Palavras de sabedoria

Há sempre um amanhã e o amanhã sempre traz um novo amor, mas, acautele-se

Por Bernardo J. B. Figueiredo

Perguntaram-me a idade e respondi: não sei, pois nunca nasci e nem vou morrer, mas a do meu corpo está na idade de trocá-lo por um novo.

Não faça ao outro o que não gostaria que ele fizesse contigo. Ou melhor, faça ao outro o que gostaria que ele fizesse contigo.

Não faça do seu pensamento de agora o seu tirano de amanhã.

Existem três verdades: a que se conta para os outros querendo que acreditem nela, muitas vezes mentirosa; a que se conta para si mesmo, querendo às vezes fugir dela, mas é essa que nos liberta; e a verdade verdadeira…, Mas, essa, só Deus conhece.

Tempo passado é memória como tempo futuro é expectativa, isto porque só existimos no tempo presente de agora.

O CONTO

Meu caro leitor, eu lhe pergunto: acredita que seja em essência esse espírito eterno, que pressente existir em você, cujo corpo ele o vê refletido no espelho?

Eu mesmo respondo, afirmando que somos mais do que esses espíritos que foram aprisionados dentro dos corpos e que são designados por almas. A minha, está nesse momento a escrever esse texto pela força dos seus próprios pensamentos, causado por algo etéreo e inseparável do meu espírito, que aprendi a chamar de consciência inteligente. É ela parte integrante do meu ser, que dá sentido a minha vida, caso contrário esta página ficaria em branco. Somos vidas pensantes, conscientes, inteligentes, plena de sentimentos, prontas para interagir com nossos semelhantes e, quiçá, no futuro, com o Universo por inteiro. Não somos obra do acaso, que a visão materialista nos quer fazer acreditar.

Só o corpo é que se acaba e, segundo as escrituras, é pó e ao pó retornará. A morte é para a vida acontecimento inexorável, sendo questão apenas de tempo. Não há como escapar. O vocábulo morte, no dicionário, significa o fim da vida animal e vegetal e vida, o estado e condição do espírito antes da morte. Vê-se que vida e morte se cambiam, dependendo do lado onde se encontra o observador.

Trocamos de corpo como trocamos de carro, apanhando um novo, zerinho, na concessionária do céu, para rodarmos mais uma vez na estrada da vida. Depois deste, vem outro, mais outro, e assim sucessivamente durante a eternidade.

O corpo não vale nada diante do espírito, mas a morte nos assusta. Todas as religiões, por ato de piedade, pregam a vida eterna em continuidade a nossa, atendendo-nos na ânsia que temos de sobreviver espiritualmente após as mortes. Não suportamos a ideia de encerrar para sempre a nossa vida espiritual como vemos acontecer com o corpo.

Partindo da premissa, desejada por todos, que existe vida eterna para nosso espírito inteligente, faço nova pergunta: nos intervalos das sucessivas mortes, para aonde vão os nossos espíritos inteligentes desencarnados?

Sendo etéreos, fluídicos, intangíveis, fica difícil admitir que morram com os corpos físicos, dissolvendo-se no pó inerte da matéria orgânica, desaparecendo para sempre do cenário do universo, ou seja, deixando de existir. Não seria admissível que o que somos se perdesse na escuridão do nada. Seria uma catastrófica desgraça sem qualquer objetividade. Uma inutilidade sem qualquer significado coerente.

Há que haver um sentido bom para nossa vida espiritual, fora do corpo, senão, não haveria razão dela existir. Dizem os espíritas que nossas almas libertadas dos corpos mantêm suas vidas espirituais e ficarão habitando um espaço que nossos sentidos não conseguem observar, no aguardo do tempo de Deus, que é diferente do nosso, para voltar a reencarnar.

Pode-se afirmar com presciência que não existe corpo sem alma, portanto os espíritos voltam a outros corpos que estão por nascerem, para cumprir os seus carmas e realizar os destinos que lhes são designados de forma tão misteriosa. É assim que as vidas espirituais seguem por toda a eternidade.

Intuímos pela fé, que significa sentimento de certeza sem comprovação, que as almas existem incorporadas nos nossos corpos e que as mortes as libertam deste castigo, retornando-as para a vida etérea e eterna.

Intuir a existência eterna da nossa alma pela fé é ato de pura psicologia sem ainda amparo de evidência científica, portanto cada um vive o seu drama íntimo de credibilidade quanto à própria sobrevivência da alma. Uns mais, outros menos. Certeza, alguns iluminados dizem que têm. Não sou um deles. Minha consciência lógica, filosófica e científica, afirma pelo probabilismo que o espírito existe imbricado no meu corpo, mas não deixa que goze ainda dessa certeza. Não chegou ainda a minha hora de abrir o champanhe.

É axiomático que ganhamos vida ao nascer. Meu raciocínio lógico então me conduz a supor que nasci com todas as páginas do livro da minha vida por escrever, pois nada me lembro de vidas passadas.

Diante deste entendimento, estou a caminhar pela ponte da minha vida, fervilhada de eventos do bem e do mal a me seduzir durante essa peregrinação. Tenho a missão de atravessá-la incólume e por inteira. Meu destino irá encontrar essas tentações pelo caminho, com mais ou menos intensidade, que se digladiarão buscando espaços para enraizarem em meu caráter, para formar a minha consciência inteligente e assim dar-me existência corpórea pensante, na esperança que me aperfeiçoe ou não na direção do bem e da moral.

Para se viver encarnado, adquirem-se ao longo da vida conhecimentos gerais com nossos irmãos em espécie, com os atuais e com os que nos antecederam, para obter cultura e sabedoria, até que, devidamente aculturado e sábio, advém à morte indesejável. Para aonde vai toda essa cultura e sabedoria acumulada? Extinguiu-se com a morte do corpo? Não é coerente desperdiçá-las sem qualquer serventia, o que me faz crer que continuamos vivos, com essas qualidades adquiridas guardadas inatas, mas fluidificadas, nos espíritos. Se isto acontecer, é porque existe vida espiritual após a morte.

Para que haja vida corpórea em convívio social, é presumível que o bem e o mal tenham que existir juntos, exercendo seus antagonismos, para que haja vida prazerosa e ao mesmo tempo sofrida, alegres e tristes, meigas e rudes, verdadeiras e mentirosas, para que, diante destas influências benéficas e maléficas, haja rumos a seguir e histórias a contar e escrever. A cada dia que passa nos tornamos em novo escritor da nossa própria biografia.

Ao nascer, começamos a escrever as nossas vidas guiadas mais pelos instintos. Allan Kardec, em seu livro “A Gênese”, afirma: “O instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a sua conservação. Nos atos instintivos, não há nem reflexão, nem combinação, e nem premeditação”. Adiante exemplifica: “É assim que a planta procura o ar, se volta para a luz, dirige suas raízes para a água e a terra nutritiva; é pelo instinto que os animais são advertidos do que lhes é útil ou nocivo e criam engenhos para prender, na armadilha, a presa da qual se nutrem. Entre os homens, o instinto é dominante no início da vida; é pelo instinto que a criança faz os seus primeiros movimentos, que agarra o seu alimento, que grita e chora para exprimir as suas necessidades”. Essas ações animais instintivos, impensadas, maquinais, se faz intuir com clareza que não emanam do espírito, mesmo reconhecendo que há certa inteligência nelas. Entretanto, deduzo, para explicar sua misteriosa origem, atendendo a minha volição de querer abrir uma brecha para a sobrevivência eterna da alma, que o instinto provém da semente que Deus inoculou nos nossos genes. É por causa destes agentes, destas incontroláveis forças vitais, que nossos corações pulsam e os pulmões respiram, que o sangue corre nas veias e alimentam as células, que produzimos hormônios e processamos o metabolismo, que piscamos para lubrificar os olhos, que movimentamos os braços e pernas para manter equilíbrio e mexer o corpo. Portanto, há que existir certa inteligência inata inserida nestas sementes, se não os corpos não fruiriam vivos, produzindo no cérebro os pensamentos inteligentes e catalogando tudo aquilo que há de valor para guardar na memória, numa orquestração engenhosa de extrema complexidade, que nos faz cogitar que Deus existe como a pedra filosofal, causa primordial motora de tudo que vemos criado e em movimento. Ele é o excepcional engenheiro do universo e ao mesmo tempo responsável por nós.

No início da vida, os atos conscientes produzidos pela inteligência, por si só, sem obter ainda os conhecimentos gerais necessários para desenvolver a vida, se apequenam e pouco pode atuar e contribuir em prol do incremento inicial do nosso ser. Ao longo da vida vão acontecendo as transformações desses valores funcionais. O consciente inteligente ganha sabedoria, conhecimento, memória, se agita e se agiganta, enquanto o instinto apequena os seus reflexos até que ao final da vida, com a morte do corpo, cessam o seu funcionamento enquanto a alma se liberta.

Elucubro esse texto com nexo porque tenho raciocínio lógico e penso. Ora, se penso é porque existo com vida espiritual inteligente. Por fim, diante da proximidade da morte corpórea, o nosso caráter está formado e a alma se posiciona num degrau entre o bem e o mal pronto para a tarefa de desencarnar. É esse o espírito acabado que intuo existir em mim, que formou minha personalidade, o meu “eu”, dotado de vida sobrenatural que se desapossa dos corpos extinguidos pela ação do tempo, que acontecem pelos caminhos das sucessivas vidas, em plena e contínua evolução para obter a bem-aventurança da redenção final.

É óbvio que a minha idade avançada dos 89 anos me levou a cogitar sobre vida além da morte, sobre a gênese do universo, do espírito, do corpo e de Deus. Diante do avanço da ciência microcósmica, da física quântica, não se pode mais denegar a influência dos conhecimentos atuais nestas questões que se referem à sobrevivência da alma. Não se acolhe mais como verdade incondicional a gênese que foi escrita há dois mil anos, numa época de pensamentos rudimentares, diferentes dos atuais. As religiões precisam se adequar ao grau de conhecimento filosófico e científico de hoje. A bíblia, esse conjunto de livros sagrados, foi escrita em parábolas; o Torah, constituído pelos cinco primeiros livros do velho testamento, também. São de interpretações volitivas. Dogmatizados naquela época pelos sacerdotes como verdades inquestionáveis, ditadas por Deus através de seus discípulos. Os avanços da ciência e da filosofia não admitem mais nortear filosoficamente o pensamento religioso do ser humano de agora focado exclusivamente nesses livros sagrados. Foram importantes naquela época e continuam sendo, mas não é tudo. A maravilhosa descoberta do bóson de Higgs, cognominada de partícula de Deus, que conferiu o Prêmio Nobel de 2013 aos seus dois principais descobridores, num investimento de bilhões de dólares, descortinou para a ciência ser a luz o tijolo primordial, a pedra filosofal, que iniciou a construção de tudo que há no universo. É difícil para a nossa alma, encarcerada na vida terrena, aceitar, mesmo pela intelectualidade de hoje, que tudo o que existe no universo são gerados de combinações de fótons, quantum de luz, cujos cenários que vislumbramos são por estas razões ilusórias, construídas pelos limitados sentidos em nosso cérebro. Este recente fato está a retirar alguns véus que encobriam a eternidade e o vislumbre de Deus. São horas de se dar interpretações novas a esses enigmas à luz da modernidade científica. São horas de mudanças filosóficas corajosas, para se chegar mais próximo de Deus. É hora de se introduzir a psicofísica na ciência.

Bernardo J. B. Figueiredo é romancista e autor de “Em busca da eternidade”, conto já publicado aqui na Dolce Morumbi®
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