depressão, baixa autoestima e isolamento social.

Para adultos, isso já é preocupante; para crianças e adolescentes, é um perigo potencial. O caso recente de Hytalo Santos escancarou essa vulnerabilidade. O influenciador está sob investigação do Ministério Público da Paraíba desde 2024 por suposta exploração e “adultização” de menores — jovens expostos em conteúdos com apelo sensual, sem compreender plenamente as consequências. Uma das vítimas é Kamylla Santos, que ganhava destaque nos vídeos desde os 12 anos, em contextos sexualizados e com forte apelo ao engajamento. O Promotor ainda avalia os vídeos, ouve os jovens e seus familiares, e a conta de Hytalo foi desativada

Felca, youtuber com milhões de seguidores, denunciou também outros casos semelhantes, como o canal “Bel para Meninas” e o caso de Caroliny Dreher, que expunha danças desde os 11 anos, com conteúdo circulando em fóruns de pedofilia. Tais exposições geraram comoção e deram origem ao debate público sobre legislação específica, se trata, antes de tudo, de um problema social de magnitude urgente.

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Regulamentação das redes sociais e GDPR

Perante isso, a regulamentação das redes sociais já não é algo distante, é essencial. A Austrália proibiu o uso de redes sociais por menores de 16 anos, exigindo verificação de idade e impondo penalidades pesadas. Na União Europeia, o Digital Services Act (DSA) exige transparência algorítmica, responsabiliza plataformas por conteúdos ilegais e fortalece a proteção de menores. Mas o marco mais robusto é o General Data Protection Regulation (GDPR), em vigor desde 2018, que estabeleceu padrões globais de privacidade digital, e nos interessa especialmente.

O GDPR devolve ao cidadão o controle sobre seus dados pessoais. Ele exige consentimento explícito, transparência, direito ao esquecimento, proteção reforçada para menores e aplica multas severas de até 4% do faturamento global (~€20 milhões). No caso de crianças, o consentimento deve ser dado por responsáveis legais, com linguagem clara e acessível, e o uso de dados deve se limitar ao mínimo necessário. Também proíbe o perfilamento automatizado de menores e exige notificação imediata em caso de violação.

Entretanto, imposições como essa intimidam as redes. Afinal, limitar a coleta de dados é limitar o combate à monetização algorítmica e ao controle comportamental e isso ameaça tanto o lucro quanto o poder político dessas empresas, capazes de influenciar o discurso público, eleições, debates e políticas globais.

Por isso, a responsabilidade deve ser compartilhada:

Plataformas precisam integrar o “privacy by design and default” — projetar seus recursos já priorizando a segurança, moderação e transparência, realizar avaliações de impacto (DPIAs) sempre que categorias de dados sensíveis, como o de menores, estiverem envolvidos;

Pais e responsáveis têm o papel de acompanhar, limitar, educar e, sobretudo, repensar práticas como expor fotos de crianças online, imagens que podem ser captadas por pedófilos ou alimentadas em bancos de dados de IA sem consentimento, ampliando os riscos;

Governos e reguladores precisam legislar e fiscalizar com equilíbrio, como já fazem a UE e Austrália, mas também garantir que plataformas detectem e removam conteúdos de exploração infantil, conteúdos íntimos vazados ou deepfakes, com penalidades reais.

Outro ponto crítico, a internet não esquece. Memes antigos, opiniões controversas, imagens sensíveis, tudo pode ressurgir de maneira imprevisível e devastadora:

Cancelamento digital: uma postagem antiga, uma frase mal interpretada, e você se torna alvo de um linchamento público que pode destruir reputações. A Shaming-Industrial Complex impulsiona isso, com algoritmos projetados para promover humilhação e gerar engajamento, um combustível para o lucro das plataformas;

Crises reputacionais severas: o “caso Justine Sacco” é paradigmático, uma piada maldada gerou condenação global, demissão e aniquilação pública em instantes;

Efeito Streisand: tentar apagar conteúdo só faz o mesmo se espalhar mais. Isso transforma tentativas de deletar um post em verdadeiros incêndios digitais;

Imagens banidas ou deepfakes: esses materiais podem voltar a circular por anos, com detenção mínima ou nenhuma. E a tecnologia de IA pode manipular fotos, criando falsificações com seu rosto, que viralizam em instantes e com consequenciais consequências reais;

Predadores online: pedófilos se aproveitam de toda exposição e brechas das redes para captar imagens, contatar crianças e expandir redes criminosas. Esse perigo, muitas vezes invisível, é real e exige urgência de contenção.

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Vivemos num ambiente onde nossos registros digitais se tornam armas involuntárias contra nós, usadas para chantagem, humilhação, exposição ou entretenimento predatório.

No fim das contas, resta uma pergunta fundamental: quem está no controle? Nós ou as plataformas? Elas lucram com nossa atenção, moldam comportamentos, criam dependências e guardam nossas vidas em arquivos que podem nos destruir. Não se trata de abandonar a tecnologia — mas de entender o jogo.

Cada curtida, cada comentário, cada segundo na tela tem valor e esse valor não é seu. Se o serviço é gratuito, quem paga o preço é você: sua privacidade, sua liberdade de escolha, sua autoestima… e, em casos extremos, sua segurança.

Da próxima vez que abrir seu aplicativo favorito, lembre-se: você não é apenas usuário, você é o produto.

Patricia Punder, é advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020. Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil).

Colaboração da pauta:

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Imagem por Marcos Kulenkampff em Canva Fotos

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