Ansiedade de crianças e adolescentes em tempos de pandemia

Por Daniela Rodrigues Costa

No dia 26 de novembro de 2020, conversei com a Deborá Espasiani, do programa Deborá Histórica (https://www.youtube.com/watch?v=0BmwEB_UPOI), sobre a ansiedade de crianças e adolescentes em tempos de pandemia.

Neste artigo, exploro com mais detalhes o tema ansiedade, para além do senso comum.

De forma geral, todos sabem o que é ansiedade, pois este é um sentimento muito comum de surgir ao longo da vida em momentos que antecedem algum acontecimento importante, como uma prova, uma entrevista de emprego, o primeiro dia de aula, uma viagem, entre tantas outras situações. Porém, precisamos diferenciar a ansiedade normal da ansiedade patológica, falaremos disso mais adiante.

A ansiedade é necessária para a nossa sobrevivência, para nos cuidarmos, para nos levantarmos da cama para trabalhar e estudar, para cumprir os nossos compromissos do dia-a-dia.

Nos tempos atuais, percebemos a ansiedade como um sintoma cada vez mais comum e crescente em nossa sociedade. Em 2019, o Brasil foi considerado o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, com 9,3% da população diagnosticada com algum transtorno ansioso e, na cidade de São Paulo, 19,9% dos habitantes já teve algum diagnóstico relacionado à ansiedade.

O Que é ansiedade? E como ela se manifesta?

  • Ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão, mal-estar físico, antecipação do perigo, preocupação constante.
  • Quando esses sentimentos impedem a vida normal, caracteriza o distúrbio de ansiedade.
  • Ansiedade é uma reação exagerada a um estímulo ansiogênico, podendo desencadear um estado de alerta ativado constantemente.
  • É um estado de não presença.
  • É manter o pensamento ativo, viver num momento futuro, gerando desconfortos físicos ou emocionais.
Imagem de Anastasia Gepp por Pixabay

A ansiedade se manifesta com o pensamento em geral acelerado, e apresenta:

  • Dificuldade de finalizar suas tarefas
  • Dificuldade de concentração e de manter o foco
  • Pensamentos negativos do que pode acontecer no futuro
  • Medos diversos, insegurança, não se sentir capaz, baixa autoestima
  • Inquietação tanto física quanto mental
  • Dificuldade de relaxar, estar sempre em alerta
  • Pode afetar o sono gerando insônia
  • Irritabilidade, angústia

Pode vir acompanhada de sintomas físicos com mal-estar:

  • Dor no peito
  • Taquicardia
  • Sensação de desmaio
  • Tontura
  • Falta de ar,
  • Hiperventilação
  • Boca seca
  • Suor frio
  • Náusea
  • Diarreia
  • Dor no estômago
  • Urgência para urinar
  • Tremor
  • Dor de cabeça

No Transtorno de ansiedade existe uma resposta inadequada ao estresse, é caracterizado por comportamento de luta e fuga, ativando a vigilância e o sistema simpático do sistema nervoso. Há a liberação de noradrenalina e aumento do cortisol – hormônios do estresse.

A ansiedade na pandemia de Covid -19

Já não bastasse a epidemia de ansiedade que víamos antes do Covid -19, neste ano de 2020 fomos mergulhados em uma pandemia, que aumentou fortemente os níveis de estresse das pessoas em todas as faixas etárias.

O medo da morte vivido tão intensamente, somados ao distanciamento social, as incertezas sobre o futuro, a impossibilidade de planejamento, nos deixaram mais ansiosos.

A pandemia é um fator externo que fez crescer o grau de ansiedade que as pessoas já apresentavam, ou desencadeou sintomas ansiosos, até mesmo algum transtorno de ansiedade.

Em meu consultório acompanho crianças, adolescentes e adultos e posso afirmar que todos foram afetados negativamente em relação à saúde mental neste período.

As crianças e adolescentes foram privadas do convívio escolar, tão importante para o seu desenvolvimento. Por outro lado, foram obrigados a fazer aulas à distância mediados por telas, com interação muito limitada com seus professores e colegas. Muitas crianças e adolescentes tiveram dificuldade em manter o interesse, a atenção e apreender o conteúdo, apresentando rendimento prejudicado.

Outro fator para aumento da ansiedade dos alunos, é o excesso do uso de telas, um estímulo conhecidamente ansiogênico, o qual foram obrigados a lançar mão para os estudos, para o lazer e convívio social com amigos e familiares.

Foi possível perceber nos alunos, maior irritabilidade, desânimo, distúrbios do sono e ou/ alimentação.

Os professores por sua vez, também tiveram que se adaptar rapidamente à uma realidade completamente nova, preparando videoaulas, aprendendo a trabalhar com ferramentas tecnológicas e desafiados a serem bastante criativos para capturar a atenção dos alunos. Sem contar que em sua maioria, deram aulas para pessoas que não tinham a certeza de estarem presentes, pois câmeras e microfones geralmente ficaram desligados.

Ambos se sentiram mais cansados e esgotados, tanto físico, quanto emocionalmente, mesmo não havendo o desgaste logístico para o deslocamento até o local de ensino.

As mães por sua vez, especialmente de crianças até 10 anos, ficaram sobrecarregadas, tendo que trabalhar em home office, cuidar da casa, da família e auxiliar os filhos nos estudos.

Não podemos dizer que ninguém gostou deste sistema de aulas, há aqueles que se adaptaram muito bem, mas a rotina de ir para a escola ou faculdade, conversar com os amigos, trocar ideias, dar risadas, brincar, comer junto, entre tantas outras experiências as quais deixamos de ter, fizeram muita falta.

Imagem de Anemone123 por Pixabay

Como lidar com a ansiedade?

Existem muitas técnicas que podem ajudar no equilíbrio emocional, a fórmula é individual, cada um deve encontrar o seu “pacote” antiansiedade.

Seguem algumas sugestões:

  • Praticar alguma atividade física
  • Técnicas de relaxamento como meditação, mindfulness, yoga, técnicas que envolvam o aprendizado da respiração, que auxiliam muito no controle entre mente e corpo
  • Incluir na rotina momentos prazerosos e de lazer, como arte, hobbies, viagens, descanso, conversar com pessoas queridas
  • Buscar mudar hábitos do pensamento – quanto mais pensamentos positivos, mais equilíbrio emocional
  • Cuidar da espiritualidade – independente de religião
  • Autocuidado – tudo o que diz respeito ao corpo e mente, saúde física e emocional, incluindo autoconhecimento

O autoconhecimento é uma ferramenta poderosa, não só nos mentos de crise, mas para maior consciência de si e maior qualidade de vida.

A psicoterapia é um espaço em que a pessoa permite se ouvir e ser ouvida para entender o que está acontecendo com ela e compreender seu funcionamento emocional, com isso, tem a possibilidade de conseguir mudanças de atitudes disfuncionais.

Qual o momento de buscar ajuda profissional?

Quando a ansiedade e o medo estão se mantendo constantes e a pessoa começa a não ter controle dos pensamentos, este é o momento de buscar ajuda de um profissional da área da saúde mental.

O momento de procurar um psiquiatra e um psicólogo não é somente quando a pessoa não está conseguindo realizar a sua rotina diária, como sair de casa normalmente, ou não consegue mais trabalhar, estudar por algum sintoma como angústia, esse é um momento extremo! O ideal é buscar ajuda quando a pessoa percebe o sofrimento. Por exemplo: passa a ter insônia, desânimo para fazer coisas que gosta, para os estudos ou para trabalhar. O quanto antes buscar ajuda, menos danos terá e mais rápido conseguirá a melhora.

A ansiedade tem graus, dependendo do grau apresentado é possível tratar somente com a psicoterapia, e quando muito intensa, há necessidade de uso de medicamentos receitados pelo médico psiquiatra, mas tudo isso é discutido entre o paciente e o profissional para buscar a melhor alternativa para cada caso.

É fundamental compreender que buscar ajuda e revelar à amigos e familiares as suas angústias, não é sinal de fraqueza. A autoaceitação e acolhimento das dores emocionais, trazem menos culpa e mais liberdade para ir em busca de ajuda.

Referências:

SILVA, Ana B. Barbosa – Mentes Ansiosas: o medo e a ansiedade nossos de cada dia, 2ª edição – Editora: Globo/Principium

CURY, Augusto – Ansiedade: como enfrentar o mal do século, 1ª edição, novembro 2013, Editora: Benvirá

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-10 – Organização Mundial da Saúde

Daniela Rodrigues Costa (CRP 06/62393-8) é psicóloga clínica, fundadora da Psicologia da Vila. @danielarodriguescosta

www.psicologiadavila.com.br

Instagram e Facebook: @psicologiadavila

 

Volta às aulas - Anglo Morumbi

A alegria voltou juntamente com os nossos alunos de forma híbrida. Estamos felizes e com muita esperança de que este ano será diferente e muito especial. Estamos atentos e seguindo todos os protocolos de saúde para que tudo seja feito com muito cuidado e segurança.
Bem-vindos!

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